ANP INTENSIFICA MULTAS POR DESCUMPRIMENTO DE CONTEÚDO LOCAL

florival carvalho2O endurecimento da fiscalização e da política de multas por parte da Agência Nacional de Petróleo (ANP) continua a atingir em peso as companhias do setor. A agência, que apenas neste primeiro semestre já emitiu 15 multas, tem ampliado a cobrança sobre o descumprimento das regras de conteúdo local. Em demonstração da rigidez que seria adotada ao longo de 2015, o órgão regulador multou no início do ano a petroleira britânica BG em R$ 275 milhões, valor que foi reduzido a R$ 193 milhões após a empresa ter desistido de recorrer na justiça. A quantidade de cobranças aplicadas pela ANP recentemente demonstra com clareza a rigidez com que a agência tem pautado sua fiscalização, com um total de multas somado em R$ 315 milhões apenas nos últimos três anos.

A maior parte dessas cobranças tem sido questionada judicialmente pelas empresas, dentre as quais se destaca a Petrobrás, que responde por 42% das multas emitidas no ano passado. A estatal já recebeu, no primeiro semestre deste ano, duas multas no valor de R$ 14 milhões por não entregar o percentual devido de conteúdo local contratado em leilões. O cerco de fiscalização praticado pela ANP, no entanto, não parece ter fim próximo.

Em entrevista ao Petronotícias em janeiro deste ano, o coordenador de conteúdo local da agência, Marco Túlio Rodrigues, afirmou que as cobranças devem continuar enquanto ainda houver descumprimento de regras. “Esse esforço fiscalizatório que estamos fazendo é para mostrar às operadoras que isso não é brincadeira. E quando elas escolhem não cumprir com os compromissos, elas escolhem pagar as multas”, enfatizou ele.

O governo indica que não irá ceder às críticas do mercado. Ao ser intensificada, a política de fiscalização do órgão regulador põe em debate a atual legislação de conteúdo local. A alegação das operadoras é de que os fornecedores brasileiros não estão preparados para atender às demandas, principalmente após os desdobramentos da Operação Lava-Jato. No entanto, muitas empresas brasileiras já mostraram o contrário, algumas entregando inclusive com prazos adiantados e antes de fornecedores internacionais.

O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) vem tentando flexibilizar alguns itens da política e inclusive enviou uma série de considerações ao governo em relação a isso para 13ª Rodada de Licitações, prevista para ocorrer em outubro. O IBP sugere que, em vez de multas, sejam realizados incentivos a empresas que estimularem a cadeia local de serviços e equipamentos. A política local poderia, dessa forma, priorizar o benefício às companhias do setor, por meio de subsídios e desonerações. Segundo o diretor de exploração e produção do instituto, Antonio Guimarães, o país passou por um ciclo de sucesso desde a abertura do mercado até o pré-sal, mas esse processo não deve se prolongar. “Na abertura, o país se posicionou de forma competitiva para atrair investimento. Esse ciclo chegou ao fim”, afirma Guimarães.

O diretor da ANP, Florival Carvalho (foto), constata que têm sido realizados ajustes em regulamentos de fiscalização. “O que a gente está fazendo é vendo na tabela itens em que o conteúdo não se aplica, por mudanças tecnológicas por exemplo. São pequenas mudanças para aprimorar a tabela. Na essência, a política de conteúdo local não muda”, afirma o executivo. Aos olhos do empresariado, porém, os ajustes praticados não são o suficiente. As empresas defendem que o atual momento é favorável à mudança na legislação, por estimular um reaquecimento da economia brasileira.

A tendência, ainda assim, é de que seja mantida a rigidez nas grandes multas aplicadas pela agência. “O governo não vai abrir mão do conteúdo local. Talvez algumas coisas precisem ser aprimoradas, como tudo na vida, mas é uma decisão do governo fortalecer a indústria e aproveitar essas oportunidades. É importante que as operadoras entendam que a política é uma coisa séria”, afirmou Marco Túlio ao Petronotícias. “Uma coisa é certa: quem não atender ao percentual vai receber multa”.

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Prezados Gostaria de saber se o conteúdo local foi abandonado ou se realmente esta sendo colocado em prática pelos órgãos reguladores em nosso País. Especificamente no caso das plataformas brasileiras sob responsabilidade do Grupo Sete Brasil que estão sendo construídas na China. A Lei de Conteúdo Local Está Sendo Aplicada??