ATIVIDADE EXPLORATÓRIA REAQUECE NO BRASIL E RECEBERÁ R$ 6,4 BILHÕES DE INVESTIMENTOS EM 2021, APONTA A ANP
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O ano de 2021 pode ser marcado por uma retomada significativa das atividades de exploração de petróleo no Brasil. Após um dramático 2020, que trouxe uma tempestade gigantesca sobre o setor, o enredo parece ganhar novos contornos, com um clima mais ameno e favorável para a perfuração de novos poços no país. A constatação é da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que lançou nesta semana o seu primeiro Relatório Anual de Exploração [disponível neste link]. O documento traz alguns dados alvissareiros: para o ano de 2021 estão previstos investimentos em atividades exploratórias que superam os R$ 6,4 bilhões. Ao todo, poderão ser perfurados até 38 novos poços – um patamar maior do que o de 2019, antes da pandemia. Para o diretor da agência José Cesário Cecchi, o prognóstico reflete as perspectivas positivas das petroleiras com o futuro da indústria brasileira de óleo e gás.
“Como termômetro da atividade exploratória, está prevista até o final deste ano a perfuração de 38 poços (18 em mar e 20 em terra) nos blocos sob contrato, um número sensivelmente superior aos 16 poços exploratórios perfurados em 2020. Apesar de não haver garantia da realização de tais atividades, estas previsões apresentam uma visão otimista por parte dos operadores, sinalizando a expectativa do início de retomada do segmento de exploração”, declarou o diretor da ANP ao Petronotícias. Cesário lidera a diretoria 2 da agência, que é responsável pela Superintendência de Exploração (SEP).
O relatório da ANP destaca que as atividades de perfuração representarão a maior parcela de investimentos na fase de exploração neste ano, somando mais de 80% dos recursos totais previstos (R$ 5,2 bilhões). Caso esses 38 poços sejam efetivamente perfurados até o final do ano, esse número será o maior dos últimos cinco anos, superando, por exemplo, o ano de 2019 quando foram perfurados 27 poços (8 em mar e 19 em terra).
Questionado por nossa reportagem sobre como a ANP pretende contribuir para esse aquecimento da atividade exploratória, Cesário disse que a agência “seguirá incluindo áreas exploratórias em futuras rodadas de licitações e trabalhando na modernização de seus instrumentos regulatórios, buscando um ambiente transparente e competitivo, capaz de atrair novos investimentos”.
Esse momento de fôlego novo na atividade exploratória em 2021 pode ser o ponto de virada em relação aos últimos cinco anos. De acordo com o relatório da ANP, o total de poços exploratórios perfurados entre 2016 e 2020 representa um patamar “aquém do desejável”, levando em conta o número de blocos sob contrato no período. “Tendo em vista a quantidade de blocos em concessão, havia a possibilidade de perfuração de um número bastante superior de poços, o que poderia ter ensejado em novas descobertas e, quem sabe, o principal objetivo das atividades exploratórias: a incorporação de novas reservas”, analisou o diretor da ANP. No total, ao longo dos últimos cinco anos, foram perfurados 108 poços exploratórios (81 terrestres e 27 marítimos).
“Uma série de fatores influenciam na realização de atividades exploratórias. No caso do Brasil, nos últimos 5 anos sofremos influências negativas do cenário econômico global, intensas oscilações do valor do barril do petróleo, atrasos em processos de licenciamento ambiental e a irrupção da pandemia mundial de coronavírus”, avaliou Cesário. “Por outro lado, cabe destacar o grande potencial geológico e atratividade do Brasil, bem como a realização de diversas rodadas de licitações nos últimos cinco anos, que permitiram que as atividades exploratórias acontecessem, ainda que em volume inferior ao desejado”, acrescentou.
O novo relatório da ANP lembra ainda do contexto da transição energética e do reposicionamento de petroleiras, que agora estão colocando-se como empresas de energia. Diante desse contexto, o documento aponta que o ano de 2020 foi finalizado com 246 blocos sob contrato – o menor número da série histórica abordada na publicação. À exceção do ano de 2018, houve uma redução contínua do número de blocos sob contrato no período.
Ainda assim, no âmbito dos blocos sob contrato, entre 2016 e 2019, houve uma discreta tendência de crescimento anual no número de perfurações. Porém, no mais que esquisito e excêntrico ano de 2020, foram apenas 16 poços exploratórios perfurado, quebrando assim a curva de ascensão da atividade no período.
“Nunca é demais reiterar o papel do setor de óleo e gás brasileiro como vetor relevante para a promoção do desenvolvimento econômico no país. Partindo dessa certeza, sem ignorar a transição energética em curso no mundo, urge reconhecer e reforçar a necessidade de acelerar o número de descobertas em novas áreas, ampliar as reservas e a produção de petróleo e gás natural”, apontou o relatório.
Por fim, a publicação da ANP aponta para bacias de nova fronteira com elevado potencial exploratório, como é o caso das áreas marítimas localizadas na margem equatorial brasileira; em águas ultra profundas da Bacia de Santos, além das 200 milhas náuticas, no play pré-sal; e em águas ultra profundas da Bacia de Sergipe-Alagoas. Para as áreas terrestres, destacam-se as bacias do Amazonas e do Paraná.
“A porção de águas profundas da margem equatorial brasileira, composta pelas bacias de Foz do Amazonas, Barreirinhas, Pará-Maranhão, Potiguar e Ceará, tem grande potencial para se caracterizar como a segunda fronteira exploratória do país, após o pré-sal”, destacou ANP. “Ainda no contexto de expectativas de investimentos exploratórios e novas descobertas em áreas de nova fronteira marítima, também cabe citar as áreas localizadas em águas ultra profundas da Bacia Sergipe-Alagoas, com a perspectiva de acumulações relevantes de óleo e, principalmente, de gás natural”, concluiu a agência em seu relatório.
Deixe seu comentário