CHC FECHA CONTRATO COM A TOTAL PARA OPERAR HELICÓPTEROS NO URUGUAI E FREIA PLANOS NO BRASIL

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –

Ricardo MaltezA empresa CHC, do setor de helicópteros voltados ao segmento offshore, vinha crescendo no Brasil nos últimos anos, mas, como todo o mercado nacional, já sente o impacto da crise brasileira, que afeta ainda mais fortemente a indústria de petróleo. A companhia mantém contratos importantes com a Petrobrás, tendo cerca de 15% de seu faturamento global composto pelas atividades no país, mas já está se adequando ao cenário de menor demanda, fazendo ajustes e um redimensionamento de seu tamanho. O Gerente Geral de Operações da CHC Brasil, Ricardo Maltez, que trabalhou durante 13 anos na Embraer antes de assumir o cargo na subsidiária do grupo canadense, reconhece que as perspectivas não são positivas para o curto prazo, com a previsão de uma queda de dois dígitos na demanda brasileira, mas ressalta que é um momento importante para se aproximar ainda mais dos clientes, como a Petrobrás, e fortalecer a parceria, dando apoio da forma que for possível.

Em paralelo a isso, Maltez afirma que estão ampliando as buscas por oportunidades em outras áreas da América Latina, e já comemora o fechamento de um contrato no Uruguai, com a Total, assinado nos primeiros dias de 2016. “O namoro com a Total no Uruguai vem de muito tempo, mas tem muitas áreas da América Latina que merecem atenção, como a Bacia da Guiana e a Margem Equatorial, por exemplo, assim como o México, onde ainda não atuamos, mas temos uma estratégia de tentar entrar”, conta. A CHC fechou o último ano fiscal, encerrado em abril de 2015, com um faturamento global de US$ 1,7 bilhão, sem discriminar os números relativos ao Brasil, a partir de uma frota de 240 aeronaves. No país, onde fica a base do grupo para toda a América Latina, são 38 em operação, sendo que o número de pessoas transportadas chegou a 500 mil na soma dos últimos 12 meses – a maior parte para a Petrobrás.

Além disso, a CHC conta com quatro bases de operação no Brasil, e vinha traçando planos de construir um novo hangar no aeroporto de Macaé, com investimentos da ordem de US$ 5 milhões. A terraplanagem chegou a ser concluída, mas a crise levou a empresa a engavetar o projeto por enquanto, sem previsão de retomada. “Estamos esperando um pouco o cenário dar uma limpada”, diz Maltez.

Qual é a estrutura da empresa no Brasil?

A CHC no Brasil é uma subsidiária da CHC global, criada a partir da aquisição da BHS, então uma empresa familiar, na década de 2000. Hoje conta com pouco mais de 630 funcionários E representa entre 15% e 20% do grupo. A CHC tem em torno de 240 aeronaves no mundo, em mais de 20 países por todos os continentes, e aqui contamos com quase 40. Nossa estrutura tem uma cobertura ampla sobre a América Latina, cobrindo desde México até as Malvinas, e a liderança é toda feita aqui do Brasil. A razão é por conta do tamanho do nosso mercado. A Petrobrás, por exemplo, é uma das principais clientes a nível mundial. É uma conta-chave.

Continua sendo mesmo com a crise?

Continua. É Um cliente muito estratégico. Aliás, mais do que nunca, ela é o nosso foco. É importante para nós deixarmos clara nossa parceria com os nossos clientes, e no Brasil não tem como não ser parceiro da Petrobrás, que usa cerca de 90% da frota brasileira voltada ao setor offshore. Dos 38 helicópteros que a gente opera no País, a maior parte é para atender à Petrobrás. Hoje também atendemos a Shell, completando um ano de operação agora, no dia 16 de janeiro.

Tem fechado novos contratos na região?

Assinamos um contrato com a Total na primeira semana deste ano, para a fase de exploração de um projeto no Uruguai, bastante distante da costa. Eles nos selecionaram com duas aeronaves Airbus 225 de grande porte, para operação de quatro a seis meses, podendo ser estendido o prazo.

É um contrato muito interessante, porque vamos usar pela primeira vez na América Latina um expertise que é um de nossos carros-chefe, que é busca e salvamento. Cerca de 10% do faturamento global da empresa é relativo a essa área, que já tem atividades no Reino Unido, na Austrália e em alguns outros países. No Brasil ainda não conseguimos esse tipo de serviço, porque isso é feito pelas Forças Armadas.

No Uruguai, além do transporte de passageiros, com aeronaves de grande porte – até 18 pessoas além de piloto e copiloto –, teremos uma aeronave que será back up da primeira e também atenderá a esse serviço de busca e salvamento.

E no Brasil?

A nossa operação é sólida aqui, vai completar 20 anos de operações offshore neste ano. Temos quatro bases locais: uma em Macaé, onde operam vários operadores; uma em Cabo Frio, que é nossa principal; outra em Farol de São Tomé, que é da Petrobrás, mas só nós operamos; e uma quarta em Vitória, onde operamos para a Shell. A de Cabo Frio é a nossa menina dos olhos. Já operamos há alguns anos lá, fazemos voos um pouco mais longos e conseguimos atuar para algumas plataformas do pré-sal. Fizemos um investimento de R$ 42 milhões na base, que virou nosso hub e comporta mais de 10 aeronaves. Ela foi concebida para ter muita eficiência e fazer as manutenções mais pesadas. Fazemos inclusive alguns serviços para a Marinha.

Há planos de expansão de alguma delas?

Nós temos um projeto de construção de outro hangar na de Macaé, onde temos um contrato de longo prazo com a Infraero. Mas no momento colocamos um pouco o pé no freio, dada a conjuntura global, até para ver como vamos trafegar em 2016, como será a demanda das petroleiras etc. Por enquanto, vamos operar mais no hangar atual, mas o plano está pronto para ser iniciado e já fizemos inclusive a terraplanagem da área. Agora estamos esperando um pouco o cenário dar uma limpada.

Quanto seria investido?

A previsão de investimento seria de cerca de US$ 5 milhões, levando um ano a partir do momento em que for dada a partida. Um dos focos da empresa é infraestrutura e hoje estamos num hangar antigo, então faz parte do nosso planejamento estratégico melhorar a infraestrutura lá.

Nesse momento, a busca por negócios em outros países da região tem crescido, por conta da crise brasileira?

O namoro com a Total vem de muito tempo, mas tem muitas áreas da América Latina que merecem atenção, como a Bacia da Guiana e a Margem Equatorial, por exemplo, assim como o México, onde ainda não atuamos, mas temos uma estratégia de tentar entrar. Como só operamos helicópteros de médio e grande porte, não vínhamos trabalhando lá, porque na região do Golfo do México se opera muito com helicópteros de pequeno porte. Mas nós acreditamos que eles devem migrar para áreas de águas mais profundas e vão precisar de helicópteros como os nossos.

Quais são os maiores desafios atualmente no segmento? E como vencê-los?

O primeiro é – e sempre será – manter o nível de segurança. Porque é um mercado que está com bastante turbulência e nós precisamos primar por isso. Já faz muitos anos que a Petrobrás e outros clientes não têm nenhuma fatalidade aqui no Brasil, então a Petrobrás tem investido muito em segurança, o que é uma prioridade para nós. A gente não compete nesse quesito. Nisso a gente troca melhores práticas com todos. A outra questão é nos adaptarmos a uma demanda menor. Claramente vamos passar por um momento em que nosso maior cliente precisa do apoio dos fornecedores, que nesse mercado são apenas cinco competidores, e temos que estar preparados para atender a essa demanda. Se precisar ajustar a empresa, abrir nova base, fornecer algum novo serviço, estaremos prontos.

Quais as expectativas para este ano?

Qualquer ajuste que venhamos a fazer na empresa será feito de acordo com as convenções coletivas. Ainda não sabemos de que tamanho vai ser, mas já estamos preparados para isso há mais de um ano, desde quando começamos a prever que poderia haver essa situação.

Um enxugamento?

Não diria enxugamento, mas sim um dimensionamento adequado. E isso serve também para quando o crescimento retomar. Estamos prontos para voltar a crescer quando for necessário.

Tem alguma estimativa da queda na demanda?

É difícil dizer. A Petrobrás tem falado sobre redução de sondas, mas não poderia arriscar um número com exatidão agora. Com certeza ficará na casa dos dois dígitos.

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