CONSELHO DA ABDAN PREPARA AÇÕES PARA DESENVOLVER CADEIA PRODUTIVA E INCENTIVAR MINERAÇÃO DE URÂNIO NO BRASIL

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

WhatsApp-Image-2020-11-05-at-21.11.25-1A cadeia produtiva do setor nuclear e o segmento de mineração de urânio estão no alvo de ação da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan). O Conselho Curador da entidade se reuniu virtualmente nesta semana para discutir novas medidas de fomento a essas duas áreas. Durante o encontro, foram apresentadas sugestões que visam apoiar startups e incubadoras, criar laços com outros setores da economia (como o de óleo e gás), facilitar qualificação de fornecedores, além de incentivar a pesquisa e a lavra de minério de urânio. Essas e outras propostas farão parte do novo planejamento da Abdan, que será finalizado até o primeiro trimestre de 2021. Para conhecer os detalhes das propostas apresentadas durante a reunião, conversamos com os dois vice-presidentes do conselho curador da associação, Carlos Leipner e Orpet Peixoto. Além disso, também ouvimos o presidente da Abdan, Celso Cunha, que fez um balanço muito positivo do evento: “Ao final, foi unanimidade que esta foi uma das melhores reuniões, não só da Abdan, mas de todas que esses conselheiros participaram, pela forma como o encontro foi produzido e planejado”. Cunha falou ainda da nova conselheira da Abdan, a física e pesquisadora Patrícia Wieland, que tomou posse do cargo durante a reunião: “Só temos a agradecer pela sua chegada ao conselho, pois ela tem muito a contribuir, devido a sua grande experiência [no setor]”.

Este é o primeiro ano do Conselho Curador da Abdan, criado para pensar e elaborar diretrizes para a associação e o setor nuclear do Brasil. O órgão é presidido pelo Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante Marcos Sampaio Olsen. Na reunião desta semana, os conselheiros analisaram um paper sobre alternativas para desenvolver a cadeia produtiva local da indústria nuclear do país. O trabalho foi apresentado por um dos vice-presidentes do colegiado, Carlos Leipner. Para o executivo, o setor nuclear brasileiro vive um momento muito dinâmico e isso oferece uma oportunidade de crescimento, como um instrumento estratégico para o Brasil.

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Almirante Olsen

Mas, para crescer, é preciso superar antes alguns desafios. Leipner cita alguns deles: “Primeiro, temos uma dependência de fornecedores estrangeiros. Mesmo tendo um setor nuclear estabelecido há décadas, somos dependentes de fornecedores estrangeiros em alguns pontos da cadeia. Isso resulta em custos elevados por conta do câmbio, da complexidade de logística, do transporte, etc.”, declarou. O executivo lembra ainda de outros gargalos como a necessidade de atrair mais investimentos e a escassez de fornecedores para determinados segmentos. “Por fim, existe a reforma regulatória que precisamos ter no setor, para abordar os riscos de projetos. A criação da agência regulatória nuclear é fundamental. Apoiamos muito essa iniciativa”, disse.

Para superar esses desafios e expandir a nossa cadeia local de fornecedores, o trabalho apresentado por Leipner  apontou quatro recomendações. A primeira diz respeito ao reforço da infraestrutura da cadeia produtiva. Para tal, algumas medidas são necessárias, como incentivo a startups e incubadoras dentro do setor nuclear. Além disso, outra alternativa é buscar sinergias com outros setores da economia, como o automobilístico e o de óleo e gás.

“Temos uma tendência de querer desenvolver tudo ‘dentro de casa’. Mas seria interessante trazer oportunidades de lições aprendidas e ideias de outros [setores]. Isso é um tema que está em destaque em outros países, como o Canadá. O leque de potenciais fornecedores é muito maior. O setor nuclear precisa de válvulas, motores e outros equipamentos. São itens que não são únicos de nosso setor”, avaliou Leipner. Ainda falando no desenvolvimento de infraestrutura da cadeia, outra sugestão é a implementar feiras de fornecedores específicas para empresas âncoras da indústria nuclear, como Eletronuclear, INB, Amazul, Nuclep e outras.

Carlos Leipner

Carlos Leipner

A segunda grande recomendação para a cadeia local produtiva é qualificar os fornecedores brasileiros de forma mais célere. “O processo de qualificação é desafiador do ponto de vista técnico e também demanda custos por parte do fornecedor. A ideia é replicar um modelo que existe na América do Norte, no qual as operadoras juntam forças para qualificar fornecedores. Isso otimiza o processo de qualificação e o custos”, detalhou.

As terceira recomendação apresentada por Leipner foi o desenvolvimento de um programa de capacitação, com um banco de dados de profissionais. “Temos muitos experts no Brasil que não são muito bem conhecidos, mas podem contribuir muito. Precisamos agrupar esses técnicos e profissionais”. Por fim, a última proposta foi sobre o desenvolvimento tecnológico do setor: “Necessitamos desenvolver um roadmap tecnológico, voltado aos gargalos tecnológicos que possuímos, visando a nacionalização de algumas tecnologias, processos e produtos”.

AÇÕES VISANDO A RETOMADA E EXPANSÃO DA MINERAÇÃO DE URÂNIO NO BRASIL

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Orpet Peixoto

Além do paper sobre a expansão e fortalecimento da cadeia produtiva, os conselheiros discutiram também as propostas apresentadas em outro trabalho, apresentado por Orpet Peixoto. Nele, foram apontadas alternativas para a flexibilização e comércio no mercado de minério de urânio do Brasil.

Peixoto lembro que dentro do âmbito do Ministério de Minas e Energia, estão sendo criadas algumas medidas, como o Programa de Dinamização do Setor do Minério de Urânio. A iniciativa visa a retomada da prospecção de urânio no território nacional, que está parada desde 1995; e o retorno da produção da INB em suas minas, seja em Lagoa Real ou em Caetité.

Ainda dentro do escopo do programa do MME, uma ação prevista é a alteração da legislação, de maneira a permitir que empresas privadas tenham melhores condições de participar do projeto de lavra e comercialização de urânio. “O Brasil precisa alterar a legislação de maneira a propiciar um incentivo às empresas privadas. A legislação atual deixa algumas inseguranças e traz dificuldades para os agentes privados”, opinou Peixoto.

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Celso Cunha

Para ajudar a dinamizar a mineração de urânio no Brasil, o Conselho Curador da Abdan sugeriu à diretoria executiva da associação algumas ações: “Uma delas, por exemplo, é a promoção da pesquisa e da lavra do minério nuclear, de forma a fomentar que essa pesquisa volte a ocorrer no território nacional. Outra ação proposta foi apoiar a INB na obtenção de recursos financeiros, visando a retomada de produção de minério”, destacou o vice-presidente do conselho.

Além disso, de acordo com Peixoto, há ainda a sugestão para apoiar, junto ao legislativo e ao executivo, o novo modelo de flexibilização do setor, que está sendo desenhado pelo Ministério de Minas e Energia. Depois de aprovada a nova legislação, a meta da Abdan será difundir as informações da lei e incentivar parceiros a iniciarem projetos junto com a INB.

As nossas metas voltadas à pesquisa do território nacional e o retorno da operação das minas da INB já licenciadas estão no escopo de 2020-2021. Já em relação às novas leis e o novo marco regulatório, essas são metas de médio prazo e provavelmente vão ocorrer entre 2021 e 2023”, concluiu.

PATRICIA WIELAND ASSUME COMO NOVA CONSELHEIRA DA ABDAN

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Patricia Wieland

Para lembrar, noticiamos em abril a criação do Conselho Curador da Abdan. O objetivo do grupo é desenvolver diretrizes, traços e caminhos para a associação e o setor nuclear como um todo. O conselho foi montado à época com 20 pessoas de relevância da indústria e que não fazem parte das empresas associadas à entidade.

Antes da reunião dessa semana, os conselheiros da associação receberam previamente os papers sobre a cadeia produtiva e o setor de mineração de urânio. Isso ajudou no debate, pois os participantes tiveram tempo para analisar e refletir sobre os trabalhos, cada um com cerca de 30 páginas. O grupo também apresentou sugestões de ações aos trabalhos, que serão incorporados no novo planejamento estratégico da entidade, previsto para o primeiro trimestre de 2021.

Ao final da reunião, foi unanimidade que esta foi uma das melhores reuniões, não só da Abdan, mas de todas que esses conselheiros participaram, pela forma como o encontro foi produzido e planejado”, comemorou o presidente da associação, Celso Cunha. “Os papers apresentados serão revisados, juntamente com as sugestões. Isso irá para o board da Abdan. Até pensamos e transformar isso em uma sequência de books, que poderão contribuir para formação de políticas públicas”, adicionou.

O Conselho Curador da Abdan ganhou também um reforço. A física e pesquisadora Patrícia Wieland, que atualmente é consultora da World Nuclear University (WNU), tomou posse do cargo durante a reunião. “A Patrícia é uma profissional de renome. Só temos a agradecer pela sua chegada ao conselho, pois ela tem muito a contribuir devido a sua grande experiência”, comentou Cunha.

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