CUNHA DIZ QUE JANOT ESCOLHEU QUEM INVESTIGAR E CHAMA PROCESSO DE “PIADA”

Eduardo CunhaO presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (foto), aproveitou seu tempo de apresentação no depoimento na CPI da Petrobrás para abrir fogo contra o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Cunha leu todo o documento elaborado pelo procurador, rebatendo os pontos em que ele aparecia citado e questionando o pedido de abertura de inquérito, que chegou a chamar de “piada”. Uma das principais críticas dele foi em relação às acusações feitas pelo ex-policial Jaime Alves, que afirmou em delação premiada ter levado dinheiro à casa de uma pessoa ligada a Cunha.

O presidente da Câmara rebateu a acusação, afirmando que não conhece a casa em questão e que não tem relação com o advogado dono da residência, criticando a ligação de seu nome em função de relações passadas do advogado com a família Picciani, próxima de Cunha dentro do PMDB do Rio de Janeiro.

Cunha afirmou que Janot “escolheu” quem iria investigar, dizendo que houve contradição no arquivamento do pedido de investigação contra o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que teria indicado Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobrás.

“Colocar de uma forma irresponsável e leviana, por escolha política, alguém para investigação é criar um constrangimento para transferir a crise do lado da rua para cá, e nós não vamos aceitar”, disse.

Outra acusação lida por Cunha na Câmara foi relativa à delação do doleiro Alberto Youssef, que disse ter havido pagamentos de propinas para integrantes do PMDB, “notadamente Eduardo Cunha”, em um contrato de aluguel de um navio plataforma da Samsung para a Petrobrás. No depoimento, o doleiro diz ainda que o processo foi intermediado pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e que, em determinado momento, a Samsung interrompeu o pagamento das “comissões”, levando o operador das propinas, Fernando Soares, a deixar de receber e repassar os valores. Com isso, segundo Youssef, Eduardo Cunha apresentou representações em uma comissão da Câmara pedindo informações à Petrobras sobre as empresas Toyo e Mitsui, como forma de “pressionar” pela retomada dos pagamentos.

Cunha rebateu a acusação, dizendo que a questão poderia ter sido averiguada pelo site da Câmara “em menos de meia hora”, onde veriam que as representações citadas foram feitas por outros dois deputados: Solange Almeida (PMDB/RJ) e Sérgio Brito (PSD/ BA). A deputada Solange Almeida foi aliada de Cunha nas eleições de 2014, mas o presidente da Câmara nega que a relação dos dois tenha se estendido a outros fatos, como o do requerimento citado.

“Não se pode confundir eventuais apoios políticos na eleição de 2014 com requerimento de 2011 da deputada, no exercício legitimo do seu mandato, que prevê a fiscalização de atos do Poder Executivo, notadamente na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Como posso saber ou ser responsável pelos requerimentos apresentados em diversas comissões por qualquer deputado? Querer atribuir a mim a responsabilidade de atos legítimos do exercício de mandato de cada um é uma tentativa de forçar a barra”, afirmou Cunha em seu próprio site, antes da ida à CPI, onde reafirmou o posicionamento.

ELOGIOS

Após a apresentação inicial de Cunha, os deputados começaram a fazer comentários e foi aberto o tempo para perguntas, mas reinaram os elogios. Ao invés de ser questionado pelos integrantes da comissão sobre as acusações de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás, o presidente da Câmara de Deputados recebeu aplausos e elogios, tanto da oposição quanto da base aliada. Poucos foram os que destoaram dessa postura.

“Queria parabenizar o presidente da Casa pelo desprendimento, espírito público e por conta própria ter se prontificado a prestar esclarecimentos à Casa e à nação. Vossa excelência tem, do PR, total confiança”, declarou o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), seguido de outros discursos similares.

As críticas ao depoimento de Cunha ficaram por conta de alguns poucos deputados federais, como Ivan Valente (PSOL-SP) e Clarissa Garotinho (PR-RJ). A deputada fluminense chegou a chamar de “vergonhosa” a sessão, e afirmou ter visto uma “reunião de felicitações” ao invés de um inquérito. E realmente essa foi a impressão que prevaleceu.

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