EMPRESA FRANCESA INVESTE NO MERCADO BRASILEIRO DE ENERGIA SOLAR E PLANEJA FABRICAR EQUIPAMENTOS NO PAÍS

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Orestes Goncalves Ciel TerreCom o avanço da geração de energia fotovoltaica e as novas tecnologias em desenvolvimento, quase toda grande superfície sob o sol passou a interessar a essa indústria. É com este olhar que a francesa Ciel Terre chega ao Brasil, após a formação de uma joint venture com a Sunlution, para o desenvolvimento de projetos solares no país, principalmente com o foco na geração híbrida, quando se aproveita uma área ociosa ocupada por uma usina para ampliar sua capacidade de geração com a integração de outra fonte. A empresa, que produz as estruturas flutuantes para os painéis solares, está sob o comando do sócio-diretor Orestes Gonçalves no Brasil, e já tem contratos com a Chesf e a Eletronorte, para a instalação de painéis nos reservatórios das usinas de Sobradinho e Balbina. “O Brasil, que tem um parque bastante expressivo de hidrelétricas e usinas eólicas, tem um excelente potencial para geração híbrida. É possível fazer uma expansão bem expressiva, com investimento marginal e baixo impacto ambiental”, afirma Gonçalves.

A Ciel Terre possui uma fábrica na França e outra no Japão, além de unidades no Reino Unido, nos EUA e na China, e começou a ampliar seu escopo também para a América Latina, inicialmente pelo Brasil. O executivo conta ainda que grandes empresas do agronegócio e de saneamento básico presentes no mercado nacional já demonstraram interesse e as negociações estão avançando. “Com a legislação brasileira de geração distribuída, vemos boas oportunidades”, completa.

Qual o foco da Ciel Terre atualmente no mercado de energia solar?

Nós estamos posicionados em geração solar flutuante, que são estruturas plásticas que acomodam o painel fotovoltaico, compondo uma ilha que se conectará ao sistema elétrico nacional. A Ciel Terre desenvolveu essa tecnologia há cerca de 11 anos e atua com ela comercialmente há seis anos.

Quais são os principais mercados?

Temos atendido fortemente aos mercados europeu e asiático, e agora estamos explorando o Brasil e os Estados Unidos. No caso europeu e asiático, são vários projetos em dois mercados principais: saneamento básico e agricultura irrigada.

E em reservatórios de hidrelétricas?

Em hidrelétricas, por lá, ainda não. Está mais na parte de lagos de saneamento e fazendas irrigadas, mas vai começar a ter bastante na China.

O que motivou a vinda da Ciel Terre para o Brasil?

Estamos olhando o mercado brasileiro em três frentes: hidrelétricas e PCHs; o mercado eólico, fazendo geração híbrida (a partir da instalação de placas solares nas áreas ociosas dos parques); e no setor de saneamento básico, com fazendas irrigadas. Com a legislação brasileira de geração distribuída, vemos boas oportunidades.

Quais os diferenciais da tecnologia da Ciel Terre?

Essa tecnologia tem dois atributos interessantes. Um é garantir uma melhor produtividade em relação às placas fotovoltaicas convencionais, porque elas não conseguem trabalhar em altas temperaturas – quando se perde cerca de 20% de produtividade –, enquanto na água isso não ocorre. O segundo atributo é a redução da evaporação de até 70% da água nos reservatórios das hidrelétricas quando cobertos pelo flutuador plástico e os painéis, o que aumenta a garantia energética da usina.

Como avaliam o potencial de geração híbrida no Brasil?

É muito mais eficaz usar duas fontes numa única infraestrutura, porque você aproveita o sistema de transmissão já estabelecido. O Brasil, que tem um parque bastante expressivo de hidrelétricas e usinas eólicas, tem um excelente potencial para geração híbrida, tanto de solar e eólica quanto de solar e hidrelétrica. É possível fazer uma expansão bem expressiva, com investimento marginal e baixo impacto ambiental.

Como é a estrutura global da Ciel Terre?

Ela é francesa, de Lille, ao norte do país. O desenvolvimento da tecnologia foi feito todo na França, e ela acabou explorando alguns outros mercados. Hoje, a companhia tem uma fábrica na França e outra no Japão, e agora vamos produzir no Brasil também. Tem escritórios no Japão, Reino Unido, Estados Unidos e China, além de nós no Brasil.

O que prevê a parceria com a Sunlution para a atuação em solo nacional?

Formamos uma joint venture olhando o potencial de mercado no Brasil e ao mesmo tempo verificamos que, com o regramento atual, apesar da crise nacional, há um potencial elevado, e há um interesse grande, principalmente por companhias globais de agronegócio e de concessões de saneamento básico, em utilizar essa tecnologia.

Qual o cronograma para a construção da fábrica nacional?

Na verdade, nós terceirizamos o projeto de fabricação. Pegamos toda a capacidade ociosa no Brasil e estamos alocando a demanda para a produção dos equipamentos. Já começaremos a fabricação na metade de agosto, iniciando em Camaçari. Se a demanda for para o Sudeste, vamos para São Paulo. Se for para o Sul, vamos para o Rio Grande do Sul. Mapeamos possibilidades de fazer a fabricação e vamos distribuir de acordo com a demanda. Toda a fabricação é acompanhada pelos nossos técnicos, com as devidas certificações, porque tem que ter o peso correto, a espessura correta, a inclinação correta etc.

Qual a previsão de investimentos no País?

Se a demanda corresponder à nossa expectativa, estimamos em que três anos devemos aplicar cerca de R$ 30 milhões a R$ 35 milhões.

De onde virão os recursos para o investimento?

Estamos tentando trabalhar basicamente com recursos próprios neste primeiro momento. As taxas de juros aqui ainda penalizam um pouco, então por enquanto seguimos assim.

Já têm encomendas para atender com a unidade?

Fomos contratados pela Eletronorte e pela Chesf para desenvolver um projeto de 5 MW nos reservatórios da hidrelétrica de Balbina e 5 MW nos da usina de Sobradinho. Temos também outras demandas do setor de fazendas irrigadas e de pequenas centrais hidrelétricas. Mas ainda não posso mencionar, porque estamos finalizando as negociações.

Qual a expectativa da empresa no curto e no longo prazo?

No curto prazo, é apresentar a tecnologia e demonstrar o quão segura, razoável e econômica ela pode se mostrar como geração de energia. A vantagem é que essas comprovações já ocorreram em países da Europa e da Ásia, o que nos traz uma segurança grande. No longo prazo, é nos estabelecermos como parte da indústria solar no Brasil.

Estamos investindo conforme a demanda, mas a expectativa é que haja uma procura expressiva, nos alocando como indústria em diversas regiões do país. Para o ano que vem, estamos esperando um faturamento de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões, e, em 2018, acreditamos que deva dobrar ou crescer até 2,5 vezes. Fizemos um estudo de mercado e o potencial é muito grande. 

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