FÁBRICA DE STARTUPS LANÇARÁ PROGRAMA PARA INCENTIVAR PROFISSIONAIS QUE QUEIRAM EMPREENDER EM ÓLEO E GÁS
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Presente no Brasil há cerca de três anos, a aceleradora corporativa Fábrica de Startups pretende ampliar ainda mais seus laços com o setor de óleo e gás do país. Responsável por fomentar a inovação aberta em empresas como Shell, Subsea 7 e SBM Offshore, a aceleradora agora prepara um novo programa focado em executivos que queiram empreender dentro da indústria de óleo e gás. De acordo com o CEO da Fábrica de Startups, Hector Gusmão, a iniciativa deve ser lançada no mercado até o final deste ano. “A Fábrica de Startups e alguns outros players do Rio de Janeiro estão envolvidos nisso”, contou. Em paralelo, a Fábrica também lançou recentemente um projeto focado na transição energética e descarbonização, chamado “Next Zero”, trazendo startups para fomentar a inovação no setor de óleo, gás e energia. “Estamos aproximando hubs globais e diferentes players que se interessem por transição energética e descarbonização. O objetivo é construir uma agenda de estratégia muito importante, aproximando as startups brasileiras e estrangeiras que querem fazer negócios dentro dessa pauta de transição”, comentou Gusmão. O entrevistado também fez um balanço da atuação da Fábrica de Startups no setor de óleo e gás até aqui, falou das perspectivas sobre o futuro e pontuou ainda quais são os desafios que o Brasil precisa vencer para incentivar o desenvolvimento de novas startups.
Com tem sido a atuação da Fábrica de Startups dentro do setor de óleo e gás?
Começamos a nossa história no Brasil em 2018. Naquele ano, fizemos um programa de ideação para engajar empreendedores e estimular a criação de startups durante o IBP Tech Week 2018. Logo em seguida, trouxemos um cliente que foi a Sistac, maior empresa de manutenção de plataformas offshore. Depois, em novembro do mesmo ano, inauguramos nosso espaço no Rio de Janeiro e, a partir de então, passamos a operar com mais robustez aqui no Brasil. Na sequência, assinamos com a Shell, SBM Offshore e Subsea 7. Então, em suma, temos uma história bem atrelada ao setor de energia. Acho que tivemos uma boa capacidade de sensibilizar essa indústria sobre como a inovação aberta e as startups podem apoiar seus respectivos processos de transformação.
O ano de 2019 foi marcado por muita sensibilização por parte da indústria de óleo e gás, que trouxe seu corpo de funcionários para interagir com as startups. Entre 2019 até o início de 2020 vimos muitos negócios acontecendo entre as cooperações e startups. Porém, com a pandemia, esse negócio começou a esfriar já que as empresas focaram em seus core business, em virtude da sensibilidade no preço do barril e da crise da covid-19. Em 2021, os negócios voltaram a ganhar agilidade e estamos capturando valor ao retomar a relação com as empresas de óleo e gás.
Quais são as iniciativas mais recentes da Fábricas de Startups com foco no setor de óleo e gás?
Somos um dos fundadores do MIT REAP Rio de Janeiro, que é uma iniciativa que usa uma metodologia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) para transformar o ecossistema fluminense na maior referência global em energia e sustentabilidade.
Além disso, lançamos no mês de julho uma iniciativa focada na transição energética e descarbonização, chamada Next Zero, trazendo startups para fomentar a inovação no setor de óleo e gás e energia. Tivemos conversas muito intensas com o setor de óleo e gás sobre como poderíamos trazer o ecossistema de startups para ajudar nos desafios de transição energética.
O Next Zero é programa multi corporate de longo prazo, que vai engajar diferentes players que se interessem pelo tema de transição energética. Então, estamos falando aqui de indústrias como a de automóveis, energia, óleo e gás, entre outras. O objetivo é trazer esses diferentes players para discutir estratégias, mapear os principais desafios em comum e engajar os empreendedores para trazerem soluções.
Como a indústria de óleo e gás tem lidado atualmente com o tema de inovação aberta? Esse processo está em alta no setor?
Por conta da pandemia e do desafio do preço do óleo, percebemos que muitas empresas pausaram seus programas de inovação. É claro que algumas companhias fizeram diferente e decidiram seguir, como é o caso da Petrobrás. Nessa mesma linha, a Ocyan construiu uma vice-presidência de transformação digital e inovação. Então, algumas empresas passaram por cima da pandemia e tiveram consistência em seus programas de inovação aberta. Isso é muito positivo, porque essas são empresas de renome que, certamente, influenciarão outras.
Contudo, muitas companhias pausaram seus processos de inovação aberta e só começaram a retomar essas iniciativas neste ano, ainda de forma tímida. Temos muita expectativa que esse processo volte a acelerar o quanto antes. Uma pesquisa interessante sobre a indústria como um todo revelou que as empresas que mantiveram seus programas de inovação durante a crise global de 2008 conseguiram crescer 10% em comparação com as demais empresas. Após três anos, aquelas corporações passaram a crescer 30% a mais do que estas que deixaram de inovar.
E as startups brasileiras? Em que situação elas se encontram neste momento?
O ecossistema inteiro de startups está em uma crescente. Hoje, estima-se que existam 450 startups relacionadas à Indústria 4.0. Quando falamos de startups de energia, especificamente, esse número gira em torno de 200. A boa notícia é que a maioria dessas cerca de 200 startups estão no segmento de energia renovável.
Existe, portanto, um envolvimento crescente. Admito que ainda é um movimento tímido se comparado com outros centros, o que é natural. Eu diria que existem três grandes desafios para começarmos a perceber mais volume e qualidade de startups no Brasil.
Quais são esses desafios?
O primeiro é exatamente o papel das corporações, fomentando o capital de risco a olhar para as energy techs. Como essa é uma indústria regulamentada e, ao mesmo tempo, a maior parte das startups do setor de energia são B2B [business to business], as grandes empresas precisam abraçar esse segmento. Dessa forma, o capital de risco viria junto, ao entender que existem oportunidades.
O segundo desafio é que existe uma questão de regulação de ordem prática. Quando falamos das agências de regulação das indústrias de óleo e gás e energia, existe aqui uma evolução constante. Mas, ainda assim, precisamos passar a enxergar ainda mais as startups, para que o capital de pesquisa e desenvolvimento chegue aos empreendedores, encorajando-os a abrirem startups. Ou seja, não estou falando de pesquisa básica, mas sim sobre transformar ideias e pesquisas em negócios.
O terceiro e último ponto é a educação. Os engenheiros e profissionais de óleo e gás estão muito ancorados em trabalhar para uma grande empresa ou no campo de pesquisa. Eles ainda não têm a visibilidade e o conhecimento para empreender. O time da MIT REAP tem trabalhado em algumas ideias para ajudar, cada vez mais, as pessoas que queriam empreender no segmento de energia.
Quais são as novas iniciativas que a Fábrica de Startups planeja lançar para incentivar a inovação aberta e o empreendedorismo?
Bom, em primeiro, falando do macro, o nosso trabalho do MIT REAP é muito estruturante. A ideia é como fazer o ecossistema do Rio de Janeiro se desenvolver nessa pauta de energia e sustentabilidade. Então, estamos falando de incentivos que possam fomentar o mercado do Rio de Janeiro. Grandes players grandes desse ecossistema, como Petrobrás, Furnas, Vibra e Coppe estão conosco no MIT REAP.
Um segundo ponto é que, nos próximos meses, vamos lançar junto com o time do MIT REAP um grande programa mais escalável, visando a formação de uma centena de empreendedores e pesquisadores que queiram empreender no setor de energia. A Fábrica de Startups e alguns outros players do Rio de Janeiro estão envolvidos nisso. Nossa ideia é lançar esse programa até o final do ano.
Fora isso, como comentei antes, temos o Next Zero. Essa é uma iniciativa bem ampla, que conecta players de nível global. Já fechamos parceria com o Parque Tecnológico da China e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), por exemplo. Estamos aproximando hubs globais e diferentes players que se interessem por transição energética e descarbonização. O objetivo é construir uma agenda de estratégia muito importante e aproximando as startups brasileiras e estrangeiras que querem fazer negócios dentro dessa pauta de transição.
Estamos buscando constantemente os players de óleo, gás e energia. A Fábrica de Startups pode estruturar as jornadas de inovação desses players e auxiliá-los no processo de transformação digital. Esperamos em breve conseguir anunciar algumas novas empresas que desenvolverão esses programas conosco. A Fábrica de Startups já conseguiu consolidar no Rio de Janeiro essa posição protagonista do setor de energia que quer olhar para esse ecossistema de inovação aberta.
Materia excelente, é muito bom ver empresas desenvolvendo soluções para a area de petróleo e gás