GE ESTÁ DE OLHO NOS PRÓXIMOS LEILÕES DE ENERGIA NO BRASIL E TEM GRANDES PERSPECTIVAS PARA SETOR EÓLICO ATÉ 2025
A General Electric (GE) está com perspectivas otimistas e animadoras de novos negócios no Brasil para este ano e os próximos. Em conversa com jornalistas, executivos da companhia revelaram os planos e objetivos da empresa americana para os segmentos de geração térmica a gás, eólica e hídrica. Hoje (31), vamos mostrar os trechos de mais destaque desse encontro, começando pelas perspectivas da companhia para o Novo Mercado de Gás Natural no Brasil. O diretor executivo da GE Gas Power América Latina, Daniel Meniuk (foto), afirma que já vê novos movimentos no setor e acredita que, nos próximos dois anos, será possível ver a construção de novas usinas térmicas no interior do país. No curto prazo, Meniuk detalha que o foco da GE será o fornecimento para os empreendimentos que serão contratados nos leilões de energia previstos para 2021 (A-3 e A-4 em junho; e A-5 e A-6 em setembro). Enquanto isso, o líder de vendas de Hydro da GE Renewable Energy, Eduardo Cardoso, declarou que a empresa enxerga potencial no Brasil para o desenvolvimento de hidrelétricas de tamanho médio. “Essas usinas de porte médio trazem um impacto ambiental muito reduzido e ficam mais próximas ao centro de carga. Vale a pena que isso entre no contexto do PDE [Plano Decenal de Energia]”, sustentou. Já o diretor de vendas de Wind na GE Renewable Energy, Mauricio Vieira, destacou que o grupo prevê uma grande demanda por novos aerogeradores no Brasil até 2025, já que há um forte movimento de grandes consumidores migrando do mercado regulado para o livre. Vieira e o líder Comercial da divisão de Grid Solutions, Gilton Peixoto, falaram ainda das perspectivas da companhia para o segmento eólico offshore no Brasil.
Poderia falar como a empresa está vendo nosso setor de gás natural? Como esperam se enquadrar e participar desse novo mercado de gás?
Daniel – A abertura do mercado de gás, que estávamos esperando há bastante tempo, já está acontecendo. Eu estou otimista. Acho que os primeiros movimentos da Petrobrás, com o compartilhamento de infraestrutura de escoamento de gás, começaram a movimentar o mercado. Algumas empresas já se posicionaram e estão acelerando projetos para os quais tínhamos dúvidas se vingariam ou não. Alguns ativos na área de gás offshore já estão se tornando viáveis.
As operadoras de gasoduto de transporte já começaram a fazer contratos para escoamento do produto para dentro do país. Isso destravará um sinal locacional do mercado. Hoje, as térmicas estão todas no litoral. No entanto, no futuro, quando o gás chegar mais competitivo ao interior, poderemos ver uma geração competitiva essas regiões. Ainda é muito cedo para vermos uma movimentação de interiorização desse tipo nos leilões deste ano. Mas, talvez, em um ou dois anos, isso pode começar a se tornar realidade.
A molécula local de gás natural servirá não só para geração termelétrica, mas também para o desenvolvimento da indústria do país. Com a molécula mais barata e competitiva, será possível fomentar outras indústrias que dependem de energia e do gás.
E como a GE vê a perspectiva de aumento da contratação de termelétricas dos próximos anos?
Daniel – Há dois sinais que, basicamente, são os mais relevantes. O primeiro é a demanda e o segundo é a competitividade de preço. Então, do ponto de vista de demanda, se o país voltar a um cenário de crescimento, certamente haverá mais demanda por contratação de capacidade de fontes renováveis e termelétrica. Normalmente, isso acontece em uma proporção de dois para um. Ou seja, a cada 2 GW de renovável contratados, você tem 1 GW de termelétrica contratada.
Nesse ano, pela primeira vez, o Brasil está recontratando usinas térmicas. Várias companhias já tem ativos que podem ser recontratados. Antes, a recontratação era por um ou dois anos. No leilão de junho, haverá a recontratação dessas plantas por 15 anos. Será uma energia competitiva, com preço e combustível competitivos sendo recontratados, com despachabilidade no nosso sistema. Eu acredito que seja esse o caminho.
Olhando para a perspectiva de curto prazo, qual será o foco da unidade Gas Power da GE no Brasil?
Daniel – Do ponto de vista de gás, estamos trabalhando duro com nossos clientes. Estamos muito próximos dos players de mercado, preparando-nos para os próximos dois leilões neste ano. Estamos falando não só de novas plantas, mas também da nossa base de clientes que têm usinas em operação e querem melhorar a performance dos seus ativos.
A GE está trabalhando junto com seus clientes para o que chamamos de upgrades, que são novas tecnologias de combustão e capacidade de geração, com o objetivo de ganhar competitividade nesse próximo leilão. Então, são essas as duas frentes de ação. Estamos trabalhando com uma série de clientes nessas áreas, com foco nos leilões deste ano e dos anos subsequentes. Em 2021, a expectativa é que haja alguma demanda.
No ultimo PDE, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aponta uma perspectiva pequena de crescimento de hidrelétricas na próxima década. No entanto, há destaque para um potencial grande de modernização e repotenciação. Como avaliam esse cenário?
Eduardo – Obviamente, para garantir a maior inserção de fontes intermitentes, como a eólica e a solar, é necessário ter uma rede que aguente as oscilações e forneça os serviços que garantam uma rede estável e viva. As térmicas e as hidrelétricas têm esse grande papel de fornecer esses serviços.
A expansão hidrelétrica no Brasil foi feita em décadas passadas, mas ainda há espaço para um nicho de unidades novas, que são usinas médias. Entendemos que ainda há espaço para isso no Sul, no Sudeste e no Centro Oeste. Vemos também algum potencial em regiões estratégicas, como Roraima. Essas usinas de porte médio trazem um impacto ambiental muito reduzido e ficam mais próximas aos centros de carga. Vale a pena que isso entre no contexto do PDE.
De fato, nós não prevemos uma grande expansão [da fonte hidrelétrica], alinhado com o que foi colocado no PDE. Mas é importante que as usinas [hidrelétricas] novas garantam a expansão de fontes não despacháveis.
Do outro lado, existe um portfólio vasto de possibilidades de reformas e repotenciação. As grandes hidrelétricas têm projetos de décadas passadas. Com o avanço de softwares e tecnologias, a utilização da potência da água é muito melhor hoje do que há 40 anos. Então, vale a pena esse tipo de investimento. É preciso ter adequação de regulação e remuneração, para que os geradores se sintam atraídos por esse investimento. Então, a repotenciação é, de fato, algo muito promissor. É o que enxergamos no pipeline.
Poderia também falar como avaliam a demanda do mercado brasileiro por novos aerogeradores?
Maurício – Apesar de o Brasil ter cancelado leilões [em 2020], a contrapartida disso é a movimentação do mercado livre. Realmente, há uma grande migração do ambiente regulado para o mercado livre. São grandes consumidores vislumbrando a oportunidade de implementar os projetos entre 2021 e 2024 para aproveitar a questão da TUSD [Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição].
Acompanhamos as emissões de DRO [requerimento de outorga] na Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Há muitos projetos com pedidos de outorga. Claro que nem todos vão se viabilizar, mas vemos uma demanda muito grande por aerogeradores até 2025. A GE vem preparando sua capacidade fabril para atender a essa demanda.
E em relação às eólicas offshore? Gostaria de conhecer quais são as perspectivas da GE em relação a essa tecnologia no Brasil.
Maurício – O wind offshore é uma área estratégica para a GE. Nós somos líderes nesse segmento. Temos uma plataforma de 13 MW, com rotor de 220 metros. Além disso, já temos alguns contratos que foram anunciados para a Europa e Estados Unidos. Enfim, é um segmento de wind para qual a GE tem dedicado atenção e investimentos.
Quando falamos de Brasil, já estamos prontos para a tecnologia ofertar aqui. Até o momento, não fomos demandados. Entendemos que o offshore vai acontecer no Brasil, mas não sei se na mesma velocidade de outros países. O momento offshore vai chegar ao Brasil no médio e longo prazos.
Gilton – Além de gerar energia offshore, precisamos fazer a transmissão para a costa. E para ressaltar, essa é uma tecnologia que a GE também tem. Normalmente, essa transmissão é feita em HVDC [Corrente contínua em alta tensão], utilizando a tecnologia VSC [Voltage Source Converter]. Neste ano, fomos contemplados com o projeto no Reino Unido, que se chama Sofia, para conectar 1.320 MW na costas Norte da Inglaterra. É um projeto que fica a uma distância de 220 km da costa, conectado através da tecnologia HDVC-VSC. Esperamos ansiosamente que isso chegue ao Brasil. É uma tecnologia bastante interessante.
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