EX-DIRETOR DA PETROBRÁS APONTA MELHORA NA GESTÃO COMO FATOR DETERMINANTE PARA AVANÇO DA INDÚSTRIA NACIONAL

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –

josé formigliEm tempos de cortes de investimentos e baixas demandas, a cadeia brasileira de óleo e gás enfrenta hoje a ameaça constante de ter novos projetos levados para fora do país. A competitividade é pauta central para as empresas do setor, que vêm buscando ampliar sua atratividade e nivelar suas operações frente aos preços praticados no mercado internacional. O momento exige que a indústria nacional aprimore pontos fundamentais como gestão de recursos e investimento em tecnologia, segundo o ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, José Formigli, que enxerga a necessidade das empresas arcarem com suas próprias responsabilidades para que haja uma melhora na competitividade do país. Atuando hoje como consultor na área de óleo e gás, Formigli afirma que a estatal deve ter tido motivos para relegar suas plataformas a estaleiros chineses e que as companhias brasileiras precisam se preparar para praticar a política de preços adotada em âmbito internacional. “Não adianta pensar que vamos sempre ter barreiras artificiais para que as empresas possam praticar custos diferentes aqui dentro em relação ao resto do mundo”, aponta o executivo, que defende que sejam feitas novas “calibrações” na regra de conteúdo local e prevê que o cenário de baixo preço do barril de petróleo deve se manter ainda pelos próximos três anos. “Quem não olhar para o seu negócio e fizer uma nova administração, aportando tecnologia e racionalizando recursos para ficar competitivo, vai sofrer muito esperando que o preço do petróleo volte”.

O senhor avalia que a recessão tem estimulado o investimento em tecnologia?

Qualquer empresário que queira ser competitivo em condições internacionais não pode abdicar de investir em tecnologia, porque o competidor estrangeiro vai estar investindo. Não adianta pensar que vamos sempre ter barreiras artificiais para que as empresas possam praticar custos diferentes aqui dentro em relação ao resto do mundo.

Como aumentar a competitividade do setor de petróleo no Brasil?

Há várias razões para os custos aqui serem diferenciados. Recentemente, as associações do setor entregaram ao Ministério de Minas e Energia uma agenda de ações que demonstram interesses convergentes entre diversas cadeias, mostrando o que precisa ser feito para que o Brasil se torne mais competitivo.  Mas é fundamental ter em mente que nenhum país pode ser bom em tudo. Hoje temos uma indústria de suprimento de óleo e gás que é muito competitiva em alguns segmentos, mas nem tanto em outros. Esses outros precisam olhar para si próprios e pensar o que pode ser feito para resolver isso.

E como impedir, no atual momento, que mais projetos sejam levados ao exterior?

É importante perguntar por que não está se conseguindo fazer no país. As plataformas da Petrobrás estavam contratadas no Brasil, mas não dá para esperar por essas unidades eternamente. Não dá para aguardar uma melhora do mercado para que elas sejam finalmente concluídas. A Petrobrás deve ter as razões dela para precisar fazer parte de suas plataformas no exterior. Não vou comentar isso porque não sou mais da empresa.

Quais são as perspectivas para o próximo ano? A crise deve se intensificar?

Em termos de oferta e demanda, as projeções indicam que ainda vai ter um período de sobreoferta no mercado. Os estoques de petróleo, que hoje já são grandes, tendem a continuar crescendo por mais algum tempo, até que o impacto desse menor lucro se transforme em um declínio da produção. Só então vai haver uma oferta menor que vai se cruzar com a curva de demanda. Mas não acredito que isso vá acontecer nos próximos meses. A indústria tem que se adaptar a um cenário de preços em torno de US$ 40 a US$ 60 pelos próximos dois ou três anos. Quem não olhar para o seu negócio e fizer uma nova administração, aportando tecnologia e racionalizando recursos para ficar competitivo, vai sofrer muito esperando que o preço do petróleo volte.

O senhor esteve na OTC Brasil deste ano. Ela  ficou aquém da expectativa?

Para o atual momento, a feira foi muito boa. Recentemente algumas feiras foram canceladas na Noruega e nos Estados Unidos. Se você pensar que o preço do petróleo caiu mais de 50% e ainda assim conseguimos colocar nessa edição quase dois terços da audiência do ano retrasado, quando o preço estava acima de US$ 100, isso é um grande marco. Eu diria essa deve ter sido uma das maiores feiras este ano no mundo, considerando o preço do petróleo.

O senhor  acha que o governo tem sido receptivo às sugestões da indústria?

Eu entendo que, se houve esse recebimento da agenda por parte do ministro, eles vão analisar. O resultado disso cabe perguntar à ANP e ao Ministério, não tenho esse conhecimento. Os problemas que dependem do governo e de órgãos reguladores precisam ser atacados, mas a indústria também precisa resolver seus próprios problemas. Ela precisa fazer esses diagnósticos e cuidar deles.

A sinalização de mudança do conteúdo local está inserida nesse cenário?

A política de conteúdo local é nitidamente uma política do governo para proteger o parque brasileiro, mas é preciso ter as calibrações adequadas para que a velocidade da implantação dos projetos seja coerente com a capacitação técnico-gerencial da indústria brasileira. Esperamos que o governo continue fazendo o papel dele de organizar isso da melhor forma possível.

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MandacaruAlexandreTranscontrol Ltda Recent comment authors
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Prezado Luigi,tive a felicidade de trabalhar na Petrobras,da qual sou aposentado,e ter vivido no setor de nacionalização, década de 70/80,onde foram feitas muitas nacionalizações, as quais ajudaram o nosso Pais a ter o desenvolvimento que teve.Sob a minha visão,embora paguemos volores mais alto do que o importado,desde que o produto seja tecnicamente garantido,o dinheiro fica no País,gera emprego,paga-se o imposto devido.O que vivemos é falta de patriotismo e honestidade.
Se possível gostaria de possuir o novo Email do Eng.Formigli

Alexandre
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Alexandre

Gostaria de entender como estes profissionas se tornam consultores. O ex-diretor de E&P da Petrobras sempre foi muito elogiado na questão técnica. Sabemos também que um diretor da Petrobras é um cargo muito político. Agora estranho o fato de que neste momento que a companhia está em dificuldade ele diga: “não vou comentar mais isso porque não soumas da empresa”. Ok? Mas neste momento ninguém vai admitir que contribuiu para esta situação financeira péssima em que se encontra. É muito fácil vir e dizer o que acha depois de anos e anos de decisões erradas, falta de enfrentamento do próprio… Read more »

Mandacaru
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Mandacaru

Se a redação me permite, vou de carona no comentário. Também tive a felicidade em viver este período, não pela Imponente Petrobrás, mas como empreiteiro representando os maiores estaleiros nacionais. O pioneirismo do movimento de nacionalização de itens importados, foi o então Presidente João Batista de Figueiredo e logo abraçado pelos pequenos e grandes empresários. Surgiram fabricantes de luminárias tipo IP-55, Eexd em latão, (SELNAV), Válvulas em todas as dimensões e serviços, a Ishikawajima fabricava painéis elétricos e até motores de combustão interna, sob licença da Sulzer/Pielstick/Daihatsu, os motores MAN, vinham de Taubaté, a CEC passou a fabricar Guinchos e… Read more »

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Invocando aos verdadeiros conhecedores da historia em construções marítimas, vai aqui uns itens desenvolvidos e praticados nas antigas construções maritimas… Quem se lembra do “cabometro”, inventado pelo supervisor S2-Bezerra em 1979, hoje patenteado e comercializado pela industria. Quem sabe a origem e para que serve o “tubo Teixeira”, amplamente delineado e fabricado na Verolme, “Holandesa”, pois o que se viu após o escandalo divulgado pela imprensa na venda, valores e forma de pagamento foi matéria da “Isto É”… Landsberg-1985, Paulo Kós-1987 e Tanure/Manelão-1989, foi só derrota! As decisões passaram a ser tomadas em Yatch Club e cruzeiros pela baia de… Read more »