INDÚSTRIA NUCLEAR FICA FRUSTRADA COM POSICIONAMENTO DO GOVERNO

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Altino VenturaO Secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, deve estar com a orelha quente até agora, depois de ter dado palestra para os principais executivos da área nuclear brasileira, nesta quarta (14), durante o V Seminário Internacional de Energia Nuclear, no Rio de Janeiro. Todos esperavam que o secretário desse uma posição mais firme do governo em relação ao avanço do programa nuclear, mas a apresentação foi focada no longo prazo, com muito mais tempo de fala voltado às hidrelétricas. Quando saiu, diversos executivos lamentaram a não permanência do político e se disseram frustrados com a aparente falta de interesse do governo pela retomada efetiva do programa.

Já pelo título da apresentação de Altino – “A opção térmica necessária: nuclear a longo prazo” -, alguns presentes se mostraram desconfortáveis. O setor se manifestou em peso, após a saída do político, ressaltando que a necessidade da decisão de construção de novas usinas deverá ser tomada agora, para que não haja riscos à garantia de energia no futuro, já que o período de licenciamento e construção de uma usina leva em torno de 10 anos (cinco para licenciar e cinco para construir).

O secretário comentou durante sua apresentação o histórico do programa nuclear nacional, iniciado na década de 70, com a previsão de oito usinas até 1990, destacando que a fonte é necessária para o avanço do país, mas incluiu a geração nuclear no mesmo pacote do gás e do carvão mineral. Para ele, o potencial hidrelétrico brasileiro é ainda de 150 mil MW, o que deve ser esgotado em 2025 do ponto de vista do planejamento. Como complementaridade da matriz, que deve migrar do modelo hidrelétrico para hidrotérmico (com uma maior participação das termelétricas), deverão ser incluídas novas usinas a gás, carvão e nucleares, mas o secretário não trouxe nenhum dado novo para que estas últimas saiam do papel.

Um executivo da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) questionou dados presentes nos slides mostrados por Altino, em que o plano energético previa um aumento na geração do país em 80 mil MW, numa tabela em que os atuais 2,7% de participação da energia nuclear seriam mantidos. O profissional do órgão regulatório ressaltou que para isso seriam necessárias novas usinas e perguntou quantas seriam ao secretário do MME, mas Altino se atrapalhou para responder, dizendo que uma coisa se tratava de capacidade instalada e outra de entrega de energia, e acabou reconhecendo que talvez houvesse algum “arredondamento” naqueles números.

Outro executivo presente, que se apresentou como membro da Eletronuclear após a saída de Altino do auditório, fez um pronunciamento veemente, se dizendo extremamente frustrado com o que fora apresentado e com a posição do governo, recebendo aplausos da plateia.

Ao final, o secretário da Associação Brasileira de Energia Nuclear, Rogério Arcuri Filho, fez coro com o executivo da Eletronuclear, afirmando que o Ministério de Minas e Energia parece não dar o valor à energia nuclear que deve ser dado.

“Enquanto o Brasil não tiver uma política nuclear clara, a gente não vai andar”, completou.

Após o evento, empresários e profissionais do setor comentavam entre si que 2014 deve ser um ano parado para o setor nuclear, em função das eleições, mas ainda assim esperam que alguns novos passos possam ser dados, como o avanço no processo da escolha dos locais onde deverão ser construídas as novas usinas nucleares e a decisão pela tecnologia que deverá ser utilizada.

O vice-presidente da Abdan, Ronaldo Fabrício, que já presidiu Furnas e a Eletronuclear, também discursou no seminário, ressaltando a importância da agilização no processo de decisão de avanço no programa nuclear nacional. Ele reiterou a posição do setor, afirmando que o prosseguimento com o plano é pauta urgente para o governo. “Isso não pode ser depois. A decisão tem que ser tomada agora, para que não haja risco ao abastecimento energético do país no futuro”, disse.

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