MERCADO REAGE COM INDIGNAÇÃO A DECISÃO DA PETROBRÁS EM CANCELAR OBRAS DA UTGCA HÁ POUCOS DIAS ANTES DA ENTREGA DAS PROPOSTAS

VFFVFVVFAs decisões da direção da Petrobrás, comandada pelo atual presidente Roberto Castello Branco (foto), parecem um cachorro caído de caminhão de mudanças. Uma nau sem rumo. O maior exemplo disso foi o cancelamento da licitação da UTGCA, anunciado na noite desta sexta-feira (4), há 25 dias da entrega das propostas. A empresa decidiu interromper o desenvolvimento do projeto de adequação de infraestrutura da Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA), em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, 9 meses e 26 dias depois do lançamento do edital. O comunicado do cancelamento foi lacônico, com justificativas inconsistentes e uma espécie de pronto e acabou-se. Se gostou é desse jeito, se não não gostou é do mesmo jeito. O que se sabe no mercado é que a empresa teria decidido injetar mais gás no Campo de Búzios e com isso não teria gás suficiente para operar a nova unidade.

FPSO NO CAMPO DE BÚZIOS

A Petrobrás mudou em alguns aspectos, mas a velha arrogância e prepotência continuaram como pilares firmes da companhia. Nada foi levado em consideração ao se tomar uma decisão dessas.  Nenhum respeito ao mercado. O trabalho de centenas de profissionais, engenheiros, técnicos, das diversas empresas envolvidas no estudo, elaboração das propostas, o investimento das companhias em um ano terrível, depois de seis anos de operação lava jato, que quase destruiu por completo a engenharia brasileira. Não houve  sensibilidade. O prejuízo para as empresas que acreditaram no edital, na palavra da estatal, é enorme.

Segundo o comunicado feito ao mercado, “A decisão foi tomada devido à perda de atratividade econômica do projeto, avaliada à luz das premissas do Plano Estratégico 2021-2025.” Além disso, a  estatal  decidiu cancelar as licitações associadas que atenderiam ao projeto. “A Petrobrás reforça seu compromisso com a geração de valor de seu portfólio e com sua estratégia.” Vale ressaltar que em seu Plano Estratégico para o período de 2021 a 2025, divulgado na última semana, a companhia ainda destacou sua pretensão de eliminar a lacuna de desempenho que a separa dos concorrentes internacionais de óleo e gás.

QAQAAAQAQPara lembrar, a Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA – foto à esquerda) está instalada no município paulista de Caraguatatuba e  tem capacidade para processar diariamente até 20 milhões de m³ de gás natural, oriundo de diversas plataformas, interligadas à Plataforma de Mexilhão (PMXL-1), instalada a cerca de 140 quilômetros da costa. De lá, o produto chega à UTGCA por meio de um gasoduto. O gás processado na UTGCA dá origem a três produtos: o gás natural, que tem uso industrial, residencial e veicular.  O GLP (gás liquefeito de petróleo ou gás de cozinha); e o C5+ (condensado), parte líquida do gás. Depois do processamento na UTGCA, outro gasoduto, o Gastau, leva o gás natural até a cidade de Taubaté (SP), onde é lançado na malha de gasodutos da Petrobrás, seguindo para distribuição. O C5+ segue em carretas até a Refinaria Henrique Lage (Revap) em São José dos Campos (SP). Já o GLP, desde dezembro de 2015, passou a ser enviado para São José dos Campos por meio do oleoduto Caraguatatuba-Vale do Paraíba (Ocvap I). E o  Ocvap II  exporta o  C5+ através de oleoduto.

Está circulando uma indignação no mercado, deixando as empresas que estavam nesse processo perplexas e sem compreender as razões. Não houve LPPLPLPLplanejamento e estudos para se decidir fazer a obra? O planejamento e o estudo não valeram? A situação é semelhante há alguns outros casos, como a construção do gasoduto do Parque das Baleias (foto à direita), no Espírito Santo. Uma situação tão ruim quanto essa. Depois de abrir as propostas e eleger um contestado vencedor, a Petrobrás virou as costas e simplesmente cancelou tudo. Os investimentos que as mais de 30 empresas que participaram da licitação fizeram, foram  jogados no lixo. Dinheiro pelo ralo. Constrangimento pela incompetência? Nenhum. No caso da UTGCA, quanto foi gasto pelas empresas analisando, fazendo engenharia, orçando e movimentando outras parceiras?  Logo uma enorme cadeia foi criada. Há empresas internacionais envolvidas na elaboração das propostas. Profissionais viajando ao Brasil da África do Sul, de Houston, Dubai, Inglaterra, Espanha, Portugal. Empresas internacionais usando todos os recursos, inclusive contratando a engenharia brasileira com todo seu escopo.  Advogados, tradutores, busca de financiamento, logística  etc.

Recentemente, a Petrobrás distribuiu aos seus fornecedores cadastrados  um longo questionário para saber se as suas empresas fornecedoras tinham compliance. As perguntas obrigavam as empresas a se despirem, fazer revelações particulares, criando um constrangimento único. Essas  empresas, sejam de qualquer tamanho, precisam investir para ter esta certificação. Se não, serão cortadas do cadastro da Petrobrás. No fundo, a estatal está reforçando o nicho de um novo negócio no Brasil, o de certificações de compliance. E consolidando uma velha atitude da companhia no mercado: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.”  A atitude que a empresa tomou ao cancelar uma licitação depois de quase dez meses de lançada,  certamente não pode atender ao seu próprio compliance. Apenas pelo tamanho do desrespeito com suas empresas parceiras.

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