PARTICIPAÇÃO FEMININA NA INDÚSTRIA DA ENERGIA AVANÇOU NOS ÚLTIMOS ANOS, MAS AINDA EM MARCHA LENTA

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

materia-8-marcoO Petronotícias abre o noticiário desta quarta-feira com uma reportagem especial. Hoje (8), Dia Internacional da Mulher, celebra-se a importância feminina na sociedade, bem como os avanços conquistados por elas ao longo das últimas décadas. Dentro da indústria de energia, as mulheres estão cada vez mais presentes, mesmo que ainda esse setor seja majoritariamente liderado por homens. Ao longo dos últimos anos, a presença feminina nos segmentos de óleo, gás e energia cresceu substancialmente. Ainda assim, esse percentual é, de maneira geral, bem tímido. A diferença de salários é outro problema importante. Para tratar das conquistas alcançadas até aqui e dos desafios futuros para ampliar ainda mais a participação feminina na indústria energética, o Petronotícias convidou cinco profissionais para compartilharem suas impressões – Heloisa Borges (EPE), Karine Fragoso (Firjan), Renata Isfer (Interalli), Patricia Wieland (ENBPar/ABDAN) e Daniela Santos (SG Advogados). As entrevistadas comemoram as iniciativas recentes que visam atrair mais mulheres para o mercado. No entanto, elas enxergam que esses movimentos de igualdade de gênero ainda estão em marcha lenta e que há espaço para mais ações nesse sentido.

heloisaHeloisa BorgesDiretora de Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE.

Como vê a evolução da presença feminina nos setores de óleo, gás e energia?

É inegável que avançamos, mas de forma lenta. A indústria de óleo e gás ainda conta com menor participação feminina (em geral e em cargos de liderança).

Segundo a Agência Internacional de Energia, embora tenhamos visto um aumento constante da participação feminina na indústria na última década, os salários das mulheres ainda são, em média, 19% inferiores ao de homens que ocupam as mesmas posições na indústria de energia e menos de um quinto das posições de liderança na indústria de energia são ocupadas por mulheres.

O que ainda falta para aumentar a participação das mulheres no mercado?

É importante que as empresas de fato percebam que elas estão perdendo com a falta de diversidade. E façam isso na prática, não apenas no discurso. Questões como a equiparação da licença maternidade com a licença paternidade, horários flexíveis, critérios objetivos para promoção de funcionários são importantes. Mas a igualdade de gênero (e mais além: inclusão e diversidade) devem ser valores das empresas, que permeiam todas as suas ações.

Estudos de várias consultorias sugerem uma falta de mobilidade e oportunidades na carreira para as mulheres que trabalham na indústria de energia em comparação com outros setores, o que afeta a atração e a retenção de uma força de trabalho diversificada. Programas de incentivo são importantes, mas é fundamental que os ambientes de trabalho sejam de fato inclusivos e compreensivos.

FIRJAN KARINEKarine Fragoso, Gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan.

Como vê a evolução da presença feminina nos setores de óleo, gás e energia?

É evidente que a voz feminina está mais potente em diversos segmentos do mercado de energia. Nos reconhecemos por resiliência e competência, e nos encontramos nos mais distintos temas. Mas há muito o que avançar e conquistar. A voz que toma a decisão ainda é majoritariamente masculina, portanto ainda existe muito espaço a ser ocupado. Por isso, a percepção de que somos mais fortes hoje,  nos empurra para ampliarmos nossa presença com consciência e coragem.

O que ainda falta para aumentar a participação das mulheres no mercado?

Acredito que a indústria, por aqui, começa a ter a percepção do quanto podemos colaborar nas distintas pautas desse complexo mercado. Muito do que era aceitável no passado é repudiado hoje. Que bom! Evoluímos como sociedade. Mas ainda existem muitas diferenças locacionais e organizacionais. Cada uma de nós tem uma história e teve seus enfrentamentos para poder sorrir na foto. Hoje é dia de celebrar e tomar impulso!

renata-isferRenata Isfer, fundadora da Interalli Gás e Energia e cofundadora do “Projeto Sim, Elas Existem!”, que busca dar visibilidade às mulheres do setor de energia.

Como vê a evolução da presença feminina nos setores de óleo, gás e energia?

A presença feminina no setor de energia ganhou muito destaque no debate público, mas ainda falta aplicar na prática a diversidade. A gente dá dois passos pra frente, um para trás, em um ciclo de marcha lenta, que levará mais de 100 anos para alcançar a equidade. Apesar do avanço de ter esse assunto pautado, é momento para “walk the talk” e mudar esse cenário.

O que ainda falta para aumentar a participação das mulheres no mercado?

Para aumentar a presença feminina no mercado precisamos atuar desde a infância, incentivando as meninas em áreas que hoje ainda são vistas como masculina, muito embora as mulheres tenham igual capacidade nelas, como a matemática, a física, a química e tantas outras áreas do saber. Além disso, é importante que as mulheres tenham referências de líderes femininas no setor, que mostrem que é possível chegar aonde quiser. E para termos mais lideranças, precisamos de uma vontade ativa de todos, de realmente priorizar a diversidade.

patricia-2-1024x790-2-300x231Patricia Wieland, presidente em exercício do Conselho de Administração da ENBPar e conselheira da ABDAN.

Como vê a evolução da presença feminina nos setores de óleo, gás e energia?

Nunca estamos 100% preparadas para o próximo passo, mas encaramos o futuro confiando na nossa capacidade de identificar riscos, resolver crises e aprender com fracassos e sucessos. A mulher se supera quando combina lógica, força e decisão com a sua intuição, empatia e resiliência.

Na escalada profissional, a cada degrau ficamos mais fortes e confiantes para aceitar novos desafios. Quando menos esperamos, surge o momento de tomar a decisão entre sair da zona de conforto ou abraçar uma oportunidade para fazer  o mundo melhor. Eu sempre escolho a última.

O que ainda falta para aumentar a participação das mulheres no mercado?

O Brasil já avançou muito com o aumento significativo da presença feminina no setor de energia, principalmente nas faculdades de engenharia e em campo. Entretanto, esse movimento é mais tímido nos alto cargos das empresas. Creio que este panorama irá melhorar a medida que os homens se acostumem com a presença de mulheres e reconheçam a grande oportunidade de trabalhar com profissionais competentes e versáteis.

Me entristece saber que em alguns lugares do mundo as mulheres ainda são impedidas de estudar e de realizar-se profissionalmente. Pior ainda quando sofrem violência doméstica.

Quem se sente forte o suficiente para encarar uma maternidade, pode tudo nessa vida.

Imagem do WhatsApp de 2023-03-07 à(s) 12.27.15Daniela SantosSócia fundadora da SG Advogados.

Como vê a evolução da presença feminina nos setores de óleo, gás e energia?

Senti uma grande evolução nos últimos anos. Mulheres passaram a ser mais atuantes em fóruns públicos de discussão de temas relevantes para o setor. E também, ainda que de forma tímida, passaram a ocupar cargos mais altos nas empresas e entidades.  É isso tem gerado um excelente retorno para o setor.

O que ainda falta para aumentar a participação das mulheres no mercado?

Precisamos seguir em frente com as iniciativas que já existem, mas avançar sempre. Hoje é inconcebível um evento que não conte com mulheres como palestrantes. Empresas devem se estruturar para receber mulheres. Há listas disponíveis com nomes de mulheres aptas a ocupar cargos de liderança. A formação de novas profissionais e também uma importante forma de garantir o aumento da nossa participação no mercado. Porque nunca se tratou de falta de competência. Mas de oportunidade/espaço. E quanto mais mulheres destacadas, maior será o ganho para empresas, governo e entidades.

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