PRÉ-SAL VAI EXIGIR TECNOLOGIAS INOVADORAS PARA CONSTRUÇÃO DE NOVAS LINHAS DE DUTOS

Paulo Fernandes, presidente da Liderroll.

Paulo Fernandes, presidente da Liderroll.

A necessidade logística para movimentação de derivados de petróleo a partir do leilão do Campo de Libra, assim como a expansão da produção do pré-sal, vai demandar investimentos significativos nos próximos anos. E, mais do que isso, exigirá uma releitura e uma consequente modernização do Regulamento Técnico de Dutos Terrestres para Movimentação de Petróleo, Derivados e Gás Natural, da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Conhecido como RTDT, este regulamento é relativamente recente, de fevereiro de 2011, mas não prevê a possibilidade, por exemplo, de novos e modernos métodos construtivos de dutos existentes nos países que detém as maiores produções de petróleo no mundo.

A nossa legislação não prevê, por exemplo, a construção de oleodutos e gasodutos aparentes, que significam mais economia, melhor capacidade de manutenção, monitoramento com alta tecnologia, preços três vezes menores e com tempo de construção também três vezes menor. A Agência Nacional de Petróleo até promoveu encontros com a participação de especialistas no assunto, inclusive da diretora-geral, Magda Chambriard, que ouviu as sugestões, mas oficialmente ainda não se pronunciou.

A explosão de um oleoduto da Sinopec recentemente na China, que matou mais de 50 pessoas e deixou cerca de 200 feridas, acendeu o sinal amarelo e trouxe a lembrança dos dias ruins que o Brasil viveu durante o maior vazamento na Baía da Guanabara, no ano 2000. Um acidente que ainda hoje tem passivos a serem recuperados.  Na China, as investigações sobre as causas da explosão estão chegando perto de um grupo que vendia combustíveis roubados diretamente de dutos enterrados. Um fenômeno conhecido aqui no Brasil, mas pouco divulgado também.  Esse tema tem gerado uma grande preocupação, principalmente na Transpetro, maior responsável pela rede de dutos e o transporte de derivados no país.

Recentemente, em entrevista exclusiva ao Petronotícias, o diretor de operações da ASME, Timothy Graves, falou que a pouca infraestrutura no Brasil, aliada à enorme  demanda, deverá gerar uma onda de inovação no país. Este tema será tratado na próxima edição da IPG – International Geotechnical Conference, em abril de 2014, em Florianópolis, Santa Catarina. Graves também destacou que um grupo de trabalho está desenvolvendo uma lista de práticas recomendáveis para o gerenciamento de riscos ambientais que afetam dutos na América do Sul e destacou a empresa brasileira Liderroll como um destaque que pode ajudar o Brasil nessas soluções.

A American Society of Mechanical Engineers (ASME – Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos, em tradução livre), fundada em 1880, é uma das maiores fornecedoras de certificados e padrões de segurança para a indústria de óleo e gás mundial. Com mais de 130 mil membros, espalhados por 150 países, a instituição fica sediada em Nova York, nos Estados Unidos, e está ampliando sua atuação na América do Sul, em vista da expansão da indústria regional.

Tim Graves, diretor de operações da ASME.

Tim Graves, diretor de operações da ASME.

A malha dutoviária brasileira é muito pequena, em relação ao tamanho de seu potencial de produção e distribuição de óleo, gás e biocombustíveis. A sua rede não chega a 7.200 km de oleodutos e 7.330 km de gasodutos, segundo os dados oficiais da Transpetro.  A Rússia, por exemplo, possui 62 mil km de dutos e os Estados Unidos, 322 mil km de dutos para transporte de derivados de petróleo. Com a produção do pré-sal, os números brasileiros serão insuficientes. E é preciso agir rápido para não acabarmos tropeçando no menor e mais fácil dos itens logísticos (dutos terrestres) frente os desafios da produção de petróleo a 7 mil metros de profundidade e a 300 quilômetros da costa.

Em recente seminário em Hannover, na Alemanha, a tecnologia brasileira criada pela Liderroll para o lançamento de dutos em ambientes confinados e transposição de maciços, pântanos e serras, foi o destaque principal da apresentação do engenheiro alemão Philipp Elsner, da empresa Babendererde Engineers, especializada neste tema.  Elsner considerou a solução da Liderroll combinada com o uso de tuneladoras (máquinas especiais utilizadas para a escavação de túneis), uma tecnologia do futuro no processo de construção de dutos em ambientes confinados, que virá a viabilizar muitos projetos hoje engavetados pela dificuldade e pelo custo de execução pelo método convencional, anterior ao da Liderroll – um processo ainda inédito no mundo, que já foi usado duas vezes pela Petrobrás. Uma no Gasduc III e outra no túnel de 5,1 km do Gastau, que corta a Serra do Mar, em São Paulo, levando o gás do Campo de Mexilhão até Taubaté (SP), para ser processado na Refinaria Henrique Lage (Revap).

O Petronotícias ouviu o presidente da Liderroll, Paulo Fernandes, que no início do ano passado esteve com a diretora Magda Chambriard e uma equipe multidisciplinar da ANP, apresentando suas sugestões para acelerar o processo de construção de novas linhas de dutos:

“O Brasil está num momento de ter que chamar a responsabilidade para a construção de novos dutos. Há neste momento duas novas refinarias sendo construídas: o Comperj e a Rnest, e temos que planejar o futuro”, disse Fernandes.

Como a ANP recebeu as suas propostas?

Creio que muito bem.  A minha proposta de construção de dutos aparentes é a saída mais rápida e mais barata, convergindo com as necessidades financeiras atuais do sistema Petrobrás. Esta minha posição inclusive foi a base e o tema até mesmo de uma monografia de pós-graduação, aprovada com grau “A”, da primeira turma de especialistas em regulação da defesa da concorrência em petróleo, gás e biocombustível que a ANP contratou junto à UFRJ, a qual consolidou a comprovação de todos os  seus benefícios. Ela está lá. É só pegá-la e por a mão na massa.

Existe uma discussão sobre segurança dos dutos aparentes. Eles realmente são seguros?

Eu não tenho a menor dúvida. Há tecnologias capazes de monitorar uma dutovia permanentemente, online, evitando qualquer tipo de risco. O monitoramento pode ser feito por satélite, por sistemas acústicos de detecção de vazamentos que indicam com precisão de metros qualquer pequeno vazamento ocasional ou intencional, por imagens ao vivo, etc. Como acontece nos grandes países produtores, que não podem enterrar seus dutos por problemas climáticos. Os benefícios do controle de corrosão e manutenção das linhas são uma vantagem a mais. O uso de suportes por roletes especiais que desenvolvemos proporcionam um enorme conforto para as linhas, sem risco de deformação da tubulação, eliminam a corrosão pontual e não causam estresse para a linha, sem falar nas vantagens para o meio ambiente e a possibilidade de uma manutenção muito mais barata. Esta é uma discussão que precisa ser levada adiante.

O diretor de desenvolvimento da Liderroll, Hugo Trevisan, com o engenheiro alemão Philipp Elsner, da empresa Babendererde Engineers.

Philipp Elsner, engenheiro da empresa Babendererde Engineers.

A construção de uma rede de dutos aparentes quebraria um paradigma no Brasil. Isso seria possível? Como o senhor avalia?

Este é o ponto. Precisamos quebrar paradigmas para avançarmos. Se continuarmos repetindo os mesmos modelos, teremos sempre os mesmos resultados.  A nossa sugestão para a ANP é que se faça algo novo, mais barato e de melhor resultado. Imagine triplicar a nossa malha de dutos por um terço do preço e muito mais rápido?  Com os dutos aparentes, as chamadas obras especiais, como os cruzamentos de rios, valas, lençóis freáticos e falhas geológicas, seriam eliminadas e trocadas por estruturas aéreas pré-fabricadas. Imaginem a velocidade de montagem com uma equipe indo na frente do duto só instalando estas estruturas e o duto vindo atrás? Outro ponto de muito atraso e custo são as desapropriações de novas faixas.  Com este novo conceito, podemos aproveitar as faixas congestionadas com a cravação de estacas helicoidais entre os dutos e colocar os suportes aéreos. Escolham um trecho e vamos testar.

Como seria esta construção?

Como falei.  Nós já temos tecnologia para isso. Como exemplo, excluindo-se a instalação dos suportes, temos condições de executar a fase da soldagem, acabamento e posicionamento permanente de 10 quilômetros de um duto de 28 polegadas em seu eixo, em apenas 25 dias. E ainda podemos atuar em várias frentes simultaneamente. Nosso processo é garantido e bastante seguro.

E quanto aos impactos ambientais?

Aí mesmo é que este método construtivo é incomparável, imagine você sair do Rio de Janeiro até Macaé (182 km) abrindo uma vala de um metro e meio de profundidade por um metro de largura com máquinas pesadas, passando por cima da vegetação, queimando diesel, caminhões imensos e guindastes fazendo o desfile de tubos, poluindo e degradando o ecossistema? Com o nosso método, não haveria essa movimentação de terras e todas as operações seriam mínimas para instalação de cada suporte.  As operações de desfile de tubos não existiriam e toda logística de trabalho e suprimentos só seria necessária a cada 10 km, 20 km. Você consegue dimensionar isso? Temos muita preocupação com o meio ambiente e com os trabalhadores deste segmento, que é muito insalubre e perigoso, e por isso pensamos em soluções que minimizem estes riscos e custos. Acho que é por isso que a Liderroll sempre é citada pelo mundo afora. Temos tudo aqui para fazer história frente ao mundo,  como já fizemos. Na verdade, não entendo por que não partimos para um piloto em escala natural ligando um trecho de uns 30 Km? É uma proposta.

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