SETOR DE GLP SE REÚNE NO MÉXICO PARA DEBATER MUDANÇAS REGULATÓRIAS E NOVOS USOS PARA O GÁS DE COZINHA

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

Ricardo ToniettoA Associação Iberoamericana de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP), sediada no Rio de Janeiro, inicia hoje (22) a 36º edição de seu congresso anual. Neste ano, o evento será realizado no México – um dos maiores consumidores de GLP no mundo. O presidente da AIGLP, Ricardo Tonietto, explica que o México pode trazer muitos aprendizados regulatórios e empresariais para o Brasil. Além disso, ele destaca que o congresso também discutirá outros temas relevantes para o setor, como as oportunidades e experiências para terminais privados; a importância das análises de impacto regulatório; e usos do GLP além da cozinha. “Falaremos bastante da experiência em outros países. Por exemplo, existem barcos movidos a GLP e estações de esqui que são alimentadas com geradores de energia movidas a GLP”, contou. Tonietto conta ainda que o setor de GLP do Brasil vive a expectativa de que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) revogue as normas que restringem o uso do produto no país. Além de proibir a utilização do energético em motores, a agência também não permite o uso de GLP em saunas, caldeiras e aquecimento de piscinas. “Não existem mais motivos técnicos que justifiquem essas restrições. Além disso, provavelmente no segundo semestre do ano, a ANP deve rever as suas resoluções que tratam de GLP. Por isso, esperamos que o GLP seja liberado para outros usos, o que vai ser muito bom para o Brasil, de uma forma geral”, avaliou. O 36º Congresso da AIGLP será realizado até a próxima sexta-feira (24).

Para começar, poderia falar um pouco sobre a escolha do México como sede do evento deste ano? Quais aprendizados o mercado mexicano de GLP poderá trazer ao Brasil? 

35_congreso_aiglp-800x600O México, juntamente com o Brasil, é um dos maiores consumidores de GLP do mundo. Para se ter ideia, o Brasil vende 7,5 milhões de toneladas por ano, enquanto o México vende 8,2 milhões de toneladas por ano. É um mercado extremamente representativo no cenário mundial de GLP. Outro grande motivador para AIGLP organizar o evento deste ano no país foi o fato de o México ser importador de GLP, assim como o Brasil. Enquanto o Brasil importa cerca de 30% do GLP consumido internamente, o México importa 60% do GLP consumido em seu mercado. Além disso, o México tem uma empresa estatal, a Pemex, que durante muitos anos teve o mesmo papel desempenhado pela Petrobrás no Brasil.

Contudo, há alguns anos, a Pemex deixou de ser a principal importadora de GLP e detentora da infraestrutura primária de abastecimento. Hoje, no México, existem vários terminais aquaviários que recebem o produto, na maioria das vezes, dos Estados Unidos. No Brasil, grande parte dessa infraestrutura pertence à Petrobras, mas agora as empresas e investidores estão entrando nesse mercado de terminais. Por isso, um dos painéis do nosso congresso vai abordar especificamente essas questões de infraestrutura. 

E quais serão os temas dos demais painéis do congresso?

enchimento-fracionado_29063737_1847089752032829_2997317365091803107_oUm dos painéis abordará a necessidade de estabilidade regulatória. Os investimentos no setor exigem 20 anos para apresentarem retorno. Além disso, é preciso ter um grande ajuste para ter as licenças. O México já passou por tudo isso. Nesse painel, contaremos com a participação da diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Symone Araújo. 

Outro painel vai tratar de um problema que é seríssimo nos países em desenvolvimento – a pobreza energética. Esse é um mal para a sociedade. Mais de 3 milhões de pessoas morrem por ano no mundo por conta de danos causados a saúde a partir do uso de energia de péssima qualidade dentro de ambientes fechados. Esse painel irá discutir como os países da América Latina podem combater a pobreza energética.

No Brasil, uma parcela de 26% da matriz energética residencial corresponde a lenha. O que o país pode fazer para deslocar essa lenha e incentivar o uso de um tipo de energia mais limpa? Não existe solução mágica. Se queremos combater a pobreza energética, é preciso criar uma iniciativa focalizada para o GLP que possa ser mensurada.

Hoje, no Brasil, existe o Auxílio Gás, que foi criado no governo passado. Esse auxílio beneficia 5 milhões de famílias, que recebem um valor em dinheiro sem destinação específica. Esse valor pode ser usado ou não para a compra de gás. Obviamente, muitas famílias passam por dificuldades e usam esse dinheiro para outros fins, como a compra de alimentos. Se o Brasil fizer um programa com destinação específica, será possível mensurar em alguns anos o tamanho da redução do uso de lenha. 

O objetivo da AIGLP é levar esses temas para discussão em um alto nível. Eventos desse tipo permitem disseminar o conhecimento e transferir a discussão para um nível interessante de debate, que possa servir para ajudar na criação de regulações. 

O congresso também terá um painel sobre novos usos de GLP. Esse debate é importante para o mercado brasileiro, uma vez que a ANP está prestes a derrubar algumas restrições de uso do GLP no país. Poderia falar mais a respeito?

gas-glp-petrobrasExistem muitas aplicações para o GLP, que é um produto facilmente armazenável e transportável. Além disso, o GLP é abundante no mundo. Queremos demonstrar nesse painel que existem outras aplicações do produto. Falaremos bastante da experiência em outros países. Por exemplo, existem barcos movidos a GLP e estações de esqui que são alimentadas com geradores de energia movidas a GLP. 

O que as empresas brasileiras de GLP defendem é que é preciso trazer esse debate para a mesa. Isto é, discutir e entender aquilo que é possível e a ANP, em um momento mais adequado, revogar essas restrições. São normas antigas que persistem há anos, criadas em um período no qual você não tinha GLP no mundo, o Brasil era extremamente dependente da matéria-prima, o preço era subsidiado e a utilização principal era a cocção. Esse cenário não existe mais. Então, é importante discutir a revogação dessas restrições.

O setor vive a expectativa de que essas restrições sejam revogadas neste ano? 

Terminal de GLPAcreditamos que sim, porque não existem mais motivos técnicos que justifiquem essas restrições. Além disso, provavelmente no segundo semestre do ano, a ANP deve rever as suas resoluções que tratam de GLP. Por isso, esperamos que o GLP seja liberado para outros usos, o que vai ser muito bom para o Brasil, de uma forma geral. O setor de GLP não quer nenhum benefício, mas sim ter condições de competir em igualdade com todas as energias. 

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