UNIDADE BRASILEIRA DA REGNIER CRESCE EM MEIO À CRISE E PREVÊ AUMENTAR FATURAMENTO EM 2020

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

202008-PETRONOTICIAS-2Os tempos difíceis nem sempre são sinônimo de crise para algumas empresas. Tem sido assim para a unidade brasileira da Regnier, empresa de origem francesa que chegou ao país em 2014. A companhia mantém seu foco na manutenção corretiva de cilindros hidráulicos. O mercado offshore foi um dos setores que fez o grupo investir no Brasil, mas a empresa passou a atender outros mercados, como mineração, energia renovável e siderurgia. Mesmo diante da pandemia do coronavírus, o diretor-geral da companhia no Brasil, Jeremy Matioszek, afirma que a Regnier está conseguindo avançar. “O grupo chegou em julho de 2020 com 87% do seu faturamento do ano 2019 e chegaremos a mais de 100% em setembro de 2020. Temos um backlog para terminar o ano em condições melhores que as do ano anterior, o que nos deixa mais motivado com o Brasil”, declarou o executivo. Matioszek conta ainda que a filial brasileira não é mais dependente da matriz francesa desde 2017 e fala da busca de novos parceiros de negócios.

O foco de atuação da empresa no Brasil continua sendo manutenção corretiva de cilindros hidráulicos? Atuam em outras áreas também?

O foco de atuação da Regnier no Brasil continua na manutenção corretiva de cilindros hidráulicos. O intuito da nossa permanência no Brasil é devido a alta confiabilidade do nosso corpo técnico. Evoluímos e atendemos exatamente os mesmos equipamentos que a nossa matriz. Ou seja, além dos cilindros hidráulicos, cuidamos dos acumuladores de pistão e os cilindros compensadores que funcionam com nitrogênio e hidráulica. Os dois não deixam de ser cilindros, porém o funcionamento é diferente e se assimila mais a um sistema de amortecedor.

Recebemos muitas demandas para desenvolvimento de HPU, manutenção de válvulas e bombas, mas recusamos. O nosso foco é e sempre será cilindros hidráulicos. Existem empresas que cuidam desses equipamentos muito bem. Cada um com sua especialidade e expertise.

Quais tem sido os mercados de atuação da empresa? Óleo e gás é o principal deles?

O mercado offshore é um dos setores que fez que a Regnier investir no Brasil em 2014. Ganhamos projetos no passado para fabricação de cilindros de Squeezing para dois PLSV e de manilhas hidro-acústicas. O potencial do Brasil era na época muito bem visto com seus projetos faraônicos, tais como o Porto do Açu, a construção do Enseada do Paraguaçu, entre outros. Após a abertura da nossa fábrica, em 2016, no Espírito Santo, sofremos o efeito da crise (abrimos no meio dela) e tivemos que achar outros mercados.

Na Europa, a Regnier atua em Siderurgia, Mineração, Hidrelétrica, Eólico, Nuclear e Defesa. Para nós, no Brasil, alguns desses setores eram e são ainda quase que inacessíveis. Porém, conseguimos atender o mercado da Siderurgia em vários estados do Brasil utilizando as referencias da nossa matriz, que atende uma grande parte das plantas existentes no mundo. Em 2017, o grupo Regnier atendia 39 plantas de siderurgia e, com a nossa presença no Brasil, passamos a atender um total de 45 em 2020.

REGNIER BRASIL-TIMEChegamos a atender empresas de Mineração para manutenção de prensas e cilindros de alta complexidade e valor agregado. Para muitos equipamentos somos OEM, o que faz que tenhamos o conhecimento desses equipamentos. Além de termos os desenhos “as built”, o que nos permite uma rápida intervenção com peças de reposição 100% originais.

A mesma coisa aconteceu com o mercado de energia renovável. A filial usou o portfólio renomado da sua matriz. Durante a construção da maior hidrelétrica do mundo, a CTG (China Three Gorges) na China, desenvolvemos e fabricamos todos os cilindros de comportas. Este argumento nos ajudou a pegar a reforma de cilindros em Hidrelétricas (UHE) e pequenas centrais hidrelétricas (PCH) em vários estados do território. Temos uma pequena penetração em Eólico (EOL) para os cilindros de Pitch, mas ainda bem tímido.

Poderia citar alguns dos projetos recentes que a Regnier participou no setor óleo e gás?

Nós trabalhamos em manutenção para as embarcações de tipos PSV, PLSV, FSO, FPSO, entre outros, e atendemos vários projetos ao mesmo tempo. Participamos indiretamente nas campanhas do pré-sal nas Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo. Tanto para colocação das linhas quanto para a produção. Mas como lhe disse, não temos atuação somente em offshore. Mais recentemente, pegamos alguns projetos em hidrelétricas em vários estados.

Qual o planejamento da empresa para expandir sua presença em óleo e gás daqui em diante?

A Regnier conseguiu manter o seu plano de investimento com o Brasil e hoje estamos planejando junto com uma empresa parceira, que na verdade é um cliente, em abrir um workshop no Rio de Janeiro. Estamos consolidando nossas parcerias, inclusive com empresas atuando no mesmo segmento que a Regnier no Estado de São Paulo. Entendemos que parceria permite para as empresas um desenvolvimento saudável.

Após um estudo de mercado criterioso, São Paulo foi o único estado onde encontramos empresas com padrão internacional podendo agregar ao mercado global. Entraremos com o conhecimento e carimbo internacional e eles com os equipamentos de grande porte e os processos de fabricação adequados.

A visão da Regnier é de ter um crescimento lento para manter a sua filosofia em confiabilidade. Não queremos ter alto volume de serviço ao contrário da maioria das empresas do nosso ramo. O grupo Regnier Hydraulic cresceu atendendo a poucos por longo prazo.

Como tem sido a relação com a matriz francesa? Vocês ainda são dependentes financeiramente da sede na França?

0A relação foi extremamente difícil quando, em 2017, fomos informados que não íamos ter mais a ajuda financeira planejada por 5 anos. O grupo Regnier fez investimentos errados ou mal calculados que fizeram eles “abandonar” o Brasil. Ficou uma situação complicada, mas o time que temos é forte e engajado na missão. Todos nós temos uma visão de longo prazo. As operações e a fabricação são os pontos fortes da nossa entrega. É o que destaca em Regnier hoje.

Passamos por situações que mereceriam um livro. Ainda continuamos em ter ajuda técnica do grupo. Somos cliente do departamento de engenharia e P&D. O que fez que a empresa não sair do país foi o apoio moral e técnico do Laurent Regnier , hoje CEO, mas não é o acionista principal.

A Regnier no Brasil é uma empresa com gestão e operação independente do grupo, até porque não poderia ser diferente num país como o Brasil. A diferença cultural do grupo com o Brasil fez com perdêssemos inúmeros negócios e alguns que nunca conseguimos reverter. Estamos aguardando a mudança de diretoria na matriz para que as boas decisões e direcionamentos sejam engajados.

De que forma a pandemia impactou os negócios da companhia?

Vai lhe parecer estranho, mas crescemos durante a pandemia. Tivemos que contratar mais um técnico e aumentamos os turnos.

Colocamos medidas de segurança para nossos colaboradores, alugando veículos particulares para que eles não estejam sujeitos ao transporte público. Pudemos fazer isso porque a verba comercial foi cortada naturalmente por 5, devido às medidas implantadas pelos nossos clientes e parceiros.

O grupo chegou em julho de 2020 com 87% do seu faturamento do ano 2019 e chegaremos a mais de 100% em setembro de 2020. Temos um backlog para terminar o ano em condições melhores que as do ano anterior, o que nos deixa mais motivado com o Brasil. Acreditamos no potencial do país.

Quais são as perspectivas com o mercado de óleo e gás do Brasil?

6As expectativas são as mesmas de anos anteriores. O potencial do país é absurdamente grande, porém falta ainda uma estabilidade política. Essa situação deixa os investidores de pequeno e médio porte sem vontade de investir no Brasil atualmente.

A mídia internacional não ajuda a melhorar a imagem do Brasil, que está cada vez mais na mira de vários órgãos internacionais. Esta publicidade deixa os investidores estrangeiros de lado. Acredito realmente que não ficará assim por muito tempo. O Brasil tem reservas por séculos. O que faz que os investidores de grande porte continuem a investir pesado no país.

Poderia revelar algumas das novidades que a Regnier pretende apresentar ao mercado brasileiro em breve?

Conforme falei anteriormente, queremos firmar parceria com empresas atuando na mesma linha que o grupo Regnier. No Brasil, a empresa está focada em manutenção. 81% do nosso faturamento em 2020 é oriundo da manutenção corretiva e somente 19% da fabricação. Na Europa, o grupo Regnier tem essas porcentagens invertidas.

A nossa planta foi projetada para manutenção e não é uma surpresa de termos esses números. Foi proposital. O nosso objetivo é “namorar” com um parceiro que complementa o nosso leque de produtos e serviços.

Hoje, a empresa atende no máximo cilindros hidráulicos de Ø700 de diâmetro por 12.000 mm de curso. Temos comparsa que tem um parque maquinário podendo atender bem mais que isso e com essas empresas que queremos ter relacionamento ganho/ganho.

Além disso, o projeto de abrir um workshop no Rio de Janeiro está em andamento. A empresa está aguardando novos projetos e mudança de estratégia do grupo para dar ou não o ponta pé.

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