ZERAR EMISSÕES GLOBAIS SERÁ DIFÍCIL SEM A FONTE NUCLEAR, APONTA NOVO RELATÓRIO DA AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

fatih-birol-aie-1 copiarA energia nuclear tem o potencial de desempenhar um papel significativo na corrida mundial rumo à transição energética. Essa é uma das principais conclusões de um novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), que será lançado hoje (30), em Paris. O Petronotícias teve acesso antecipado ao documento que aponta, entre outras coisas, que embora se espere que a energia eólica e a energia solar fotovoltaica liderem o esforço para substituir os combustíveis fósseis, elas precisam ser complementadas por recursos despacháveis. Por isso, a energia nuclear, em países onde é utilizada, pode ajudar a garantir sistemas elétricos de baixa emissão seguros e diversificados. “No contexto atual de crise energética global, preços vertiginosos de combustíveis fósseis, desafios de segurança energética e compromissos climáticos ambiciosos, acredito que a energia nuclear tem uma oportunidade única de encenar um retorno”, disse o diretor executivo da AIE, Fatih Birol (foto).

A fonte nuclear ocupa o segundo lugar no ranking de tecnologias de geração de energia com baixas emissões, atrás apenas da fonte hidrelétrica. Ao todo, as usinas nucleares estão espalhadas em 32 países – no Brasil, temos duas em operação (Angra 1 e 2) e uma terceira que está prestes a ter sua construção reiniciada (Angra 3). Com 413 GW de capacidade global, a fonte hoje evita a emissão de 1,5 gigatoneladas (Gt) de emissões globais. Além disso, a nuclear contribui para reduzir em 180 bilhões de metros cúbicos a demanda global de gás por ano.

angra 2 reduzidaSegundo a AIE, uma fatia de 63% da capacidade de geração nuclear de hoje vem de usinas com mais de 30 anos de vida, já que muitas foram construídas após os choques do petróleo da década de 1970. A agência afirma que apesar das medidas para estender a vida útil de algumas usinas existentes, a frota nuclear operando em economias avançadas pode encolher em um terço até 2030 sem mais esforços. Embora as extensões da vida útil da planta exijam investimentos substanciais, elas geralmente geram um custo de eletricidade que é competitivo com a energia eólica e solar na maioria das regiões.

No entanto, uma nova era para a energia nuclear não é de forma alguma garantida. Dependerá de os governos implementarem políticas robustas para garantir operação segura e sustentável de usinas nucleares nos próximos anos – e mobilizar os investimentos necessários, inclusive em novas tecnologias. E a indústria nuclear deve resolver rapidamente as questões de custos excessivos e atrasos de projetos que atormentaram a construção de novas usinas em economias avançadas”, avaliou Birol.

reatorPolíticas robustas são necessárias para apoiar o uso de energia nuclear e aumentar sua segurança, mas a indústria nuclear também deve fazer um trabalho melhor na entrega de projetos abaixo do custo e dentro do orçamento para garantir que a eletricidade gerada por energia nuclear seja competitiva, de acordo com o relatório. “Isso significa concluir projetos nucleares em economias avançadas em cerca de US$ 5.000/kW até 2030, em comparação com os custos de capital relatados de cerca de US$ 9.000/kW (excluindo custos de financiamento) para projetos novos. Existem alguns comprovados métodos para reduzir custos, incluindo finalizar projetos antes de iniciar a construção, manter o mesmo projeto para unidades subsequentes e construir várias unidades no mesmo local”, destacou a AIE no relatório.

No Caminho para Emissões Líquidas Zero até 2050 traçado pela AIE, metade das reduções de emissões até meados do século vem de tecnologias que ainda não são comercialmente viáveis. Isso inclui os pequenos reatores modulares (SMR), que são geralmente definidos como reatores nucleares avançados com capacidade inferior a 300 megawatts – ou cerca de um terço de uma usina tradicional. “O custo mais baixo, o tamanho menor e os riscos de projeto reduzidos dos SMRs podem melhorar a aceitação social e atrair investimentos privados. Há um crescente apoio e interesse no Canadá, França, Reino Unido e Estados Unidos por essa tecnologia promissora”, finalizou o relatório.

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