ESCOLHA DA EMPRESA PARA CONSTRUIR DUAS PLATAFORMAS PARA BÚZIOS PODE GERAR UMA INVESTIGAÇÃO DO NOVO PRESIDENTE DA PETROBRÁS

Estaleiro Keppel e Sembcorp, em CingapuracingapuraNenhuma surpresa na escolha da Petrobrás para construir as plataformas P-80 e P-82, para exploração de jazidas no campo de Búzios. A concorrência foi vencida pela Keppel Shipyard, que ofereceu US$ 2,983 bilhões por unidade, o equivalente a R$ 15,48 bilhões pelo câmbio de ontem, de R$ 5,19 por dólar. O resultado da licitação internacional bilionária da Petrobrás foi antecipado em reportagem do Valor Econômico. O custo total das duas plataformas para a Petrobrás gira em torno de  R$ 31  bilhões. Este é o maior preço a ser pago por uma plataforma como essas. O design é da Petrobrás e a obra é em EPC, o que desestimula a participação de operadoras, como a SBM e a Modec. A previsão é que a operação comercial das plataformas  comece em  2026. Elas terão a capacidade de processar diariamente 225 mil barris de petróleo e 12 milhões de metros cúbicos de gás natural. Mas este resultado pode ser o caroço do angu.

A empresa que ficou em segundo lugar foi a Sembcorp Marine Rigs & Floaters, que apresentou a proposta de US$ 3,660 bilhões para cada unidade, de acordo com o site Petronect, que reúne as licitações da petroleira. A Sembcorp está em processo de fusão com a Keppel no exterior. As duas empresas possuem o mesmo controlador, o fundo de investimentos Temasek. Esta operação foi anunciada há pelo menos dois meses e a Comissão de Licitação da Petrobrás deveria saber desta informação porque, na prática, o acordo unifica as atividades das duas empresas. Uma apresenta o preço de US$ 2,9 bilhões e a segunda faz a proposta de R$ 3,6 bilhões. Isso só não soa estranho para a comissão, mas a forma de escolha da Keppel pode gerar uma investigação do novo presidente da companhia, Caio Paes de Andrade, que chega à empresa precisando abrir bem os seus olhos. Provavelmente por isso, as outras empresas que concorreriam decidiram desistir. O cheiro que correu no mercado não era bom.

Estaleiro Brasfels, Angra dos Reis

Estaleiro Brasfels, Angra dos Reis

Além disso, uma das empresas habilitadas a participar da licitação, o Estaleiro Brasfels, em  Angra dos Reis, curiosamente também pertence à Keppel. Isto significa que das seis empresas que se qualificaram na concorrência, três são do mesmo grupo: a Keppel. O estaleiro  Brasfels, no entanto, desistiu de apresentar a sua proposta. Outras três empresas também terminaram sem propor ofertas. A ciência da informação da participação de duas empresas do mesmo grupo pode mesmo ter sido o motivo dessas desistências. A Petrobrás lançou esta licitação internacional no fim de abril do ano passado, na modalidade conhecida como engenharia, suprimento e construção (EPC). As propostas foram entregues no mês passado e já se sabe o resultado.

Como de hábito, a Petrobrás nunca responde ou comenta os processos de contratação em andamento, como é o caso das FPSOs P-80 e da P-82. A comissão de licitação tem uma defesa interna difícil de explicar. Ela deve ser alvo de uma investigação a mando do novo presidente da companhia, Caio Paes de Andrade. Só este ano, dois outros casos “estranhos” vieram à tona. A realmente incrível vitória da japonesa Toyo para construir o HDT de Paulínia, que foi considerada vitoriosa, mesmo ficando em segundo lugar na licitação apresentando um preço quase R$ 300 milhões maior do que a primeira colocada. A AES Union entrou na justiça contra o resultado, mas a Petrobrás mesmo assim entregou a obra para os japoneses. O outro caso  foi a contratação da Alphatec para construir um Heliponto para a P-76, que chegou ao Brasil com erro de execução. Quando faltavam 5% para terminar a obra, tudo foi suspenso, arranjou-se uma multa para justificar o prosseguimento do projeto, o que abriu espaço para continuar a alugar três embarcações especiais para segurar a plataforma durante os pousos. Uma operação que custa desde 2008 até hoje US$ 90 mil por dia. Este problema pode ser a grande solução que o presidente Caio Paes de Andrade pode trazer para a Petrobrás. Se conseguir limpar o departamento que não é alcançável nem pelo seu compliance, já vai tirar a companhia das mãos de alguns.

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