ABDAN VAI À BRASÍLIA DEBATER PONTOS PARA VIABILIZAR NOVA USINA NUCLEAR E PREPARA PROPOSTAS PARA PRESIDENCIÁVEIS

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

celso-cunhaA Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) foi uma das entidades que participaram do lançamento do Plano Decenal de Energia (PDE) 2031, em Brasília. O documento foi particularmente importante para a indústria nuclear brasileira. Pela primeira vez, o planejamento nacional passou a indicar a construção de uma planta nuclear no horizonte decenal. Aproveitando a viagem à capital federal, o presidente da associação, Celso Cunha, está com uma agenda de reuniões com o Ministério de Minas e Energia e com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para tratar justamente dos caminhos para viabilizar a construção dessa nova usina. “Aproveitamos o momento para discutir uma série de tópicos, como escolha de novos sites e o próximo PDE 2032”, detalhou Cunha. “O setor começa a sair do campo de ideias e parte para o campo da materialização. Precisamos agora definir o local da planta e a tecnologia que vai ser adotada”, acrescentou. Outros tópicos que estão sendo levantados nesses encontros são a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) e o fomento à produção de combustível nuclear. “O Brasil tem a nona maior reserva de urânio. O CPRM está fazendo estudos sobre outras possibilidades de jazidas. Isso está avançando e coloca o Brasil como um grande player na posição de venda de combustível. Precisamos avançar com essa pauta”, avaliou. O presidente da ABDAN também revelou que a associação está preparando um conjunto de propostas do setor nuclear que será enviado em breve para os candidatos à Presidência da República.

Gostaria de começar nossa entrevista pedindo uma avaliação sobre o PDE 2031, lançado neste semana pelo governo. Como o setor nuclear recebeu a apresentação da versão final do documento?

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Lançamento do PDE 2031

Foi uma conquista extremamente importante ter, nesse momento, o PDE já sinalizando a primeira usina dentro daquela meta de oito a dez usinas previstas no Plano Nacional de Energia (PNE) 2050. Saímos do planejamento de longuíssimo prazo para o planejamento mais prático e executivo. A nova usina indicada no PDE 2031, de 1 GW, ficará no Sudeste do país. O governo fez uma opção de colocar esse 1 GW no centro de carga do país.

A Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) e a Eletronuclear vão ter um papel importante pela frente para tocar esse projeto adiante. O setor começa a sair do campo de ideias e parte para o campo da materialização. Precisamos agora definir o local da planta e a tecnologia que vai ser adotada para essa nova usina.

Por falar em escolha de local para essa usina, o próprio PDE 2031 traz uma nota de rodapé que aponta que a seleção de sítio é um dos desafios que precisam ser superados para viabilizar essa nova planta. Como avançar com essa questão?

angra 3O estudo de sítios precisa ser contratado. Já existe um estudo antigo pronto. Eu acho que, de forma muito prática, em uma leitura de engenharia, o país deveria buscar, dentre os sites que já estão escolhidos, aqueles que dispõem de mais informações. Isso pode acelerar a execução. O ideal é conseguir fazer com que essa primeira usina saia do papel rapidamente. Buscar a melhor solução dentro dos estados do Sudeste, com o maior volume de informações sobre o site, é fundamental.

A tecnologia também precisa ser definida. Vamos usar uma tecnologia como a existente em Angra ou buscaremos uma nova? Ou, talvez, já devemos partir para um pequeno reator modular (SMR)? É preciso fazer essa escolha. O SMR demanda um menor tempo de construção. Contudo, surge o desafio do licenciamento. O processo de licenciamento brasileiro não prevê ainda a questão dos SMRs. Então, essa é a grande questão.

Tirar essa nova usina do papel certamente será a prioridade do setor nuclear. Mas o senhor vê outras questões que também precisam ser endereçadas?

congresso-abrAcho que é importante resolver a questão da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). Já foi aprovada uma lei que cria esse órgão. Contudo, ainda é necessária toda uma regulamentação. Isso precisa sair do papel. Esse assunto já foi muito discutido desde de 2009. O Congresso já debateu e decidiu, o que precisamos agora é colocar essa pauta adiante. Do contrário, o Brasil ficará numa situação muito ruim perante à comunidade internacional. Seja o caminho que for, a ANSN tem que sair do papel esse ano ainda. Como licenciar novas usinas sem essa autoridade? Isso precisa caminhar. 

Poderia falar também sobre a agenda de reuniões da ABDAN em Brasília? Quais são os temas em discussão?

Aproveitamos o momento para discutir uma série de tópicos, como a escolha de sites e o próximo PDE 2032. Outra pauta muito importante é a mina de Santa Quitéria, no Ceará. O mundo está precisando de combustível nuclear e nós dominamos a tecnologia. Como já disse em outra oportunidade, o Brasil precisa parar com essa mentalidade de vender apenas commodities. Temos aqui uma oportunidade de vender combustível com valor agregado.

É preciso lembrar-se do contexto internacional. A China anunciou 150 novos reatores em 15 anos. A Inglaterra anunciou mais nove, a França planeja outras nove unidades, além dos Estados Unidos, que também mais alguns reatores. Estamos falando de mais de 200 reatores anunciados no pós-COP26. Isso significa que o mundo vai aumentar a demanda por combustível. O Brasil tem a nona maior reserva de urânio. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) está fazendo estudos sobre outras possibilidades de jazidas. Isso está avançando e coloca o Brasil como um grande player na posição de venda de combustível. Precisamos avançar com essa pauta. 

Nesse sentido, a ABDAN terminou de produzir um documento com propostas do setor produtivo para o segmento nuclear. Esse conjunto de sugestões será entregue aos candidatos que disputarão a Presidência da República nas eleições de outubro deste ano. Vamos divulgar esse material em breve.

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