ABEMI DEFENDE MAIOR PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS NOS PROJETOS BÁSICOS DE ENGENHARIA INDUSTRIAL

A competitividade é o foco da engenharia brasileira nos tempos atuais, mas, para alcançar o objetivo, as empresas precisam passar por alguns obstáculos, como a falta de mão-de-obra, a carga tributária do país e a disputa com as companhias estrangeiras que vêm para brigar. O novo presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Antonio Muller, que também é presidente da Tridimensional Engenharia e do Centro de Excelência em EPC (CE-EPC), conversou com o repórter Daniel Fraiha e contou sua visão do cenário da engenharia brasileira atual. Ele defende uma atuação maior das empresas nacionais nos projetos básicos, além do preparo delas para ampliar a exportação de serviços de engenharia industrial.

Quais são seus planos à frente da Abemi?

Nosso grande foco é desenvolvimento de processo e desenvolvimento de recursos humanos, sendo que a grande bandeira da Abemi hoje é a competitividade. Além de olhar para o mercado brasileiro, nós queremos estar preparados para executar mais serviços no exterior, como aconteceu no passado.

Existe um prazo para isso?

Prazo não, mas já existem empresas realizando esses serviços fora e a nossa ideia é estender isso para a cadeia como um todo. Eu diria que das 140 empresas que são membros da Abemi, talvez umas 10 já estejam executando trabalhos fora, mas queremos ampliar isso bastante.

De que forma?

Nos tornando competitivos, por isso a nossa bandeira é treinamento de pessoas, de recursos humanos. A Abemi tem programas neste sentido, já fez cinco MBAs de gerente de empreendimento, e estamos com um plano para desenvolvimento de mão de obra direta, inclusive em discussão com um parceiro internacional, para formar caldeireiro, soldador, encanador, eletricista e montador. Estamos olhando também para líderes de disciplina e gerentes de projeto, que é outra parte onde estamos com muito problema.

Quais seriam as regiões contempladas pelo programa?

Estamos olhando, neste momento, para Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.

A própria Abemi vai financiar?

A própria Abemi e seus parceiros, mas é lógico que a idéia é procurar órgãos que possam nos ajudar. O Senai, por exemplo, é um grande parceiro nosso nesse projeto. Já temos um memorando de entendimentos assinado e toda a parte de material, apostilas e etc, será deles.

Qual a previsão para o início do programa?

No final do terceiro trimestre, porque agora precisamos fechar todos os acordos, queremos também envolver a Petrobrás, então vamos arredondar isso nos próximos dois ou três meses.

A Petrobrás poderia ser uma parceira direta no programa?

Pode ser, é isso que estamos discutindo. Eu acho que seria importante que ela fosse.

Quais são as expectativas para o novo Plano de Negócios da Petrobrás?

Acreditamos que, possivelmente, vão concentrar mais ainda os recursos na área de exploração e produção, e acho que na área de refino vai ter uma reanálise muito grande. Acho que os cronogramas das refinarias Premium I e Premium II serão reavaliados, além do próprio Comperj, que agora terá novos contratos, já que alguns atuais estão sendo cancelados. Também acredito que vá haver uma reavaliação na área de fertilizantes. A grande pressão agora deve ser na área de exploração e produção.

Como a Abemi vê essa maior concentração de recursos em E&P?

Nós gostaríamos que os esforços fossem mantidos nos dois segmentos, porque a Abemi tem empresas que trabalham no Abastecimento e em Exploração e Produção ao mesmo tempo, tem empresas que tem como foco o Abastecimento, e tem empresas que focam na Exploração e Produção. Então esse balanceamento seria muito importante para nós.

Como a engenharia industrial deve avançar em compasso com o desenvolvimento do pré-sal?

A engenharia brasileira se desenvolveu muito hoje em dia em projeto executivo, em detalhamento, mas agora ela precisa se desenvolver em projeto básico. Porque uma coisa que é importante para as empresas brasileiras, até para alavancar mais a questão do conteúdo local, é que elas participem muito no projeto básico. Têm certas tecnologias que ainda precisamos usar de empresas de fora, mas acho que o importante é o envolvimento das empresas brasileiras como líderes nessa questão.

Como isso pode ser feito?

Teria que partir da Petrobrás. Por exemplo, hoje em dia, nas fertilizantes, estão sendo contratadas empresas estrangeiras com obrigação de subcontratar empresas brasileiras, porque o Brasil não tem tecnologia naquilo. Eu acho que devia ser o contrário, fazer uma concorrência de empresas brasileiras e durante a concorrência apontar quem foi que as empresas contrataram para ser o transferidor de tecnologia. Porque se você tem uma empresa estrangeira liderando, ela vai passar o que ela quer, enquanto que se você tem uma empresa brasileira à frente, ela sabe o que precisa. Seria como foi feito no passado, com aquele volume todo de petroquímica desenvolvido aqui.

Por que você acha que isso não está sendo feito?

Acho que foi uma decisão que eles tomaram talvez porque precisavam fazer isso mais rápido, mas de qualquer maneira eu acredito que seria interessante esse passo. E as empresas concordam com isso, tanto as estrangeiras, quanto as brasileiras. A preocupação talvez tenha sido em fazer ao contrário por causa do pagamento em moeda estrangeira, mas você pode fazer um contrato com mecanismos para que a Petrobrás pague diretamente à subcontratada estrangeira, desde que seja aprovado pela brasileira. Acho que o ideal para fortalecer a engenharia brasileira seria isso, pois, infelizmente, hoje ela está muito em detalhamento. Ela tem que entrar em projeto básico. Sucesso em uma empresa de engenharia é projeto básico.

Acha que tem um prazo para isso acontecer?

Esse trabalho começou agora, mas já existe um reconhecimento do Ministério de Minas e Energia e da Petrobrás em relação a essa necessidade. Tanto que um dos projetos importantes do Prominp vai ser o desenvolvimento da engenharia básica no Brasil.

Em relação ao conteúdo local, o mercado tem se dividido, uns apoiam a inciativa, outros dizem que os preços aqui são mais altos. Qual sua visão?

O provedor de equipamento aqui no Brasil é mais caro que no exterior, mas por quê? Primeiro: as empresas já fizeram tudo que podiam para se tornar competitivas, eu diria que 80% das necessidades para se tornar competitivas já foram resolvidas pelas empresas brasileiras. Porém, quando você olha o Custo-Brasil, com carga tributária e logística embutidas, os preços vão lá em cima. O Repetro, por exemplo, está sendo reavaliado, porque estava facilitando demais a importação.

Qual é a saída?

O que o mercado brasileiro quer é isonomia com o mercado estrangeiro. Por exemplo, nas especificações, quer que a parte técnica e a parte comercial sejam iguais para os dois. E uma das coisas que nós estamos brigando é para que seja revista essa carga tributária, porque isso mata a competitividade.

Qual marca você pretende imprimir durante sua gestão na Abemi?

Competitividade e profissionalismo.

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