ASSOCIAÇÃO DE ENGENHEIROS DA PETROBRÁS CRITICA VENDA DE ATIVOS DA COMPANHIA E DENUNCIA DESMANTELAMENTO DO CENPES

Felipe CoutinhoUm estudo da Associação de Engenheiros da Petrobrás assinado pelo próprio presidente, Felipe Coutinho (foto), e por um de seus colaboradores, o economista José Carlos de Assis, faz críticas duras ao processo de venda de ativos da Petrobrás e denuncia o que chama de desmantelamento de um dos mais importantes departamentos da empresa, o Cenpes, o seu centro de pesquisas. Antes de o Petronotícias ter acesso ao teor do documento, ele foi enviado para o Presidente da Petrobrás, Pedro Parente, pela própria associação. A resposta da companhia veio por intermédio dos diretores Jorge Celestino e Nelson Silva, das áreas de abastecimento e estratégia, onde declaram que a proposta da Aepet não era adequada. O objetivo da associação, garante Felipe Coutinho, é buscar auxiliar a empresa neste momento de dificuldades.
Segundo o estudo, a Petrobrás não precisava e ainda não precisa vender seus ativos para reduzir o nível de endividamento. Ao contrário, afirma, na medida em que vende esses ativos, reduz sua capacidade de pagamento da dívida no médio prazo e desestrutura sua cadeia produtiva, em prejuízo à geração futura de caixa, além de assumir riscos empresariais desnecessários. A avaliação feita pela Aepet defende que a escolha política e empresarial de alienação de ativos é desnecessária.
A alternativa proposta pela associação preserva a integridade corporativa e sua capacidade de investir na medida do desenvolvimento nacional e em suporte a ele. Enquanto garante a sustentação financeira, tanto pela redução da dívida, quanto pela preservação da geração de caixa a médio prazo. O documento diz, entre outras coisas, que:

“A venda de ativos operacionais, muitos deles altamente lucrativos, prevê acumular 19,5 bilhões de dólares no biênio 2017/18. Resultaria numa redução antecipada da dívida, com a alavancagem – relação dívida líquida/geração de caixa após dividendos – caindo de 4,5 para 2,5 até 2018. A meta de redução da alavancagem e seu prazo são arbitrários, embora possam ser apresentadas de forma dogmática. Trata-se de uma decisão de natureza política e empresarial que é frequentemente elevada à condição de verdade científica ou algo similar a uma revelação divina.”

Na alternativa proposta a partir de parâmetros públicos da Petrobrás, a associação afirma que, sem vender um único ativo, a alavancagem poderia cair de 4,5 para 3,1 em 2018. A amortização anual da dívida, com recursos de parte da geração de caixa, resultaria na redução da alavancagem para 2,5 em meados de 2021. O estudo, afirmam os engenheiros, é conservador na medida em que não contabiliza a geração de caixa adicional pela preservação dos ativos rentáveis que se pretende vender até 2018, graças à receita operacional, proporcional ao porte de uma empresa que é a maior do Brasil e da América Latina. Apenas usando parte da geração de caixa, diz o estudo, a companhia pode ir amortizando sua dívida e trazê-la para um nível razoável, sem afetar a distribuição de dividendos e os investimentos previstos. A venda de ativos produz exatamente o oposto, no médio prazo. Reduziria a capacidade futura de geração de caixa da empresa, porque os ativos já privatizados eram significativamente lucrativos.

No documento enviado à Petrobrás, a Aepet traz a informação de que a gestão Dilma-Bendine apresentou um Plano de Negócios similar ao atual. Previa vendas de ativos da ordem de 57 bilhões de dólares até 2020, cerca de um terço do patrimônio da Petrobrás. A atual gestão Temer-Parente planeja privatizar 34,6 bilhões de dólares até 2021, sendo 15,1 bi até 2016 e 19,5 bi até 2018.

No documento entregue ao Presidente Pedro Parente, a Aepet denuncia o que chama de desintegração do Cenpes, o Centro de Pesquisas da Petrobrás:

“O Cenpes é fundamental para os avanços tecnológicos da companhia, responsável por resultados reconhecidos internacionalmente. Na recente reestruturação da Petrobrás, o Cenpes foi desmembrado, com o fim do reconhecido modelo de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia básica (PD&E) que vigorava há 40 anos. O modelo articulava a relação entre a pesquisa nas universidades, a experiência operacional da companhia e os fornecedores de bens e serviços. A Engenharia Básica do Cenpes foi extinta e seus profissionais transferidos à área de projeto e empreendimento.”

O Petronotícias procurou ouvir a Petrobrás, mas a empresa disse, através de sua assessoria de imprensa, que não iria comentar o assunto. Não confirmou, nem negou.

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JC Albanez
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JC Albanez

Quando acabaram com a Petrobras onde estava a AEPET?

Luciano Seixas Chagas
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Luciano Seixas Chagas

A Aepet sempre contribuiu, durante a sua existência, indicando soluções para problemas estruturais da Petrobras e, mais uma vez, ao invés de fazer a crítica pela crítica, indica soluções sempre olvidadas para gestão Pedro Parente e séquito. Grandes gestores (sic., sic., sic.). Como todos sabem a Aepet representa fielmente a posição do corpo técnico da Petrobras e foi quem primeiro denunciou a ação nefasta de técnicos como, Ceveró, Zelada, Barusco, Paulo Costa etc., estes canalhas comandados por partidos políticos liderados por Cunha, Temer, Jucá, Renan, Padilha, Dirceu, etc. ,que ainda governam o País Brasil que nunca sai da crise de… Read more »

Samuel
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Samuel

A venda de inúmeros ativos tais como poços de petróleo, centro de pesquisas, do controle da Petrobras Distribuidora, das redes de oleodutos, da Liquigas será danosa para a Petrobras e para toda sociedade brasileira, no médio e longo prazo. Particularmente a forma como tais ativos têm sido vendidos, com muita pressa e pouca transparência, chama a atenção e coloca muitas dúvidas sobre a necessidade e legitimidade do próprio negócio. Por exemplo, o modelo de venda da Liquigas foi elaborado e conduzido pelo Ivan Monteiro, Diretor da Petrobras e que anteriormente era Conselheiro do Grupo Ultra. Curiosamente, foi o Grupo Ultra… Read more »

Manfred Man
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Manfred Man

Onde estava a AEPET nos anos Gabrieli, Foster, Bendini??

joão batista de assis pereira
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joão batista de assis pereira

CONGRESSO NACIONAL APLICA ENSINAMENTOS CONFERIDOS PELA PETROBRAS. O Modus Operandi da intimidação em curso no Congresso Nacional já esta operacional na Petrobras há bastante tempo. Na condição de engenheiro aposentado da Petrobras apresentei serias denuncias envolvendo ilícitos do Petrolão no ano de 2015 (Protocolo 131782015). Decorridos mais de um ano, nada de concreto foi investigado, mas decidiram processar o denunciante por exposição de documentos e informações da Petrobras sem a devida autorização. Resta apenas lamentar a decisão da Ouvidoria Geral da Petrobras quando reconhece e declara ter promovido e arcado com os custos processuais ao colocar em ação advogados externos… Read more »

Luiz Medeiros
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Luiz Medeiros

AEPET divagando,
e o mundo mudando…
Engenheiros tentando manter o status quo (as mordomias)
Empreendedores transformando a realidade humana.

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