CENTROS TECNOLÓGICOS DO RIO SOFREM COM FALTA DE RECURSOS PARA PESQUISAS EM ÓLEO E GÁS

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Jose Mauro FerreiraA aprovação de novos recursos para pesquisas em universidades e institutos acadêmicos tem aparecido constantemente nas páginas do Diário Oficial da União, em publicações da ANP, mas é muito raro ver ali nomes de grandes empresas fornecedoras do setor de óleo e gás entre os contemplados. Apesar de terem sido feitos grandes investimentos em centros tecnológicos por parte de empresas internacionais na Ilha do Fundão (RJ), – boa parte delas interessadas em se aproximar do Cenpes e da possibilidade de participar de projetos conjuntos com a Petrobrás – o direcionamento de verbas para as pesquisas dessas unidades tem sido escasso. A FMC Technologies é uma das gigantes mundiais que montou um centro tecnológico no Rio e chegou a participar de um projeto pioneiro no mundo, que foi o Separador Submarino Água-Óleo, instalado no campo de Marlim dezembro de 2011. No entanto, depois dele, nenhum novo projeto entrou no escopo da unidade de pesquisas, que hoje funciona como base da engenharia da companhia no Rio. O diretor comercial da FMC Technologies, José Mauro, conta que as empresas fizeram grandes investimentos para montar os centros – no caso deles a unidade demandou cerca de R$ 70 milhões –, mas hoje quase todos os recursos vão para as universidades. “O fluxo de desenvolvimento deveria vir da demanda para solucionar um problema, a partir de um operador, que entra em contato com os integradores, que entram em contato com a academia e assim sucessivamente”, defende ele. A FMC Technologies hoje tem uma grande encomenda de árvores de natal para o pré-sal e estima entregá-las até 2017. Até lá, José Mauro espera que novos projetos de pesquisa sejam criados em parceria com a indústria.

Como está o mercado para a FMC no Brasil?

Estamos no Brasil há mais de 50 anos, e, quando a Petrobrás resolveu começar a desenvolver petróleo no mar, seguimos essa tendência e nos especializamos nisso. Nossa primeira árvore de natal foi fabricada em 1978. O petróleo começou a ser descoberto no Brasil em águas profundas e isso permitiu à gente desenvolver tecnologia e acompanhar essa evolução. O que está acontecendo hoje é que a tendência é se descobrirem mais e mais campos e reservas em águas profundas. Estamos bastante preparados para isso. Recebemos uma encomenda grande para entregar árvores de natal para o pré-sal. Já vínhamos nos preparando – há três, quatro anos atrás – para mudar o perfil da companhia, para podermos processar um volume maior de encomendas e hoje temos uma grande quantidade de árvores para entregar ao pré-sal.

Quando começaram as entregas?

As primeiras começaram a ser entregues em agosto e elas vão até 2016, 2017. As instalações começaram a ser feitas pouco depois também e o processo vai transcorrer nos próximos anos. Como a Petrobrás colocou uma encomenda de longo prazo, isso nos permitiu fazer investimentos significativos, para podermos processar essas encomendas, e estamos agora nesse processo de entrega. Nossa preocupação hoje é se essas encomendas vão se manter no mesmo nível que foi feito, para podermos manter a capacidade instalada ocupada.

Em entrevista recente ao Petronotícias, a diretora da ANP, Magda Chambriard, citou a FMC Technologies como um exemplo de empresa que conseguiu alto índice de conteúdo local de forma competitiva. Qual índice vocês têm conseguido atingir e como conseguiram fazer isso com competitividade?

O governo definiu o percentual de conteúdo local das árvores de natal para o pré-sal em um mínimo de 70% e conseguimos atingir esse percentual.

Como?

Em função de já estarmos aqui há muitos anos, já desenvolvemos uma cadeia fornecedora que já está mais madura. Já vínhamos produzindo árvore de natal aqui há muitos anos, então conseguimos atingir esse nível.

Você considera que existem condições para atender aos índices com competitividade, contra críticas que tem sido feitas, como as do IBP e de algumas operadoras?

A gente inclusive já exportou árvore de natal feita aqui no Brasil. A mais recente foi para um campo no Caribe, para a BG, em Trinidad e Tobago. Só que nossa operação é dedicada a atender ao volume do Brasil. Mas isso não quer dizer que não temos condição de atender a áreas como a África e outros países próximos, como o Uruguai. Só que, como tem outras unidades da FMC atendendo a essas regiões, nos concentramos mais no Brasil.

Mas na América do Sul vocês tem outro foco?

Não, porque não tem demanda. A demanda na América do Sul submarina é para o Brasil.

Se houver, vocês pretendem atender pelo Brasil?

Se houver, a gente poderia atender daqui do Brasil.

Como está o projeto do Separador Submarino Água-Óleo?

Ele foi desenvolvido, foi entregue, instalado, processou óleo, fez a separação, comprovou que a tecnologia é viável, conseguiu executar corretamente as separações que eram previstas. Agora ele tem que ser integrado à planta de processos, depende mais de uma logística operacional. Ele trabalhou em regime de protótipo e agora a Petrobrás tem que ver como transformar esse protótipo em solução definitiva.

Não está integrado?

Está integrado para efeito de teste de tecnologia. Agora a Petrobrás está estudando outros projetos para ver se consegue implementar.

Vocês pretendem produzi-lo em escala global, porque ele passa a fazer parte do portfólio de vocês, certo?

Passa a fazer parte tanto do portfólio de produto que a FMC tem para oferecer, quanto do portfolio de soluções que a Petrobrás e outros operadores podem lançar mão.

Vocês já foram procurados por outras operadoras interessadas no projeto?

Não. A separação depende muito do que você quer fazer. Se é para separar só o líquido, se é para separar o óleo, então para esse não fomos procurados. Existem varias ideias de como utilizar a separação, mas até agora não tem nada de concreto neste sentido.

Como está indo o centro de tecnologia no Fundão?

Ele foi feito na expectativa de que viesse um volume grande de novas tecnologias, soluções para serem desenvolvidas, principalmente para aplicação do recurso de 1% [a lei de P&D obriga as empresas a investirem 1% da receita bruta gerada pelos campos de grande rentabilidade ou com grande volume de produção, nos quais haja participação especial, em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento]. O que temos percebido é que não está acontecendo do jeito que a gente imaginava. Hoje, de inovação, de produto, só houve o sistema de Marlim. Não vimos um uso maior dos recursos nos centros de tecnologia para desenvolver novas soluções. O último foi o sistema de Marlim, que aconteceu entre 2011 e 2012. Já se passaram três anos e não houve projeto similar.

Esses recursos dependeriam das operadoras?

Toda nova tecnologia depende de o operador buscar uma solução para algum problema que ele tenha. Se não houver essa onda, você não consegue mobilizar o projeto, não consegue partir para desenvolver alguma coisa nova, ou até mesmo acionar as universidades, os fornecedores. Então essa onda tem que vir dos operadores, buscando solucionar um problema, e assim as empresas como a FMC possam procurar identificar a solução junto com o operador, e desenvolver a solução nesse processo. Depois, então, acionar a academia, os fornecedores etc.

Hoje vocês estão com quantas pessoas lá?

Como não tivemos essa demanda, hoje centralizamos toda nossa engenharia lá no Centro de Tecnologia. As árvores do pré-sal, os manifolds do pré-sal, estão sendo desenvolvidos lá. Estamos utilizando nossa engenharia para isso. Todo projeto novo, utilizamos a engenharia do Centro de Tecnologia para isso. Agora, não é a mesma coisa que desenvolver uma solução extremamente inovadora, como é o caso do separador.

Sabe qual o orçamento utilizado para o centro de tecnologia hoje?

Não tem orçamento. A gente montou o centro com a expectativa de centralizar a engenharia, com o objetivo de desenvolver novas soluções, novos produtos e novas gerações de produtos.

Por que você acha que não vieram esses recursos?

Porque as coisas não estão acontecendo na velocidade que a indústria esperava. Tem muitas empresas no Polo Tecnológico que não estão recebendo recursos voltados à inovação. Acho que falta um incentivo maior, talvez, para os operadores na busca de identificar cenários com a construção de protótipos.

O que poderiam ser esses incentivos?

Não sei dizer, mas o que estamos sentindo é a falta da vinda de operadores, da Petrobrás, para desenvolver mais projetos junto à indústria. Do jeito que a ANP colocou, parece que o governo quer incentivar mais a academia e os pequenos e médios fornecedores. É o que saiu na nova regulamentação que foi para consulta pública. A gente pensa que deveria ser pelo outro lado. O fluxo de desenvolvimento deveria vir da demanda para solucionar um problema, a partir de um operador, que entra em contato com os integradores, que entram em contato com a academia e assim sucessivamente.

E o que está acontecendo não é em função dos problemas da indústria?

O que está acontecendo é que não está tendo um direcionamento que incentive mais esse processo a acontecer.

Quais as perspectivas daqui pra frente?

Nós sempre viemos investindo bastante no Brasil, mesmo antes de ser a FMC, e estamos vendo essa projeção de aumento da produção no país. Nos preparamos para isso, então esperamos que os próximos planos da Petrobrás e de outras operadoras venham trazer mais oportunidades para nós e para outras empresas aqui no Brasil.

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