CLUBE DE ENGENHARIA DEFENDE REFORMA NO ENSINO SUPERIOR E NA CERTIFICAÇÃO DE PROFISSIONAIS

Por Daniel Fraiha / Petronotícias –

O Clube de Engenharia tem se engajado em defender as empresas nacionais, lutando por mais participação em todos os setores que envolvam projetistas e construtores. Recentemente houve a eleição para a presidência da entidade, ocupada pelo engenheiro Francis Bogossian. Ele foi reeleito, para um mandato de mais três anos, e pretende se movimentar também para reformar os cursos de engenharia no Brasil, além de propor novas formas de certificação profissional. Francis reconhece que os engenheiros estão passando por um bom momento e a área de óleo e gás está entre as mais destacadas, onde conta-se inclusive com uma diretoria especial para o setor dentro da Petrobrás, mas reafirma a importância de se valorizar o empresariado nacional. Francis Bogossian também é presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ) e do Conselho de Administração da Geomecânica, além de fazer parte dos conselhos da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Como é o seu programa à frente do Clube de Engenharia?

Queremos fazer do Clube de Engenharia novamente o que já havia sido no passado: um baluarte da defesa da engenharia nacional, de sua valorização e de luta pelos interesses do país. Isso estava um pouco esquecido na instituição. No passado, o Clube havia provido o Estado de ministros, mas ultimamente não vinha sendo escutado. Acredito que isso tem mudado um pouco desde que assumimos o nosso primeiro mandato. Ainda não atingimos o melhor, mas já estamos sendo consultados, estamos sendo convidados para fazer parte de conselhos em que não tínhamos mais assento e etc.

Como você está vendo a engenharia no setor de óleo e gás hoje?

As empresas brasileiras estão sendo mais consideradas novamente, como no passado. Minha empresa [Geomecânica], no passado, foi uma delas, que teve o reconhecimento e o apoio da Petrobrás no desenvolvimento de tecnologia. Em um determinado período, as empresas nacionais perderam o lugar para empresas estrangeiras que ofereciam preços mais atraentes, o que atrapalhou um pouco o desenvolvimento da engenharia nacional, mas acho que hoje a mentalidade na empresa voltou a valorizar o empresariado nacional, ajudando ele a ofertar os melhores preços.

A engenharia nacional está sendo mais levada em consideração?

Hoje temos uma diretoria de engenharia dentro da Petrobrás, o que já mostra a maior valorização da nossa área na empresa, e isso vai beneficiar todos os setores dentro dela. É lícito a Petrobrás lutar por contratar por melhor preço, mas também deve dar o devido privilégio à empresa nacional. Mas o empresário também tem que trabalhar para ofertar o melhor preço. Não digo o menor preço, mas o melhor preço, porque uma coisa é diferente da outra.

Como é a atuação do Clube de Engenharia em relação ao setor de óleo e gás?

Temos tentado mostrar nossa posição às autoridades, convidando a Petrobrás para vir aqui e mostrar as suas exigências. O diretor de engenharia da Petrobrás, José Antônio Figueiredo, por exemplo, esteve aqui recentemente para apresentar o plano de negócios. Além disso, temos ajudado a esclarecer dúvidas das empresas em relação às formas de trabalhar com a Petrobrás.

Como, por exemplo?

Eu notava que as empresas não conheciam as exigências da Petrobrás e licitavam fazendo preços baixos. Chegavam lá, não sabiam que a empresa exige qualidade, segurança do trabalhador, saúde ocupacional e responsabilidade social. A Petrobrás exige e está disposta a pagar por isso, mas custa dinheiro. Então as empresas que não conheciam, não tinham colocado isso no orçamento, e ficavam tentando tapear a Petrobrás, pedindo “pelo amor de deus” para uma rescisão amigável. Isso é ruim para o empreiteiro que ganhou o contrato com preços inexequíveis, é ruim para a Petrobrás por ter que descontratar e chamar o segundo colocado, e é tempo perdido no desenvolvimento nacional.

Como solucionaram?

Uma vez eu disse a um diretor da Petrobrás que isso era prejudicial a todos e pedi que ele enviasse uma equipe ao Clube para explicar às empresas todas as exigências da companhia. Ele achou ótima a ideia e fizemos um evento de dois dias, juntando as empresas de engenharia com o setor de cadastro da Petrobrás. Acho que isso foi um passo decisivo em prol das empresas, em prol da Petrobrás e em prol do país.

Tem percebido muitos engenheiros estrangeiros tentando ocupar o espaço aqui?

Com certeza. Eu mesmo já tive uma proposta de fora para vender minha empresa [Geomecânica], mas não me interessou. Um ponto negativo em relação a isso é que foi alterada a constituição. Antigamente, uma empresa estrangeira que comprava uma nacional ou que abria uma filial aqui, com 100% do capital estrangeiro, não era considerada nacional, mas hoje é considerada.

Você acredita que tenha sido uma medida negativa?

Sim, porque os lucros são remetidos para o país de origem da empresa. A empresa só é brasileira no momento em que interessar a ela. É prejudicial do ponto de vista que vai tirar o lugar de uma empresa nacional, o serviço vai gerar um lucro e ele será remetido para o exterior.

Mais isso não movimenta mais a cadeia, gerando mais empregos e impostos?

Acho que você pode gerar mais empregos permitindo a engenharia nacional. Por exemplo, os navios de sondagens geotécnicas para estudo das fundações das plataformas de produção de petróleo são todos estrangeiros, mas a Petrobrás sempre exigiu que a dona dos navios se associasse a uma empresa nacional. Isso incentivava a indústria nacional. Deveria ser assim.

Quais são os pontos de maior carência na engenharia brasileira hoje?

Acho que na engenharia civil as brasileiras estão dominando o mercado, mas nas áreas especializadas ainda falta tecnologia, que pode ser adquirida através da associação com empresas estrangeiras.

Acredita que as universidades brasileiras estão formando bons engenheiros hoje?

Acho que as boas universidades estão formando bons engenheiros. Acho que a PUC-Rio está crescendo a cada dia, aumentando a sua qualidade, a UFRJ sempre foi a melhor, a USP ainda é uma boa universidade no ramo de engenharia, mas tem algumas públicas e privadas em que eu não sei se a qualidade está sendo mantida. Vemos muitos grupos financeiros comprando universidades e o objetivo deles é multiplicar lucros, então eu tenho um pouco de medo em relação à qualidade nestes casos.

Como vê o cenário da engenharia brasileira nos próximos anos?

O Clube de Engenharia vai dar ênfase não só à defesa da engenharia nacional, como também à sua devida valorização, além de atuar no ensino da engenharia, porque o programa das universidades deve ser atualizado.

Quais pontos devem ser atualizados?

O período básico, por exemplo, afasta muita gente das universidades. É preciso mesclar mais a engenharia no início com as matérias de matemática, física e química, que estão muito fortes no começo dos cursos, sem um contato maior com a engenharia propriamente dita. Além disso, o ensino do português deve ser enfatizado, porque há muitos engenheiros se formando sem saberem se expressar devidamente.

Tem alguma iniciativa nesta direção?

Estamos fazendo uma proposta ao Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge), feito pela nossa divisão técnica ligada ao ensino da engenharia, já aprovado pela nossa diretoria, para reformar o programa dos cursos de engenharia do Brasil. Acredito que, além da remodelagem das matérias do curso, pode haver uma formação mais genérica do engenheiro, para depois ter as especializações, além da certificação profissional.

Como seria essa certificação?

Como existe no mundo inteiro. Por exemplo, após a graduação, você recebe a licença com duração de três anos, tendo que se atualizar sempre para tirar uma nova licença. Isso também permitiria ao empregado pleitear melhores condições salariais, de acordo com suas novas certificações e especializações. 

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