CTDUT BUSCA MAIOR AUTONOMIA COM NOVO ESTATUTO E PLANEJA AMPLIAR PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE TECNOLOGIA OFFSHORE

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –

Paulo Renato de A. Cellular Em meio à crise do setor de óleo e gás, o momento é de renovação para o Centro de Tecnologia em Dutos – CTDUT. Ao passo que negocia projetos de desenvolvimento com empresas nacionais e estrangeiras, o instituto planeja fechar o ano com três novos contratos em operação, entrando em 2017 com um cenário aberto ao otimismo. Entre eles está a retomada de um projeto de integridade de dutos com a Petrobrás, que foi paralisado após o centro não obter a credencial necessária para receber investimentos da cláusula de P&D prevista pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Com um orçamento calculado de R$ 5 milhões, a iniciativa deverá ser reiniciada através da PUC-RIO, que irá atuar como plataforma indireta para a participação da estatal. Além disso, o centro negocia hoje um contrato para separação de óleo com a Shell, o que pode iniciar uma nova fase de projetos para a área offshore no centro. É o que afirma o diretor executivo do CTDUT, Paulo Cellular, para quem o segmento pode trazer uma oportunidade para maiores recursos e demandas de pesquisa da indústria. Com foco na renovação de suas operações, o centro também avalia hoje a entrada de pesquisadores associados, que poderão movimentar uma maior participação de empresas nas iniciativas desenvolvidas pelo instituto. A mudança está sendo debatida em um novo estatuto, que está próximo de ser aprovado e pode resultar em uma mudança de horizonte para o futuro. O objetivo, segundo Cellular, é dar maior autonomia ao CTDUT por meio de uma maior independência com a Petrobrás. “A mudança é para o CTDUT entrar mais no mercadoe temos a expectativa de que traga uma maior representatividade da comunidade dutoviária.

Que balanço o senhor faz desses últimos 10 anos do CTDUT?

Na verdade, os 10 anos são da inauguração da sede; o CTDUT em si existe desde 2004, quando foi feita a assembleia de fundação. Depois começaram as obras, com financiamento do Finep, e o centro iniciou suas atividades em maio de 2006. Estou aqui há três anos, e na época vim para terminar a obra do oleoduto de 12 polegadas, nosso maior laboratório. Ele era a “vedete” do CTDUT, todas as fichas foram jogadas nele, com expectativas aqui e fora do país. Esses centros precisam ser usados não só no Brasil, mas na comunidade internacional, para ter um volume de trabalho constante. É um laboratório bem especial, não acho que tenha outro no mundo com essas características.

O oleoduto vem sendo usado em algum projeto? 

Hoje não temos um projeto nele, mas já tivemos com a Shell Brasil. Ela tinha necessidade de um projeto de segurança para escoamento na área offshore, e precisava de um laboratório como o nosso. Eles não identificaram outro no mundo capaz de fazer esse tipo de testes. Fizemos um ótimo trabalho aqui e eles tiveram bons resultados. Esse trabalho vai ter continuidade, e há outros que querem atuar conosco. Estamos avaliando três contratos para esse oleoduto de testes. A Petrobrás tem interesse no loop e nas partes de corrosão e detecção de vazamentos. 

Esses contratos podem ser fechados ainda este ano? 

Estamos negociando e vendo a parte conceitual do projeto para que possamos assinar, mas não deve ter recursos para este ano. A ANP não credenciou o CTDUT como sujeito a receber aquela verba especial para investimentos em tecnologia, não fomos classificados como Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT). 

Quais são hoje os principais projetos do centro?

Hoje temos dois contratos: um com a DuPont, em um trabalho de integridade, e outro com a Parnaíba Gás Natural (PGN), que é um trabalho de consultoria. Estamos para fechar contratos com a PUC-RIO, na área de integridade de dutos com material compósito. Já temos esse programa há 10 anos. É de interesse da Petrobrás e já tínhamos contrato com ela, mas parou por conta dessa questão da ANP.

O projeto com a Petrobrás foi cancelado?

Nós vamos atuar com a Petrobrás e continuar esse projeto de integridade de dutos, mas através da PUC-RIO, que já era nossa parceira. O projeto será feito com a Petrobrás indiretamente. 

O CTDUT pretende recorrer à decisão da ANP?

Estamos vendo com a ANP o que precisamos fazer para sermos credenciados de novo. Nós tínhamos o pré-credenciamento, e quando foi lançada uma nova legislação indicando que era necessário ser credenciado, nós entramos com pedido. Eles entenderam que não se enquadra. Aqui, a nossa filosofia é trabalhar com uma rede tecnológica, porque não somos uma universidade. Não podemos manter um pesquisador direto sem que haja projeto, então trabalhamos em rede. Esse é o pensamento do CTDUT, mas não entenderam. Eles querem um pesquisador com carteira assinada e honorário, mas não temos recurso para isso. Para termos uma carteira de projetos suficiente para isso, precisamos ter linhas de pesquisa em escoamento, corrosão e integridade. Isso demora, mas um dia vai acontecer. 

Outra coisa que dificultou projetos foi o novo regulamento da ANP, que ficou mais rigoroso na prestação de contas. Isso fez a Petrobrás ter que adaptar o sistema interno dela, causou uma perturbação nessa fase. Isso vai se resolver, mas por um tempo afetou projetos e foi no mesmo período da crise. 

Algum projeto com a Petrobrás foi parado em decorrência disso?

Sim, tivemos um projeto de R$ 5 milhões parado com a Petrobrás. Como ela não conseguia mais aportar, ainda restavam uns R$ 3,5 milhões para investir no CTDUT. 

Esse investimento será retomado?

Agora estamos retomando com a PUC-RIO, que passou a ser a cabeça de contrato com a Petrobrás. É a continuidade desse projeto, e o investimento é o mesmo, só foi reajustado conforme os critérios normais de reajustamento. 

Quando ele será reiniciado?

Esperamos que reinicie este ano, mas não temos certeza ainda. Estamos correndo, em função desses novos critérios, mas não é certo. Enquanto isso temos feito ajustes. Quando cheguei aqui, nós éramos 26 profissionais, mas agora já reduziu em 10 pessoas e deve reduzir mais. Nós temos apenas dois contratos, então custo fixo é muito complicado.  

Que novos projetos estão sendo avaliados hoje?

Tem projeto voltado para o mapeamento interno de dutos, com uma tecnologia nova, que está sendo desenvolvida pela Petrobrás com participação da UFRJ. Esse é direcionado para o nosso oleoduto de 12 polegadas. Temos projeto na área de corrosão, no oleoduto, com a Petrobrás e com o IPT, que também trabalha com isso no oleoduto de 14 polegadas. Com a Shell, nós temos a continuidade desse trabalho com PIG de controle de velocidade. O CTDUT é um projeto fantástico para a comunidade de dutos. Estamos negociando também com uma companhia inglesa, a OptaSense que trabalha na área de vazamento, com novas tecnologia de detecção. Já vão estar aqui no segundo semestre, mas ainda não temos um plano definido.

Como é essa parceria com a Shell?

A Shell também quer trabalhar com óleo dentro do CTDUT. Ainda não temos a estrutura para isso, mas já conseguimos a licença operacional com o corpo de bombeiros. A licença ambiental deve ser aprovada neste mês ou no próximo e depois vamos pedir na ANP também. É uma nova fase, que abre um leque maior e talvez tenha início no segundo semestre de 2017 ou início de 2018.

Qual seria esse projeto?

Eles querem usar um loop de 12 polegadas para fazer alguns experimentos com petróleo. Querem trabalhar com mistura de óleo e água para fazer a separação, porque é voltado para a área offshore. Os projetos de corrosão e integridade são mais para a malha onshore, enquanto esses de escoamento são para offshore. Estamos querendo ficar nessa área porque ela tem um desenvolvimento tecnológico maior, assim como mais recursos. A área de novos materiais de revestimento, tanto interno quanto externo, linhas de liner, tubos, testes cíclicos de fadiga, são coisas que poderíamos montar aqui.

O CTDUT busca agora se concentrar mais na área offshore?

Nós temos essa visão, e estamos participando de discussões nesse sentido. Nós temos feito também desenvolvimento de PIGs multi-site, que se adapta a instalações submarinas de vários diâmetros. Alguns já foram feitos para a Petrobrás.

Que projetos deverão estar iniciados até o final do ano?

Consideramos três projetos que podem entrar em operação. São dois na área de integridade com a PUC, tendo a Petrobrás como demandante, e o outro é com o IPT na área de corrosão, que também será direcionado à Petrobrás. Estamos fazendo um esforço enorme, mas pode ser que isso escorregue para 2017. Acredito que ao menos dois deles sejam entregues este ano.

Qual é o investimento para esses projetos?

Os três juntos são da ordem de uns R$ 10 milhões a R$ 15 milhões.

Já teve início o processo para entrada de startups no centro?

Nós ainda não iniciamos, mas está no nosso radar. O presidente Marcelino Guedes tem também a ideia de criar profissionais associados ao CTDUT, que conheçam o mercado e tenham experiência na área de pesquisas. Eles poderiam trazer projetos para cá e participar com um percentual, assinando contrato e agregando valor ao centro. O CTDUT não tem fins lucrativos e é para a comunidade, não tem dono. Estamos mudando o estatuto justamente para mudar essas questões. O novo estatuto já passou pelo conselho executivo, está em assembleia e vai ser analisado pela Petrobrás. A ideia é dar mais autonomia.

O que essa mudança deve acarretar?

A mudança é para o CTDUT entrar mais no mercado. Isso também pode ajudar no caso da ANP, porque acham que o CTDUT é muito ligado à Petrobrás. O Marcelino e os conselheiros acham que devemos nos desvincular um pouco mais, como sinal para o mercado. O estatuto está sendo analisado pelos fundadores, que são Petrobrás e PUC, e temos a expectativa de que traga uma maior representatividade da comunidade dutoviária.

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Parabéns aos gestores do CTDUT pela disponibilidade, perseverança e competência na prestação de serviços à Comunidade de Dutos. Um entidade sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento de Tecnologia de Dutos, com a participação das Empresas da área, Universidades e Pesquisadores.