DELCÍDIO AMARAL FECHA ACORDO DE DELAÇÃO, CITA INGERÊNCIA DE DILMA PARA SOLTAR PRESOS DA LAVA JATO E ACUSA LULA DE COMPRAR SILÊNCIO DE MARCOS VALÉRIO

delcidio-amaralA terra treme com mais força do que nunca em Brasília e o fervor da Operação Lava-Jato está próximo de atingir seu ápice: agora as acusações vêm de dentro do governo. Após negociar com a Procuradoria Geral da República (PGR), o senador Delcídio do Amaral (foto) fechou acordo de delação premiada e já revelou aos investigadores novas informações sobre os esquemas de corrupção da Petrobrás e o envolvimento do governo nos escândalos da estatal. Em um documento preliminar da colaboração, o ex-líder governista detalhou o processo de compra da refinaria de Pasadena e os esforços do Planalto para controlar a chegada das investigações ao campo político, em acusações envolvendo comandos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, segundo reportagem da revista Istoé. Delcídio ainda pediu um período de confidencialidade de seis meses para o processo, com o intuito de conseguir se livrar do conselho de ética no Senado, que avalia a cassação de seu mandato. No entanto, o ministro Teori Zavascki, do STF, negou a requisição do sigilo. Enquanto isso, o filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, que fez a gravação usada como base para a prisão de Delcídio, deixou o Brasil, por medo de sofrer represálias após a soltura do senador.

A situação passou de um tremor para um terremoto completo, atingindo diretamente o Palácio do Planalto e agora deixando o ex-líder do PT no Senado também em maus lençóis, já que dentre as acusações há vários senadores citados, que podem ser seus algozes na Casa. Em seus depoimentos, o parlamentar afirmou que houve intervenções da presidente Dilma sobre os desdobramentos da Lava-Jato, informando que ela teria nomeado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) um ministro, Marcelo Navarro Dantas, comprometido a votar pela liberação de empreiteiros denunciados pela operação. Segundo o senador, a presidente teria contado com auxílio do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo para essa operação. Cardozo, que agora responde pela Advocacia Geral da União, já veio à público se defender, afirmando que Delcídio “não tem primado por dizer a verdade”, alegando que a delação seria retaliação.

O ex-líder do governo no Senado afirmou aos investigadores que Lula teria agido para barrar o avanço do operação, sendo o mandante dos pagamentos à família do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró. O caso, que culminou na prisão do parlamentar no fim do ano passado, também envolveu o pecuarista José Carlos Bumlai, a quem o ex-presidente teria recorrido para efetuar o repasse dos valores. No acordo, Delcídio teria atuado como intermediador e repassado, em mãos, um total de R$ 50 mil ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro. Outros pagamentos foram feitos através do assessor Diogo Ferreira, em um montante somado em R$ 250 mil.

Ainda segundo o senador, Lula teria agido para controlar a apuração dos crimes do Mensalão, inclusive ordenando o pagamento de dinheiro para silenciar acusados do esquema. Entre eles, estaria o publicitário Marcos Valério, para quem o político teria articulado um pagamento, em 2006, junto ao ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antonio Palocci. Segundo a delação de Delcídio, o valor pedido chegou a R$ 220 milhões, mas a soma paga não chegou a essa cifra. Ele não diz em quanto ficou o acerto final, mas alega que o pagamento teria sido prometido pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

As acusações sobre a presidente Dilma não são menos graves. De acordo com o depoimento de Delcídio, ela teria tentado intervir três vezes sobre a continuidade das investigações da Lava-Jato. A primeira teria sido abordada em um encontro, em Portugal, com o presidente do STF, Ricardo Levandowski, e o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Segundo o senador, Dilma teria pedido uma mudança nos trilhos da operação, o que o presidente do STF se negou a fazer. Posteriormente, a presidente também teria movido esforços para indicar ao STJ o presidente do TJ de Santa Catarina, Nelson Schaefer. Em contrapartida, o ministro convocado, Dr. Trisotto, votaria pela liberação de Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo. Trisotto, no entanto, recusou a participação. A terceira tentativa, segundo informações dadas pelo senador, foi a nomeação de Marcelo Navarro para o STJ. De fato, todos os votos relativos à Lava Jato proferidos por Navarro após assumir o posto foram neste sentido, pela flexibilização das prisões. no entanto, ele foi voto vencido pelos outros ministros do STJ e nos últimos dias entregou a relatoria dos casos por conta disso.

A delação de Delcídio também abrange o processo de compra da refinaria de Pasadena, no Texas, que teve seus contratos aprovados pelo Conselho de Administração da Petrobrás e resultou em um prejuízo de US$ 792 milhões para a estatal. De acordo com o parlamentar, o esquema de superfaturamento era de conhecimento de todos, inclusive de Dilma, que não barrou a aquisição. A presidente, no entanto, nega ter tido conhecimento sobre as práticas ilícitas criadas nos bastidores da empresa.

Ele acusa  a presidente também de ter atuado na indicação de Nestor Cerveró para a diretoria financeira da BR no passado, negando que apenas Lula tenha participado da negociação. Além disso, afirma que atuou em nome do ex-presidente, a pedido dele, para evitar convocações à CPI do CARf, que poderia implicar a ele e dois de seus filhos. Ele acusa ainda os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rego (PMDB-PB) e os deputados Marco Maia (PT-RS) e Fernando Francischini (SD-PR) de cobrarem propina de executivos ligados à Lava Jato para que eles não fossem convocados à CPI da Petrobrás.

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É Brasília, símbolo moderno de babilônia, dos animais do Apocalipse empesteando os ares deste céu escuro, imutável com as águas de março fechando o verão.