ESPECIALISTA ALERTA QUE PETROBRÁS NÃO DEVERIA CONTRATAR P-82 E P-83 COM KEPPEL E SEMBCORP, QUE ESTÃO EM FUSÃO

keppel-750x430O Petronotícias abre o noticiário desta sexta-feira (19) entrevistando o consultor do mercado de óleo e gás Filipe Rizzo, que aponta uma série de problemas e incoerências no processo de contratação dos navios-plataformas (FPSOs) P-82 e P-83, da Petrobrás. Antes da entrevista, convidamos os nossos leitores para um rápido retrospecto sobre o caso, que ajudará no entendimento do tema. No dia 15 de agosto, a Petrobrás anunciou a assinatura do contrato com a Keppel Shipyard para construção da P-80, que será instalada no campo de Búzios. Ao mesmo tempo, a petroleira brasileira segue em negociações para a contratação de mais duas unidades para Búzios: a P-82 e a P-83. O grande X da questão está no fato de que apenas duas empresas fizeram lances na licitação das plataformas: a Keppel Shipyard e a Sembcorp Marine, duas companhias que atualmente estão em processo de fusão no exterior.

Vamos então aos lances: a Keppel ofereceu duas propostas, de US$ 2,9 bilhões cada, para construir a P-80 e a P-82, enquanto que a Sembcorp propôs cerca de US$ 3,7 bilhões para cada unidade. Como já explicamos, a Keppel já conquistou o contrato da P-80. Pelas regras do edital, a vencedora da primeira unidade ficaria de fora da disputa da segunda. Por isso, a Petrobrás negocia com a Sembcorp o segundo contrato, o da P-82. O edital previa ainda a contratação de uma terceira unidade, a P-83, e de acordo com informações de bastidores de mercado, a Petrobrás já estaria negociando o navio com a Keppel.

1606940481657O fato de Keppel e Sembcorp estarem em fusão e terem sido as únicas a apresentarem propostas chamou atenção de parte do mercado. O Petronotícias mostrou que a Federação Única dos Petroleiros (FUP) pediu investigações sobre as encomendas das plataformas. A Petrobrás, por sua vez, negou qualquer irregularidade – leia o posicionamento da empresa neste link. Mesmo assim, outros membros do mercado estão preocupados com a situação. O consultor Filipe Rizzo afirma que a postura correta seria contratar a P-80, mas relicitar as unidades P-82 e P-83. “O principio da administração pública é o critério da precaução, que nesse caso está sendo fortemente desrespeitado”, declarou. Ele chama atenção ainda para os preços das unidades, que classifica como os maiores da história da empresa. “Estamos falando de US$ 6 bilhões, mais de R$ 30 bilhões, em um processo de contratação com apenas um grupo econômico e sob risco de acrescentar mais uma unidade de outros US$ 3 bilhões”, alertou.

Para facilitar o entendimento dos nossos leitores, gostaria de começar essa entrevista pedindo que relembre a cronologia da operação de fusão entre a Keppel e a Sembcorp.

p77Em 2021, a Petrobrás lançou a licitação para a contratação da P-80 e P-82, fez o seu processo de cadastramento – que não pretendo questionar aqui – e distribuiu diversos convites. Enquanto isso, no dia 24 de abril de 2021, a Keppel e a Sembcorp assinaram, em Cingapura, um memorando de entendimento indicando que teriam a intenção de fundir suas operações em apenas uma empresa.

Já no dia 27 de abril de 2022, a Keppel e a Sembcorp assinaram os documentos definitivos de fusão, com uma série de pontos sobre a operação. As empresas definiram, dentre outras coisas, os seguintes termos: um pagamento de US$ 500 milhões a Keppel Holding, os pesos das ações de cada acionista de cada uma das empresas que serão trocadas pelas novas ações; o grupo Temasek terá 1/3 das ações das empresas; separação de 10% das ações para contingências etc. [Você pode ler o comunicado, em inglês, relativo à operação, do dia 27 de abril, clicando neste link].

Sendo assim, a partir de dia 27 de abril deste ano, qualquer novo contrato auferido por qualquer uma das empresas, beneficiaria o conjunto dos acionistas e não implicaria em modificação, valorização ou perdas para acionistas de uma ou outra parte. Por exemplo: se a Keppel ganhasse US$ 10 bilhões em contratos, os acionistas das duas empresas receberiam esses ganhos. Ou seja, já está definido proporcionalmente tudo o que cada acionista vai ganhar a partir de possíveis novos contratos assinados a partir de 27 de abril. 

Agora, poderia detalhar mais as implicações dessa possível fusão na licitação para contratação da P-80 e P-82?

cadeira-vaga-na-petrobras-abre-disputa-entre-centrao-e-militaresNo dia 30 de maio de 2022, pouco mais de um mês após assinatura dos contratos definitivos entre Keppel e Sembcorp, a Petrobrás recebeu as propostas para a P-80 e P-82. Mesmo após a Petrobrás ter pré-qualificado 13 empresas, apenas Keppel e Sembcorp apresentaram propostas. Justamente os dois licitantes que passaram a fazer parte do mesmo grupo econômico e que atendem aos interesses dos mesmos acionistas.

A Petrobrás alega que a fusão das duas empresas ainda não foi totalmente aprovada. Contudo, o comunicado que citei anteriormente, do dia 27 de abril de 2022, deixou muito claro que, a partir daquele dia, o peso das ações estava claro. Sendo a fusão aprovada ou não, o destino das empresas ou dos acionistas é o mesmo. É óbvio que a Petrobrás não poderia saber que só receberia propostas do mesmo grupo econômico. Em condições normais, aceitaria a contratação de apenas uma unidade, a P-80.

Ao seu ver, qual deveria ser a postura da Petrobrás diante desse quadro?

p70A preocupação é o fato de a Petrobrás desconsiderar tudo isso e assinar o contrato para mais duas plataformas (P-82 e P-83), quando na prática ela recebeu a proposta de um único grupo. Em condições normais, a Petrobrás contrataria a P-80 e não assinaria a segunda unidade.

Mas não foi esse o caso. A Petrobrás decidiu contratar os dois FPSOs mais caros da história, com conteúdo local baixo, e cogita contratar o terceiro FPSO, às vésperas da Assembleia Geral Extraordinária, que modificará o Conselho e a diretoria da empresa. Estamos falando de US$ 6 bilhões, mais de R$ 30 bilhões, em um processo de contratação com apenas um grupo econômico e sob risco de acrescentar mais uma unidade de outros US$ 3 bilhões.

Em nome da transparência, e com a devida precaução, a Petrobrás deveria contratar apenas uma unidade com a Keppel e relicitar as demais. Não existe justificativa possível que possa comprovar que não houve combinação de preços nem cobertura de propostas. O princípio da administração pública é o critério da precaução, que nesse caso está sendo fortemente desrespeitado.

Gostaria que falasse mais sobre a questão dos preços, já que o senhor afirma que são os mais caros da história da empresa.

BRASFELSO preço é alto. É o mais alto que a Petrobrás já pagou. Muitos alegariam as condições do mercado. Só que é muito complicado contratar até três plataformas com os preços mais caros da história sem a proposta de outro grupo.

Além disso, não me lembro de ter visto antes a Petrobrás correr tanto para assinar, dentro de três meses, dois contratos de FPSOs. Normalmente, esse processo leva seis meses. É uma situação estranha.

Trabalhei na Keppel Fels por quatro anos e tenho profundo respeito por todos os profissionais dessa empresa, especialmente com todos com quem convivi nesse período. Uma empresa que acreditou no Brasil e se instalou a mais de 20 anos. Diante disso, friso que a minha preocupação principal é sobre o que vem acontecendo na Petrobrás. Ao meu ver, isso tudo parece muito açodamento e pode não estar de acordo com a agenda do interesse da empresa e dos acionistas.

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JOÃO BATISTA DE ASSIS PEREIRA
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JOÃO BATISTA DE ASSIS PEREIRA

AO EMPRESARIADO PRESTADORES DE SERVIÇOS NO BRASIL NA ATUALIDADE: A Petrobras esta reduzindo a pó a Indústria nacional, ai incluídas as Prestadoras de serviços, principalmente as empresas sérias que não foram contaminadas pelo Petrolão e aquelas novatas que certamente apareceriam para compor o cadastro de fornecedores da Estatal, mas estão pagando a conta do aparelhamento na Petrobras. A Petrobras aproveita as ilicitudes ocorridas na Lava Jato para montar o cadastro de seus fornecedores a seu bel prazer, da forma que melhor lhe convier e exterminar de vez com o conteúdo local. As derradeiras entrevista que concedi a Petronotícias retrata a… Read more »

Rogério Faria
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Rogério Faria

Enquanto isso nossos estaleiros às moscas.

Roberto
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Roberto

Sejamos sinceros, hoje a petrobras paga fortunas pelo good compliance acordado com os EEUU. Acredito que os diretores estejam espertos (ou sejam espertos, nao sei)

Luiz Antônio
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Luiz Antônio

Não entendo o sistema da Petrobrás que e uma estatal do governo favorecer o mercado externo pra fabricação dos módulos e plataforma,com tanto estaleiro no Brasil com grande estrutura exemplo EBR, Atlântico Sul, enseada do Paraguaçu,pontal,brasfels e outros, vergonha esse governo 11 milhões de pai de família desempregado e nossas plataformas sendo construída fora, vergonha!!!

Jorge Vieira
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Jorge Vieira

Infelizmente nosso presidente é omisso a tudo isso,Paulo Guedes tem partido nosso tudo, coisa de acionistas

Carlos Vinicius
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Carlos Vinicius

Quanta pretensao!!