EVENTO VAI DEBATER SEGURANÇA DA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL

Nos dias 8 e 9 de fevereiro o Rio de Janeiro será palco do 3° Seminário Nacional de Energia Nuclear, que ocorrerá no Centro Empresarial Rio, em Botafogo. O evento traz este ano novidades do setor, com ênfase na área de segurança, sob os olhares atentos dos que viram o acidente de Fukushima, no Japão, gerar questionamentos sobre a energia atômica. O próprio subtítulo da conferência traz esse tema para o centro das discussões: “Programa Nuclear Brasileiro – As Lições de Fukushima”. O idealizador do evento, Carlos Emmiliano Eleutério, conversou com o repórter Daniel Fraiha e falou sobre a importância do debate.

Quais serão os principais temas tratados no evento em relação à energia nuclear?

Além de temas envolvendo a indústria de máquinas e equipamentos, a construção e montagem industrial, novas tecnologias, mão de obra etc., vamos dar destaque a um tema cuja discussão tomou conta do mundo, após o terremoto e a tsunami que devastaram algumas cidades do Japão: a segurança das usinas nucleares. Esta tem sido uma preocupação em todo mundo, pois o fenômeno natural que atingiu o Japão comprometeu a segurança das Usinas de Fukushima. Diante desse grave acidente, algumas perguntas surgiram de imediato com relação às usinas nucleares: Qual a melhor tecnologia nessa área? Quais as soluções de segurança adotadas em outros países? Qual a importância do desenvolvimento tecnológico nesse setor para o Brasil? As nossas usinas em operação são seguras? Nossa idéia é fomentar essas questões e usar o gancho nuclear para levantar o debate sobre segurança em todos os segmentos da indústria de energia.

Quais são as lições de Fukushima?

Qualquer acidente nuclear, em si, é um problema preocupante. Independente da gravidade, sempre deixam a população apreensiva no mundo todo, e os questionamentos sobre a adequação e segurança desse modelo de geração ganham rapidamente a mídia. Assim, uma energia que é uma fonte limpa, uma alternativa à energia de combustíveis fósseis e que possui um grau de eficiência energética muito maior do que a maioria das outras fontes pode se transformar numa vilã. O caso de Fukushima é bem diferente de Tchernobil, onde o problema ocorreu por falhas de segurança da usina. No Japão o acidente surgiu de fenômenos naturais (um terremoto seguido de uma tsunami), e o sistema de segurança, que controla a parte mais delicada da usina, funcionou perfeitamente, evitando a reação em cadeia. Os problemas ocorridos foram devidos a falhas no sistema de refrigeração, que deveria permitir a troca de calor e não funcionou, permitindo o aumento da temperatura, que transformou a usina numa panela de pressão. Mas uma das lições é exatamente que essas usinas são muito mais seguras do que nós mesmos achávamos, pois apesar da gravidade dos fenômenos naturais se conseguiu manter um controle bem razoável da situação. Além disso, a energia nuclear não é mais uma alternativa, é uma necessidade.

A energia nuclear continua sendo uma alternativa interessante para o Brasil? Por quê?

A maioria dos especialistas acredita que, apesar de Fukushima, a energia nuclear responderá por uma fatia considerável da geração energética mundial no futuro. Isso acontecerá porque, do ponto de vista econômico e de sustentabilidade, as outras fontes energéticas são insuficientes, especialmente os combustíveis fósseis, devido às emissões de dióxido de carbono. Um estudo elaborado para a Eletronuclear pela Ecen Consultoria apontou que a participação de 7,3 gigawatts (GW) de energia nuclear na geração do Sistema Interligado Nacional (SIN) até 2030 reduzirá as emissões de gases poluentes na atmosfera em 19%. Isso corresponde a 437 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) que deixarão de ser lançados na atmosfera. De acordo com o levantamento, pode-se considerar que dentre os ciclos de combustível analisados do petróleo, do gás natural, do carvão mineral e da produção de bagaço da cana, a energia nuclear ainda é a mais limpa e a que emite menos gases poluentes.

Qual a importância de Angra 3 e dos projetos seguintes para o país?

O Brasil está crescendo e caminha para ser a quarta economia do mundo. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo de energia no Brasil vai crescer 3,7% ao ano até 2030. Hoje, a energia nuclear, segundo e Eletronuclear, responde por 2,5% da energia elétrica no Brasil. Até 2030, a previsão é de que o percentual chegará a 5%. O plano é construir duas usinas no Nordeste e duas no Sudeste, cada uma com capacidade instalada de mil megawatts cada (Angra 1 e 2, juntas, têm capacidade instalada de quase 2 mil MW). Conforme a demanda, outras duas do mesmo tamanho poderão ser construídas. O cronograma prevê que a primeira usina entre em operação em 2019, no Nordeste, e a quarta em 2025, no Sudeste. Assim, a construção da primeira deve ser iniciada já no fim de 2012 ou no início de 2013, segundo a Eletronuclear.

Quem serão as empresas e entidades participantes do evento? Elas apresentarão alguma novidade ao setor?

Estamos mobilizando para o evento toda a cadeia da indústria nuclear no Brasil, envolvendo fornecedores de equipamentos e serviços, além de várias empresas estrangeiras que operam no mundo todo, especialmente na área tecnológica. Já confirmaram participação, por exemplo, a Westinghouse e a GE Hitachi Nuclear Energy. Estamos convidando várias outras, como a Areva Brasil, Nuclep, INB e outros parceiros que participaram das edições anteriores do Seminário, como a WorleyParsons, CNEC, Engevix, Genpro, Queiroz Galvão, entre outras. Das entidades representativas do setor, tanto profissionais, técnicas e empresariais, esperamos contar com o apoio e a participação de todas, a exemplo do que ocorreu na segunda versão do evento.  Nossa expectativa é que essas empresas tragam novidades e soluções na área nuclear, principalmente na prevenção de acidentes. A GE, por exemplo, participa do painel que discute os modelos das usinas de Fukushima e a diferença em relação às nossas usinas, e deve apresentar uma solução nessa área de refrigeração.

Como surgiu o evento?

A idéia de realizar o Seminário Nacional de Energia Nuclear surgiu logo após o governo anunciar a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, que ficou paralisado desde 1986. Em 2007, o Conselho Nacional de Política Energética determinou a retomada das obras de construção da nossa terceira usina – Angra 3 – e com isso um mercado potencialmente forte para as empresas brasileiras e estrangeiras, que estava estagnado há anos, rapidamente voltou a se mexer. E era normal, naquela ocasião, que muitas dúvidas surgissem por parte das empresas, pois o programa ficou suspenso por mais de 20 anos. Os primeiros equipamentos adquiridos no início do empreendimento estavam cuidadosamente guardados, mas era necessário atualizar o projeto, rever contratos, enfim, uma série de providências. Daí surgiu a idéia de reunir em um evento os técnicos da Eletronuclear para falar de suas novas necessidades, as empresas de equipamentos e serviços para mostrarem suas atualizações tecnológicas e capacidade de fornecimento, especialistas e academia para tratar a questão da mão de obra etc.

Quais são as expectativas das empresas em relação ao futuro da energia nuclear no Brasil?

Os investimentos envolvidos na construção de usinas nucleares são imensos. Somente Angra 3 demandará em torno de R$ 10 bilhões, sendo que cerca de 75% desses gastos serão efetuados no Brasil. Além dos recursos do BNDES, a empresa receberá R$ 890 milhões da Eletrobrás, oriundos do fundo da Reserva Global de Reversão (RGR). Desse montante, já foram liberados R$ 366 milhões (41,1% do total) em duas parcelas, pagas em janeiro e agosto de 2011. Já a cobertura dos serviços de engenharia e das aquisições de equipamentos no mercado externo – cerca de 1,3 bilhão de euros – será feita através de financiamento internacional. Repare que estamos falando apenas de Angra 3.  As novas usinas demandarão outros R$ 40 bilhões, tomando por base as estimativas da própria Eletronuclear de R$ 10 bilhões para cada uma delas. O percentual de conteúdo nacional de 75% dos empreendimentos representa para as empresas brasileiras um aporte de R$ 30 bilhões em encomendas. Além disso, esses empreendimentos mexem com toda a economia local, regional e nacional, com efeito na renda das cidades e nos investimentos na infraestrutura das regiões. E agregam conteúdo tecnológico às empresas, além de alavancar o desenvolvimento da indústria e da Engenharia nacionais.

 

 

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Flavio Fraiha
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Terãp operadores privados ou so o governo irá operar as usinas ?

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[…] *Entrevista publicada no site Petronotícias […]