FUKUSHIMA DEU BONS EXEMPLOS PARA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL FICAR MAIS SEGURA

Desde o acidente de Fukushima, a Eletronuclear vem acompanhando as medidas sugeridas por diversos organismos nacionais e internacionais em busca de desenvolver estudos sobre a aplicabilidade desses métodos às usinas brasileiras. Após anunciar o investimento de R$ 300 milhões em um programa de reavaliação das usinas nucleares de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, a estatal planeja o atendimento das demandas futuras de energia elétrica para orientar o desenvolvimento do setor, que inclui como meta 2012-2015 “Viabilizar e projetar 4 usinas termonucleares”. O assistente da presidência da Eletronuclear, Leonam Guimarães, conversou com o repórter Estephano Sant’ Anna em continuação à palestra “As lições de Fukushima” apresentada no 3º Seminário Nacional de Energia Nuclear.

Entre tudo o que o acidente em Fukushima nos ensina, qual a maior lição?

Fukushima trouxe para a indústria nuclear duas lições fundamentais. Primeiro, que acidentes severos acontecem. Mesmo depois de todas as contra medidas tomadas após as lições aprendidas com os acidentes de Three Miles Island e Tchernobyle, as decorrentes de mais de 14.000 reatores-ano de experiência operacional. Segundo, quando esses acidentes ocorrem em reatores a água, querepresentam quase 90% do parque de geração nuclear mundial, as consequências não são ‘catastróficas’ como o ‘sendo comum’ pressupõe.

Com todos esses riscos batendo à porta, ainda podemos dizer que a energia nuclear é segura?

Na verdade, Fukushima confirma que a energia nuclear é essencialmente segura. Isso pode parecer um exagero e é o oposto da impressão que a maioria das pessoas passou a ter,mas é importante ressaltar quais são as reais consequências até de um acidente nuclear dos mais graves. Mesmo com liberações significativas de radiação para além do sítio da central, os padrões de segurança e as políticas de evacuação do Japão foram antecipatórios, tendo mesmo ido além do estritamente necessário, em alguns casos. O efeito disso é que nenhuma morte decorrente da radiação resultou e nem resultará do acidentede Fukushima, e isso em meio do desastre natural decorrente do terremoto e do tsunami que já custou mais de 25 mil vidas. Esta afirmação foi recentemente corroborada pelo presidente do Comitê Científico da Organização das Nações Unidaspara os efeitos da Radiação Atômica (UNSCEAR), afirmando que ‘o desastreem Fukushima não prejudicou a saúde de japoneses’.

A Eletronuclear vai investir R$ 300 milhões na questão da segurança e tecnologia das usinas. Isso quer dizer que o que temos hoje é insuficiente?

A segurança é um processo de melhoria contínua. Nunca podemos considerar que a segurança de uma instalação é suficiente, porque se não no dia seguinte esse nível de segurança começa a se reduzir. Isso é verdade para qualquer atividade humana que envolva riscos – e todas envolvem algum tipo de risco. Segurança absoluta, entendida como ausência de riscos é uma utopia: segurança é um estado em que o risco é individual e socialmente aceitável. Sempre que ocorre um acidente industrial de grandes proporções, a sociedade entende que o risco dessa atividade não é mais aceitávele requer melhorias na segurança. Esse é um dos processos mais importantes para evolução tecnológica: é assim para os automóveis, aviões, navios, plataformas de petróleo e usinas nucleares.

Então Fukushima é sinônimo de melhorias…

O acidente de Fukushima requer melhorias na segurança de todas as usinas em operação, construção e projeto, e isso estásendo feito em todo o mundo. Mas há que considerar que a segurança da maioria das usinas em operação, e de todas em construção e projeto é muito superior à queladas usinas acidentadas no Japão. Além disso, as reais consequências ao público em termos de fatalidades e prejuízos à saúde, bem como ao meio ambiente em termos de comprometimento do uso do solo foram bastante limitadas quando comparadas às dimensões da terrível tragédia humana, social, econômica e ambiental causada pelo fenômeno natural excepcionalmente severo do terremoto e tsunami, e mesmo em termos absolutos, quando se compara, por exemplo, com o acidente biológico dos brotos de feijão na Alemanha, ocorrido pouco após Fukushima, que teve um saldo de 50 mortos e mais de 4.000 hospitalizados.

Corremos riscos de algum acidente parecido?

Segurança absoluta, entendida como riscozero, não existe. Os riscos de acidentes severos sempre existirão, mas a experiênciade Fukushima mostra que as consequências não serão catastróficas e, além disso,as lições aprendidas com esse acidente farão com que a probabilidade de ocorrênciade tal tipo de acidente será ainda mais baixa e a severidade de suas consequências ainda menor.

Qual o sentimento que fica com todas essas lições?

Sou muito otimista quanto ao crescimento da energia nuclear no Brasil, no geral. Fukushima obriga um estudo mais aprofundado, com um contraditório muito forte. O acidente não matou e vai fortalecer a indústria nuclear.

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