INTERNACIONALIZAÇÃO DO SETOR NUCLEAR E INCENTIVO ÀS EXPORTAÇÕES SERÃO METAS CENTRAIS DO NOVO CONSELHO CURADOR DA ABDAN

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br)

CELSO CUNHaA Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan) reuniu recentemente um grupo de figuras centrais do setor para formar o seu Conselho Curador. O novo organismo da entidade terá a função de orientar as ações e caminhos da associação em sua missão de construir um ambiente de negócios favorável no segmento. Em entrevista ao Petronotícias, o presidente da Abdan, Celso Cunha (foto), contou quais serão o temas centrais debatidos pelo novo conselho: o processo de internacionalização, a captação de financiamento para o mercado e a exportação. “Outra questão que devemos abordar é a inserção das pequenas e médias empresas no trabalho dentro do segmento nuclear”, completou Cunha. Conforme noticiamos, o Conselho Curador será liderado pelo Almirante Marcos Sampaio Olsen, que é o Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha. Um reforço de peso para o grupo, na opinião do presidente da Abdan: “A participação do Almirante Olsen, que é uma figura extremamente representativa e muito afável, traz a Marinha para nos ajudar a guiar essa instituição”, afirmou.

Qual será o principal papel desse conselho curador, que está com esta nova composição?

Esse conselho visa orientar a Assembleia Geral da associação e a direção executiva, além de ajudar a construir caminhos para a Abdan e seus diversos temas. O conselho curador possui pessoas de todas as áreas, oriundas de diversas instituições do Brasil e do exterior. Então, além de reunir pessoas e instituições de vários segmentos, reunimos também a experiência dessas pessoas, que acumulam uma longa jornada de sucesso no setor nuclear.

A Abdan, como se sabe, está vivendo um processo crescente. Este, aliás, é um processo que foi proposto há 32 anos atrás, quando a associação foi criada. A missão da Abdan é a criação de um ambiente saudável para negócios e o fortalecimento da cadeia produtiva. Nos últimos três anos, estamos reforçando essa visão. O segmento nuclear está crescendo, ainda não na velocidade que gostaríamos, mas continua em um processo crescente.

Como será o cronograma de reuniões do conselho?

O conselho se reunirá duas vezes por ano, a princípio. Mas poderemos ter algumas reuniões extraordinárias a qualquer momento.

Falando um pouco da composição do conselho, queria que falasse da importância do almirante Olsen assumir a liderança deste grupo.

É emblemático. O setor nuclear brasileiro é conhecido, desde seu nascimento, por ter sido guiado e fortalecido pela Marinha do Brasil. Isso depois foi se transformando e a sociedade civil passou a participar mais. Mas a Marinha tem uma história inteira dentro deste segmento. Uma história de um setor que manteve as atividades mesmo nas épocas onde era difícil ter recursos.

Por isso, a participação do Almirante Olsen, que é uma figura extremamente representativa e muito afável, traz a Marinha para nos ajudar a guiar essa instituição. Eu acho que o Almirante Olsen e Marinha vão nos ajudar a trabalhar pelo conjunto do setor nuclear.

O ano de 2020 tem sido muito desafiador, por conta da Covid-19. Mesmo nesse momento difícil, quais serão as metas do conselho?

Já na primeira reunião, no dia da posse, com os 21 presidentes do conselho e os 20 conselheiros, debatemos muito a cadeia produtiva. E, principalmente, o processo de internacionalização, a captação de financiamento para o mercado e a exportação.

Nós estamos preparados, em determinados elos da cadeia produtiva, para exportar. Isso foi um tema importante porque para termos o setor solidificado, precisamos de perenidade dos processos e um mercado constituído. Não podemos falar apenas de duas usinas nucleares e uma terceira a caminho. Precisamos falar sobre outros negócios e fazer acontecer esses novos negócios. Isso criará um ambiente de mercado.

O nosso papel é fomentar parcerias externas, com mercados já constituídos. Esses mercados já consolidados possuem volume de encomendas. Isso é muito importante para fazer com que o setor nuclear brasileiro avance. O debate acerca disso já começou.

Outra questão que devemos abordar é a inserção das pequenas e médias empresas no trabalho dentro do segmento nuclear. Estamos falando de um mercado intensivo em tecnologia e com muitas regras. Não é um ambiente tão simples para empresas deste porte, mas é um ambiente possível para elas.

Como o setor nuclear está se movimentado para avançar, mesmo diante do cenário da pandemia? E como a Abdan pode colaborar com isso?

A primeira coisa é construir o ambiente de negócios que mencionei anteriormente. A Abdan está se dedicando a fazer isso acontecer. Estamos com reuniões virtuais semanais, fazendo com que se movimente o mercado. A Abdan tem buscado o apoio do Sebrae, no sentido de apoiar as pequenas e médias empresas.

Por exemplo, nós tivemos algumas empresas do setor de medicina nuclear, fabricantes de recipientes e invólucros para transporte, que por conta de seu registro na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] estão se inserindo em outro tipo de produção para poder atender as questões do Covid-19. O setor nuclear permite muita transversalidade.

E quanto à usina de Angra 3? Como o senhor vê o processo de retomada da obra nesse cenário de pandemia?

O Covid-19 sempre vai atrapalhar em todos os sentidos. Mas existe também a questão financeira. O câmbio é uma questão forte. Isso sempre prejudica qualquer projeto nacional.

Sobre essa questão de Angra 3, precisamos aguardar o governo tomar uma decisão sobre o modelo de parceria. E esse modelo precisa ser muito bem discutido. Porque todo o mundo precisará de recursos no pós-pandemia. Ou seja, sempre teremos esse grau de dificuldade. Mas também existem muitas oportunidades.

Há pouco tempo, o secretário de planejamento energético do Ministério de Minas e Energia, Reive Barros, declarou que a intenção do governo é colocar o Plano Nacional de Energia 2050 em consulta pública. Vamos torcer para que isso aconteça, porque vai gerar expectativas sobre a construção de novas centrais.

Então, acho que não podemos usar a Covid-19 como desculpa. Até porque, todos estamos vivendo um momento onde nos reunimos 10 vezes mais, mesmo que virtualmente. E estamos trabalhando muito mais horas do que antes. Então, a pandemia não é desculpa para que o país não faça acontecer todas as questões que precisam ser trabalhadas.

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