NOVO CONSELHEIRO DA PETROBRÁS CRITICA RETIRADA DE PROJETOS DO BRASIL E PEDE CAUTELA EM RELAÇÃO ÀS EMPRESAS INVESTIGADAS NA LAVA-JATO

Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) –

Deyvid BacelarAs mudanças no Conselho de Administração da Petrobrás seguem ocorrendo, após a saída de Graça Foster. Desta vez, o novo membro é Deyvid Bacelar, técnico de segurança da estatal na Refinaria Landulpho Alves (RLAM), eleito como representante dos funcionários da companhia no conselho. Bacelar se junta a outros nove conselheiros: sete indicados pelo governo, um pelos acionistas minoritários de ações ordinárias e outro pelos acionistas preferencialistas. Coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), ele venceu o atual representante dos funcionários no conselho e candidato à reeleição, Silvio Sinedino, com apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Durante sua campanha, Bacelar levantou bandeiras como Petrobrás 100% pública, participação de funcionários nas discussões de temas referentes ao Acordo Coletivo de Trabalho e Previdência Complementar, além de extensão do mandato de representante dos funcionários para dois anos com apenas uma reeleição. No entanto, para ele, seu maior desafio é melhorar a comunicação com os funcionários, deixando-os a par de todas as discussões realizadas no conselho.

Bacelar, ao contrário de seu antecessor, achou boa a escolha do nome de Aldemir Bendine para assumir a presidência da Petrobrás, afirmando que foi “um alívio” por não ser um nome do mercado. Apesar do posicionamento mais alinhado ao governo e às centrais sindicais, o novo conselheiro não ameniza o tom na hora de reclamar do desrespeito ao conteúdo local e acredita que a Operação lava Jato deve servir para punir corruptos e corruptores, mas não as empresas. “Estrangular as empresas é inadmissível. Não podemos acabar com os mais de 80 mil empregos que a Petrobrás gera direta e indiretamente”, diz, criticando veementemente a decisão da estatal de levar projetos para o exterior, como os módulos dos FPSOs replicantes: “É um absurdo a companhia ter tomado essa decisão. Não mais licitar com empresas brasileiras fere a lei de conteúdo nacional. Apesar de mais barato – por conta das leis trabalhistas quase inexistentes, que fazem com que a mão de obra seja quase escrava em alguns países -, é um atentado contra as empresas nacionais. Esperamos que o novo conselho e o novo presidente revisem essa decisão”. 

Qual a expectativa dos funcionários da Petrobrás com Aldemir Bendine na presidência da companhia? Algum outro nome estava na cabeça dos funcionários?

A nossa grande expectativa é de que tenhamos maior participação nos processos decisórios da companhia. Atualmente, na escolha de presidente da Petrobrás, por exemplo, os funcionários não têm voz. É preciso repensar este modelo. Em universidades federais, há uma participação efetiva de todos que a compõem – docentes, discentes e técnicos. Nossa esperança é que haja futuramente um processo mais democrático.

A nomeação de Aldemir Bendine é um alívio, já que sua escolha não veio por parte do mercado. Todos os nomes que foram expostos pela mídia eram quadros históricos do neoliberalismo. Não só funcionários da Petrobrás, mas toda a cadeia de óleo e gás sofreria caso um desses nomes fosse confirmado no cargo.

Por que o seu adversário era contrário a este nome?

A interpretação que tivemos é que seu posicionamento é mais alinhado com os acionistas minoritários, representantes do mercado. A posição do mercado nunca é a posição dos trabalhadores.

Uma das suas propostas é a ampliação do mandato como representante para dois anos com apenas uma reeleição. Qual o ganho efetivo com essa mudança?

A eleição acabou de acontecer agora, em janeiro. Minha indicação será oficializada na Assembleia Geral dos Acionistas da Petrobrás, em março, e tomo posse somente em abril. Em dezembro já é hora de começar a campanha toda de novo. É urgente que haja essa mudança. O mandato acaba sendo efetivamente de sete meses. Se fosse de dois anos, haveria mais tempo para o representante se inteirar da dinâmica e pautas que estão sendo discutidas. Defender apenas uma reeleição é para oxigenar o Conselho, impedindo que fiquem sempre as mesmas pessoas.

Quais as principais reivindicações que o senhor vem recebendo dos funcionários?

A principal, sem dúvida alguma, é uma maior transparência com relação às decisões do Conselho de Administração. Tivemos algumas dificuldades com o atual conselheiro quanto a comunicação com os trabalhadores. Apesar de todas as ferramentas disponíveis hoje em dia, como redes sociais, informativos e coisas do tipo, a comunicação não foi feita como gostaríamos. Sempre respeitando o termo de confidencialidade, com certeza.

Em segundo lugar, a atuação em si é algo bastante conversado. O espaço de representante não é meu, mas de todos os trabalhadores. Para que eles sejam realmente representados no Conselho, eles devem saber o que está sendo discutido.

Como vê o processo pelo qual a Petrobrás vem passando, com a crise financeira e ética, além do cancelamento e da retirada de projetos do país?

É um absurdo a companhia ter tomado essa decisão. Não mais licitar com empresas brasileiras fere a lei de conteúdo nacional. É inadmissível que plataformas e navios entrem em licitações internacionais apenas, correndo o risco de serem feitos em Singapura e na China. Apesar de mais barato – por conta das leis trabalhistas quase inexistentes, que fazem com que a mão de obra seja quase escrava -, é um atentado contra as empresas nacionais. Esperamos que o novo conselho e o novo presidente revisem essa decisão.

Todas as denúncias da Operação Lava-Jato devem servir para prender os gestores corruptos e os empresários corruptores. Mas estrangular as empresas é inadmissível. Queremos que pessoas sejam punidas, não empresas. Não podemos acabar com os mais de 80 mil empregos que a Petrobrás gera direta e indiretamente.
Existem outros meios de melhorar a situação da companhia. Estamos falando de uma empresa responsável por 13% de todo o PIB nacional. Reajustar preços e contratos é a melhor saída para evitar a manutenção de superfaturamento.

Seu posicionamento político é bastante alinhado com o discurso do governo federal, mesmo assim o senhor promete uma atuação autônoma e independente. Como conciliar?

É perfeitamente possível. Por exemplo, sou coordenador do Sindipetro-BA, entidade filiada a FUP e CUT. A CUT tem como diretriz independência e autonomia diante do governo e patrão. Nossa atuação é, sim, independente. O Sindipetro do Norte Fluminense interditou 17 plataformas nos últimos quatro anos. Aqui pelo Sindipetro-BA interditamos a Refinaria Landulpho Alves (RLAM) por duas vezes. Neste ano, cinco incêndios foram registrados do dia 14 de janeiro até o fim do mês. No dia seguinte ao incêndio com explosão que feriu três funcionários, nós paralisamos nossas atividades por 24h.

Qual a importância da retirada das restrições previstas no terceiro parágrafo do artigo 2° da lei 12.353/2010 (que rege a participação dos empregados nos conselhos de administração das empresas públicas e nas sociedades de economia mista), uma das suas bandeiras?

Uma alegação do governo federal à época é que poderia haver conflito de interesses. O trabalhador eleito para o cargo estaria defendendo seus direitos, tanto trabalhistas, como previdenciários. É importante que continuemos pautando nossa reivindicação no Congresso Nacional, seguir nessa batalha iniciada pela deputada Fátima Bezerra (PT-RN) com o Projeto de Lei 6.051, que pretende acabar com essas barreiras criadas pelo governo. Esse Projeto de Lei foi aprovado pela Comissão do Trabalho em 2013 e segue seu trâmite dentro do Congresso.

Por que defende a lei que torna a Petrobrás e suas subsidiárias 100% públicas?

Este é um projeto de iniciativa das centrais sindicais, com um protagonismo muito grande da FUP. Este projeto de lei é fundamental para a soberania nacional. O petróleo é um recurso mineral que movimenta toda a economia e indústria brasileira. É um recurso tão valioso que países como os Estados Unidos buscam aumentar suas reservas através de guerras no Oriente Médio, por exemplo. É preciso repensar o petróleo no Brasil. O caso da Noruega é emblemático e deve ser tomado como modelo. Lá, a Statoil, petroleira estatal, foi a grande responsável por toda a mudança e bem estar social do país. A destinação do dinheiro gerado com o pré-sal para fundos específicos é muito interessante, mas deve ser ampliada.

As reservas brasileiras são infinitamente maiores que as norueguesas. O petróleo é um ativo estratégico para o país. Mexer na distribuição de renda oriunda dele ou alterar sua produção é muito difícil, ainda mais com o congresso conservador que foi eleito na última eleição. Somente com um forte apoio popular é possível imaginar uma mudança dessas ocorrendo. Por outro lado, há também o lobby de diversas petroleiras, como British Petroleum, Exxon, Shell, entre outras. A influência dessas empresas sobre legislativo, executivo e judiciário é enorme. Há também o apoio do 4º poder, a mídia, para a manutenção do modelo que é usado atualmente.

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Edson AlmeidaMarcosmarcelo fariasASSIS PEREIRASantos Recent comment authors
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Marco Jusevicius
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Marco Jusevicius

Entrevista muito ruim para a Petrobras e boa para o governo. A visão corporativista de Deyvid sobre os assuntos da Petrobras e do setor é compreensível pela sua origem, mas não é o que a Petrobras necessita nesse momento. Por mais que ele declare independência, o caminho natural é que ele (suportado pela FUP e CUT) se alinhará com os representantes de governo no Conselho de Administração da empresa. Assim vislumbrar um avanço consistente na situação de gestão da petroleira fica mais distante. Horizonte muito turvo para a empresa nos próximos meses, minha opinião.

Santos
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Santos

Muito bom Marco, se a alta direção Petrobras é dependente do governo, vide a opção nesta semana, muito difícil manter posição independente.

Edson Almeida
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Edson Almeida

ESSE É O CANDIDATO DO PT E DO GOVERNO DILMA! A Lei 12353 instituiu a participação dos trabalhadores no Conselho de Administração das Estatais eleitos por eleição direta e em decorrência da atuação do petroleiro eleito Sílvio Sinedino foi revelada a compra da Refinaria de Pasadena, e a partir daí o PT e a gerência da Petrobrás infestada por ex-sindicalistas da CNB- CONSTRUINDO UM NOVO BRASIL, que saíram da FUP – Federação Única dos Petroleiros, para serem altos gerentes A FUP que é o braço sindical da CUT/PT usando indevidamente os recursos dos petroleiros e as facilidades do abuso do… Read more »

Santos
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Santos

Me desculpe mas o Deyvid está com o discurso da década passada. Atuo há muito tempo no ambiente industrial e vejo com tristeza que o pensamento continua com protecionismo. Não questiono o conteúdo local, esse sim uma forma positiva de alavancar a indústria nacional. Agora Petrobras, e estamos falando de suas subsidiárias também, 100% pública vai continuar o que é; um caminho para acomodar políticos. Neste momento de crise seria uma boa oportunidade um projeto de presença privada neste mercado.

ASSIS PEREIRA
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ASSIS PEREIRA

GÊNESIS DA CORRUPÇÃO NA PETROBRAS Na qualidade de ex-empregado da Petrobras, trabalhando por décadas como engenheiro especialista em contratação de grande porte, fui testemunha do início do processo de aparelhamento que foi engendrado na maior empresa nacional, orquestrado por sindicalistas, políticos e empresários inescrupulosos, lobistas e aproveitadores de plantão. No idos de 2003, fim do mandato de FHC e inicio do primeiro mandato do Lula, instalou-se na área de RH da Petrobras uma “mão sindicalista” operacionalizada naquela oportunidade pelo atual chefe da comunicação institucional, Wilson Santarosa, sindicalista incrustado na Estatal a serviços do esquema fraudulento que lá se instalou naquela… Read more »

marcelo farias
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marcelo farias

Mais um fanático Petista que é amplamente alinhado com o governo bolivariano petista. Não agrega nada ao país, protecionismo puro, sinônimo de pobreza de idéias, pensamentos retrógrados como a bandeira levantada pelo seu partido, que está destruindo nosso país. Sorte deles que a maioria é formada por ignorantes sem acesso a informação que os manterão por algum tempo ainda no poder. Vergonha de ser brasileiro!!!

marcelo farias
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marcelo farias

PTralhas!!!!!

Marcos
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Marcos

Boa tarde. O discurso corporativista e ate compreensivel e necessario ate para tentar melhorar a relacao de forcas e dar voz aos funcionarios no Conselho de Administracao, porem o que a companhia necessita hoje nao e de discurso corporativista mas de uma limpeza em seus quadros e elevar a producao de oleo e gas, e isso so sera feito concluindo as unidades que estam em andamento. Que as acoes da Policia Federal e do Ministerio Publico prossigam, prendendo, julgando e condenando todos os culpados, sejam funcionarios da companhia estatal, diretores de companhias privadas, deputados , senadores, politicos independente de partido,… Read more »