MEMBROS DO SETOR DE ENERGIA AFIRMAM DURANTE A NT2E QUE FONTE NUCLEAR SERÁ VITAL PARA ECONOMIA E SEGURANÇA DO BRASIL

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

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Diretor do ONS, Luiz Ciocchi, participou do NT2E e destacou a importância da energia nuclear para o sistema elétrico brasileiro

O segundo dia da conferência internacional Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E) começou com um debate sobre o papel das usinas nucleares na garantia de fornecimento de energia no Brasil. O evento reuniu alguns dos principais decisores do segmento energético do país e os convidados foram unânimes em destacar o papel vital da fonte nuclear para a segurança energética e a economia do país. Um dos participantes do debate, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, afirmou que o Brasil está em um momento oportuno para discutir a energia nuclear por conta da atual crise hídrica no país – a pior dos últimos 91 anos.

A energia nuclear é esse tipo de energia de base que vem para complementar a nossa matriz energética. Do ponto de vista estrutural, faz todo o sentido o Brasil ter um programa de mais usinas nucleares. Temos combustível, tecnologia, experiência, competência técnica e recursos humanos para lidar com a tecnologia”, afirmou Ciocchi. O diretor-geral do ONS também comemorou o fato de a usina de Angra 2 ter voltado à gerar energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN), após uma parada para reabastecimento de combustível. Ciocchi disse ainda que está com uma expectativa muito grande por Angra 3, que tem início de operação previsto para outubro de 2026. “Do ponto de vista do ONS, [Angra 3] será muito bem-vinda”, completou.

Diretor-Presidente Amazul - Ney Zanella

Ney Zanella, assessor especial do MME

Ainda falando de Angra 3, o assessor especial de gestão estratégica do Ministério de Minas e Energia, Ney Zanella, deixou um recado claro durante o evento: a usina é a prioridade número 1 do governo na área de energia nuclear. “Hoje com 65% de obras concluídas, o nosso foco é colocar essa energia de base [de Angra 3] na região Sudeste, acrescentando 1,4 GW de geração ao sistema ainda nessa década”, declarou.

Zanella também mencionou sobre os movimentos do governo no sentido de preparar o caminho para permitir uma maior participação do setor privado no segmento nuclear brasileiro. “Estamos fazendo o ajuste do marco na parte do monopólio. A ideia é fazer esse ajuste com uma flexibilização, sem quebrar o monopólio estatal. Queremos que os atores privados possam participar da atividade nuclear mediante parcerias e cooperação”, detalhou.

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Alexandre Viana, da Thymos Energia

A maior presença privada no segmento de geração nuclear é um tema muito vivo e recorrente nos debates dessa indústria. O diretor da Thymos Energia, Alexandre Viana, que também participou do painel da NT2E, acredita que é crucial delimitar um novo papel para os entes privados no segmento nuclear brasileiro.

Será muito importante contar com essa tecnologia, não apenas como algo relacionado ao conhecimento tecnológico para o país, mas também como parte de um portfólio equilibrado de gestão do nosso grid. Todas as fontes precisam fazer parte desse portfólio e a nuclear é muito útil por ser uma fonte confiável de suprimento”, analisou.

ENERGIA NUCLEAR PARA SUSTENTAR O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL

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Thiago Barral

O Brasil ainda vive os efeitos da pandemia, mas a nossa economia vai pouco a pouco retomando o caminho do crescimento. É o que mostram os indicadores econômicos mais recentes. Para os próximos anos, a expectativa é que o nosso país evolua a taxas maiores, o que vai demandar também um aumento na capacidade de geração do país. “Se o Brasil vai sustentar uma trajetória de crescimento econômico nas próximas décadas, estamos falando em multiplicar mais do que três vezes a demanda por energia elétrica no país”, ponderou o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral.

Outros pontos abordados pelo chefe da EPE foram os desafios das mudanças climáticas e da redução de emissões. Barral lembrou que o Brasil é signatário do Acordo do Paris e frisou que o país anunciou suas ambições de neutralidade de carbono até 2050. Para ele, a energia nuclear se insere nesse contexto de discussão ambiental, pelo fato de ser uma fonte de baixas emissões de gases do efeito estufa.

Assim como dito por Ney Zanella, o presidente da EPE também afirmou que o foco atual está na conclusão de Angra 3. Contudo, como apontado pelo Plano Nacional de Energia (PNE 2050), existe a indicação de construção de até 10 GW de nova capacidade nuclear durante os próximos 30 anos. Barral fez considerações sobre o caminho que deverá ser trilhado para o Brasil alcançar essa meta.

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O debate teve moderação técnica de Reive Barros e apresentação do jornalista Rodrigo Polito

Pavimentar a energia nuclear pós-Angra 3 abrange, em primeiro lugar, a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que incluiu a energia nuclear como área prioritária para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Em segundo, está o acordo de cooperação técnica firmado entre a EPE e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para o estudo de pequenos reatores modulares”, disse Barral. “Todos esses são elementos que estão relacionados à estratégia de desenvolvimento da energia nuclear pós-Angra 3”, finalizou o presidente da EPE.

O debate de hoje teve ainda a participação do diretor de engenharia da Chesf, Reive Barros, que também reforçou o papel da nuclear na segurança energética do Brasil. “Hoje, diante dos problemas que estamos vivendo em relação à crise hídrica, a nuclear tem tido um papel importante. Por outro lado, se falarmos de Angra 1 e Angra 2, são unidades que estão próximas à carga. Isso significa menores custos de transmissão. E o mais importante – e isso precisa ser precificado nos modelos – é a segurança elétrica proporcionada por essa fonte”, analisou. O painel de discussão foi moderado e apresentado pelo jornalista Rodrigo Polito, do portal MegaWhat.

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