MERCADO DE CRÉDITO DE CARBONO DEPENDE DE NOVOS ESTÍMULOS DO GOVERNO PARA CRESCER NA INDÚSTRIA

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –

sergio monteiroEm meio ao alarde das mudanças climáticas, o setor energético desempenha cada vez mais um papel de peso nos novos caminhos da indústria. Responsável por 31% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, o segmento pode aprimorar seus resultados através de créditos de carbono, solução encontrada para fomentar investimentos limpos no mercado. É nessa área que vem atuando a Embratec, companhia que estimula o uso de energias renováveis na indústria nacional e provê créditos a empresas que adotam medidas sustentáveis em suas operações. O objetivo é compensar financeiramente os aportes em energias e combustíveis limpos, como o etanol, que não têm preços competitivos no mercado, conta o diretor da Embratec, Sergio Rego Monteiro Filho. A companhia, que também atua no aumento da eficiência para veículos do setor de logística, movimenta hoje 15 mil toneladas de crédito para 30 empresas e espera dobrar as movimentações ainda este ano. A perspectiva é de crescimento para outras áreas da indústria, afirma Monteiro, mas a atratividade para investimentos depende hoje de estímulos por parte do governo. “Antes de tudo, o governo precisa criar incentivos para a utilização de combustíveis renováveis”, aponta o executivo. “A política de subsídio ao petróleo vai na direção contrária, e isso cria um problema sério para quem quer usar combustível renovável, porque deixa de ser competitivo”.

Como é a atuação da Embratec no segmento de crédito de carbono?

Nós lançamos um programa de crédito de carbono voluntário. Neste ano, estamos provendo cerca de 15 mil toneladas de crédito para 30 empresas. Nós damos o crédito em virtude da transação do combustível renovável, que é o etanol. Quando um cliente muda sua frota e seu consumo, nós conseguimos dar o crédito de carbono.

Como isso é feito na prática?

O que gera crédito é a migração, a mudança. Se uma empresa, de 100% de utilização de combustível, muda seus 60% de gasolina para etanol, ela ganha crédito. Ele foi criado na medida em que custa caro para a empresa migrar, então foi desenvolvido para compensar o valor econômico. Hoje, o preço da tonelada de emissão está em torno de US$ 5.

Quais são hoje os maiores desafios para o crescimento desse serviço?

Antes de tudo, o governo precisa criar incentivos para a utilização de combustíveis renováveis. Hoje, temos subsídio ao preço da gasolina, o que tira a competitividade do etanol. Outra questão que dificulta é a cultura. É preciso definir políticas mais firmes para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa em veículos como um todo. O Brasil é muito dependente de rodovias. Temos uma péssima hidrovia, cabotagem, gargalos nos portos, ferrovias sucateadas e 1,7 milhão de km de estradas, sendo somente 12% pavimentadas. Além de concentrar e não criar mais opções de transporte, existe a dependência com uma péssima qualidade.

Que setores são os principais responsáveis hoje pelas emissões no Brasil?

Em 2001, 70% das emissões eram oriundas do desmatamento. O governo começou a controlar e hoje representa só 30%. O segmento de energia, que tinha 11%, hoje tem uma parte de 31%. E o setor de transportes, que é adjacente ao setor energético, cresceu 450% nesse tempo. A área de transportes vai ter papel extremamente importante na redução das emissões. É fundamental aumentar a eficiência dos veículos, reduzir custos e efeitos nocivos ao meio ambiente.

A Embratec atua com crédito de carbono junto a empresas do setor de energia?

Algumas empresas estão com proposta para obter crédito, mas ainda não entraram no programa. Entre elas estão a CPFL e a AES, por exemplo.

O senhor avalia que esse mercado deve crescer na indústria de óleo e gás?

Eu acho que pode crescer, mas tudo dependerá das metas que o Brasil vai querer efetivamente atingir. O setor de óleo e gás depende da venda, então acho que, para que comece a investir em energia renovável, o preço do petróleo teria que ficar inviável. A política de subsídio ao petróleo aplicada pelo governo vai na direção contrária. O preço é diminuído artificialmente para controlar a inflação, mas isso cria um problema sério para quem quer usar combustível renovável, porque deixa de ser competitivo.

Qual a perspectiva da Embratec para crescimento dessa área em 2016?

Em termos de crédito de carbono, acho que esse mercado pode dobrar neste ano, chegando a 30 mil toneladas. As empresas ainda estão se conscientizando em relação ao aquecimento global e é uma mudança lenta, mas acho que caminhamos para uma transição.

Que serviços a empresa presta para aumento de eficiência?

Somos uma empresa que desenvolveu meios inteligentes de pagamento eletrônico. Através de um cartão magnético, é possível captar informações que vão além da data da transação. Assim, desenvolvemos um cartão para abastecimento de veículos que captura todos os dados do processo, como o preço do litro de combustível e o ponto de venda. Isso nos permite analisar melhor o desempenho de carros e o custo deles; nós conseguimos alcançar uma redução de até 20% nos gastos. Isso é importante hoje para a gestão de abastecimento e manutenção de veículos, que teve como pioneiro o setor de energia.

De que forma isso é levado às empresas?

Como trabalhamos com um indicador real, nós agrupamos os veículos por tipo de combustível ou marca e calculamos o custo real por km rodado. Nós analisamos então a média por operação e vemos quais estão fora do parâmetro. Depois que é feito isso, nós traçamos a performance ideal de determinado carro e colocamos isso no sistema, que não deixa fazer transações fora dessa faixa de preço. O Brasil tem 38 mil postos e sabemos qual é o melhor preço praticado, então posso orientar o cliente com base nessa comparação.

Essa avaliação de preços tem gerado mudanças?

Nós temos uma área de pós-venda que vai ao cliente e mostra os benchmarks internos, além dos veículos que estão com melhor performance e como reparar isso. Às vezes isso leva à renegociação de redes de postos, de forma que concentramos o abastecimento em unidades com preço mais competitivo.

O setor de energia concentra muitas demandas nessa área?

É um setor importante porque dá capilaridade às nossas operações. Essas empresas são importantes e estão espalhadas em diversas áreas.

O país vem avançando na eficiência do setor de transportes?

O governo criou alguns projetos, como o Programa de Incentivo à Logística (PIL). Ainda está no papel, mas é uma promessa de investimento. É preciso revitalizar as rodovias e melhorar as vias de transporte. Isso tem impacto logístico, social e econômico.

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Gostaria de obter um contato da EMBRATEC para entender melhor se ela teria interesse em financiar projetos de Fábricas no Brasil para manufatura de compressores de refrigeração à base de CO2, que além de serem mais eficientes do que os tradicionais R134a, são até 1200 vezes menos nocivos à camada de ozônio. A tecnologia pertence a um grupo econômico Japonés, com fábrica já em operação na China e que teria interesse em se instalar no Estado do Rio de Janeiro. O Governo do Estado do Rio de Janeiro inclusive já sinalizou com pacote de benefícios tributaries no caso da instalação… Read more »

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