ONIP BUSCA PARCERIAS INTERNACIONAIS E APOSTA EM NOVAS JOINT VENTURES PARA IMPULSIONAR A INDÚSTRIA BRASILEIRA

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) / Enviado Especial –

Bruno Musso - ONIPHOUSTON – Com investimentos ainda reduzidos na cadeia global de óleo e gás, o momento é de buscar novas parcerias que agreguem serviços sem a necessidade de grandes aportes. A procura por negócios rentáveis movimenta hoje o interesse das empresas que estão presentes em Houston para a OTC, e o cenário não é diferente para os representantes do mercado brasileiro. É com esse foco que a Organização Nacional da Indústria de Petróleo (ONIP) veio à feira e traça hoje novas perspectivas de cooperação para impulsionar o setor no Brasil, direcionando a atenção principalmente para a formação de joint-ventures que gerem valor, sem, no entanto, requerer grandes compromissos financeiros. De acordo com o superintendente da ONIP, Bruno Musso, esse tipo de parceria vem atraindo o interesse de companhias estrangeiras e favorece o cumprimento de índices de conteúdo local na indústria brasileira, ao passo que cada vez mais empresas apostam no intercâmbio de tecnologias para ter seu produto presente em diversos países. A perspectiva é de otimismo para a entidade, que já tem acordos encaminhados com investidores do Reino Unido e avança agora em novas missões internacionais: ao longo da próxima semana, o grupo se reunirá com empresários norte-americanos e a expectativa é de que em novembro sejam firmadas novas parcerias na Europa. Com isso, segundo Musso, as metas são altas: no final de 2016, a ONIP espera ter obtido a assinatura de dez memorandos de entendimento entre companhias brasileiras e estrangeiras.

Quais são hoje os principais projetos da ONIP?

Aqui na OTC, nosso trabalho é vinculado com a Apex na área de atração de investimentos pro Brasil. É uma iniciativa nossa de tentar adensar a cadeia brasileira trazendo empresas estrangeiras e produtos em parcerias com companhias brasileiras. Ou seja, essas parcerias têm que ter alguma agregação de conteúdo local, esse é o foco do projeto.

Em que fase está esse projeto?

Está na fase das missões. Nós fizemos um road show, apresentando o projeto em outros estados, na FIRJAN, e depois fomos visitar empresas brasileiras. A partir do final do ano passado, nós começamos as missões no exterior. Fomos ao Reino Unido, por ocasião da feira de Aberdeen, e depois fizemos uma semana de visitas a empresas. Aqui nós vamos fazer o mesmo modelo: algumas reuniões já estão marcadas no estande da feira, mas na semana seguinte vamos visitar empresas. Eu voltarei para o Brasil, mas o Aloísio Nobrega, da ONIP, e o Sérgio Ferreira, da Apex, têm uma serie de visitas agendadas. Vamos tentar fazer um encontro com empresas estrangeiras e brasileiras, focados na Rio Oil & Gas.

A missão no Reino Unido já trouxe resultados?

Sim, já teve. Temos duas ou três possibilidades de acordo, o que é muito importante.

Pode falar quais são esses acordos?

Ainda não, porque eles estão avaliando. Os dois casos são na área metalmecânica, para equipamentos. Não estamos olhando projetos de serviço, mas de fabricação.

Qual é o foco deles?

Nós fazemos joint-ventures, e procuramos diferenciar isso das parcerias do tipo representação. Joint-venture é agregação de conteúdo local com algum percentual, e nem sempre precisa de investimento do lado estrangeiro. Por exemplo, uma empresa estrangeira tem um produto bom, e uma brasileira tem uma fábrica excelente, mas sem a engenharia. Fazendo um acordo, a empresa brasileira pode começar a fabricar para o mercado nacional. Isso não implica investimento do lado estrangeiro e pouco ou nenhum do lado brasileiro, mas os dois estão entregando algo que talvez não exista no mercado nacional e agregando conteúdo local. Na medida em que você consegue agregar isso à sua operação, de forma viável, você se diferencia do seu concorrente.

Devido às pressões do atual momento, o governo vem dando sinalizações de mudança no conteúdo local. Isso preocupa muitos empresários brasileiros que fizeram investimentos ao longo desses últimos anos, com expansão de fábricas e diversos outros projetos. Como a ONIP vê isso e de que forma ela vem atuando para influenciar essa questão?

Flexibilizar ou alterar regras ao longo do tempo faz sentido, porque você precisa estar sempre olhando suas políticas em relação ao momento do mercado. Neste momento, em que os investimentos estão em queda e as grandes empresas – não só do Brasil – estão fazendo redução de custos, mudanças de regras fazem sentido com a condição de mercado. Sob esse ponto de vista, não vejo problemas, mas é preciso entender que mudanças serão essas. Temos que aguardar pra ver. Em relação ao empresariado que investiu, é preocupante. As políticas que foram adotadas não resultaram no volume que se esperava de encomendas no Brasil.

Isso é um fato, mas por que acha que se deu dessa forma?

Depende de cada segmento. Tenho a impressão que, de uma maneira geral, a indústria está tendo que entregar índices altos de conteúdo local em um volume de investimentos que ao longo do tempo cresceu exponencialmente. A curva de crescimento no Brasil foi muito pesada. É um desafio muito grande o conteúdo local acompanhar esse volume de investimentos.

Havia uma expectativa de aumentar produtividade e competitividade. Quais foram os pontos críticos para que isso não tenha sido alcançado na medida esperada?

São vários, é difícil apontar um. Eu acho que precisamos avançar na questão das políticas públicas, com a gestão das regras de conteúdo local. Elas precisam se adequar ao momento do mercado, como a mudança do regime de partilha que está sendo debatida no Senado. Há uma série de pontos a serem debatidos em conjunto, não adianta resolver problemas isoladamente. Temos que aproveitar esse momento para fazer a construção de um modelo bem mais abrangente.

Para a ONIP, quais seriam os modelos mais integrados para lidar com esses pontos?

De alguma forma têm que ser dadas condições à indústria local para ser competitiva. Isso passa por políticas públicas e investimentos do empresariado, então tem dever de casa para os dois lados.

Quais seriam esses deveres para os dois lados, especificamente?

No setor público, a revisão da obrigatoriedade da Petrobrás no pré-sal. No ponto de vista do ordenamento regulatório, é algo que está sendo discutido abertamente e achamos que é o caminho. Se não for feito, talvez não consigamos alavancar investimentos, e sem investimentos não há demandas para a indústria. No lado da indústria, aumento de produtividade e organização no parque fabril. Hoje há uma ociosidade grande, com defasagem média de 18 anos nos equipamentos do parque industrial brasileiro, de acordo com dados do próprio mercado.

Quais são os próximos passos da ONIP daqui para frente?

Começamos as missões no Reino Unido no ano passado, e fizemos, há 15 dias, Malásia e Cingapura, com foco no mercado de navipeças. Nós fazemos mapeamento e depois tentamos identificar os “casamentos perfeitos”. Agora estamos fazendo Estados Unidos, até a próxima semana, e depois Europa. Serão três missões: Alemanha, Dinamarca, França, Holanda e Noruega, naturalmente. Estamos fazendo o calendário para este ano, e encerraremos essas missões até novembro.

Depois disso o projeto será encerrado?

Nós veremos com a Apex e faremos um balanço. A nossa ideia é que isso se transforme em um programa.

O projeto tem hoje alguma meta em números?

Para este projeto atual, queremos chegar ao final de 2016 com dez memorandos de entendimento assinados para formação de joint-ventures. 

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