CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA AVALIA QUE PETROBRÁS DEVE FOCAR EM ATIVIDADES DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –

Adriano-PiresA retomada do crescimento no setor de óleo e gás no Brasil passa, necessariamente, pela reconstrução da Petrobrás, que agora está nas mãos de Pedro Parente. Na opinião de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura – e que chegou a ser cotado para a presidência da Petrobrás -, o governo fez uma excelente escolha ao colocar Parente no comando da estatal neste momento de reestruturação. Para Pires, a Petrobrás deve continuar com o programa de desinvestimentos, e considera que a empresa deve focar em atividades de Exploração e Produção. “Eu sou a favor dos desinvestimentos, mas sou contra a forma como eles estavam sendo desenvolvidos na gestão de Bendine. O Parente disse que tem a preocupação em não vender de forma desvalorizada“, acrescentou. O executivo sugere a venda de 10% da participação da Petrobrás no campo de Libra, o desinvestimento de ativos em setores como etanol e biodiesel, e alerta para os desafios que Parente enfrentará no comando da companhia: “A Petrobrás nunca esteve numa situação tão frágil. Internamente, existe um grande desafio do desaparelhamento da empresa, que não será fácil“, opinou.

Como o senhor avalia a gestão de Aldemir Bendine?

Eu avalio como uma gestão de cunho estritamente financeiro, sem estratégias. O plano de desinvestimentos dele não mostra estratégias para o futuro, foi apenas um plano para vender. Quem quisesse, comprava. A venda que ele queria fazer teria muito mais efeito para diminuir a liquidez no curto prazo, mas não para combater o que precisava, que era a dívida. Hoje, a empresa é mais endividada do que quando ele entrou, além de não ter estabelecido uma política de preço de combustíveis. Para mim não teve uma gestão melhor [entre Sergio Gabrielli, Graça Foster e Bendine], foram todos ruins, com especificações diferentes.

Como avalia a operação única da Petrobrás no pré-sal? Deve haver mudança?

Eu acho que foi feita de forma totalmente equivocada. O modelo de partilha foi criado em 2010, na fase de euforia do mercado de petróleo e em função de opções ideológicas e políticas. Naquele momento, a Petrobrás vivia um momento mágico, tinha pré-sal, capitalização e mercado crescendo. O governo conseguiu passar tudo no Congresso, mas até ali – e antes disso – parou de fazer leilões. Só teve o de Libra, em 2013. No atual momento, esse modelo de operador único só traz ônus e nenhum bônus, porque não dá o direito de escolha à Petrobrás; ela entra no que é bom e no que é ruim. E não alterar esse modelo, como disse o Parente, é estagnar a produção de petróleo do país. A Petrobrás não tem condição de investir 30% nesses projetos. Acho que seria um avanço importante para o Brasil se a Câmara aprovasse o projeto do Serra, e o Temer sancionasse. Seria o ideal, convocando ainda um leilão do pré-sal para o ano que vem.

A mudança na operação única não pode prejudicar, no futuro, o setor de petróleo?

Não há risco nenhum, porque tem outras empresas com capacidade de operar esses campos. A mudança no regime de partilha diz que a Petrobrás continuará tendo preferência; quando ela estiver em uma condição boa, vai poder participar de leilão e pegar campos do pré-sal. Acho injustiça pensarmos na Petrobrás e esquecermos o Brasil dos brasileiros. Infelizmente, a Petrobrás não pode participar como operadora única porque foi quebrada pelo PT, que deixou a empresa com a maior dívida do mundo e juros enormes. É injusto esperar que ela se recupere porque os brasileiros precisam de emprego, assim como os estados precisam ganhar royalties. Para a Petrobrás não é tanta tragédia. Ela tem tanto investimento para fazer que hoje não consegue dar conta sozinha, como a cessão onerosa e sua extensão. Não será nada ruim para ela que se realize outros leilões e outras empresas ganhem.

Como vê hoje as exigências de conteúdo local na indústria brasileira?

Citando mais uma vez o Parente, conteúdo local não pode ser reserva de mercado, e sim deve trazer inovação para a indústria brasileira. O conteúdo local feito no Brasil foi uma política que não olhou se existiam fornecedores com capacidade de fabricar os equipamentos necessários. Foi criada uma situação em que os amigos do rei foram escolhidos, fizeram leilões com estaleiros virtuais, que ainda seriam construídos. Eu acho que os problemas de conteúdo local são uma das bases que explicam a Lava-Jato.

Como assim?

Ali você escolheu os amigos do rei, quem são os estaleiros, os fornecedores etc. Os grandes punidos pela política de conteúdo local foram os que deveriam ser protegidos, como o pequeno e o médio produtor. Ela só beneficiou os grandes. A regra de conteúdo local tem que ser revista. Isso porque, do jeito que ela foi feita pelo PT, tem muito campo de petróleo que vai ser inviabilizado porque não tem como cumprir as exigências. Se não der waver em algumas situações, os projetos serão inviabilizados.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) afirma que a política de conteúdo local é feita em fases, então hoje estaríamos em uma transição. Como avalia essa postura?

Eu acho que a posição da ANP tem sido muito tímida. Ela não tem tido as posições necessárias para uma agência reguladora independente e forte. Durante o governo do PT, não só a ANP, como a Aneel e outras agências, foram capturadas pelo executivo. Elas trabalharam com muito menos economia, menos orçamento e sem poder realmente enfrentar os gargalos regulatórios do país.

Mas o senhor considera positivas as mudanças que vêm sendo feitas?

São medidas tímidas. O mercado esperava muito mais, e ela tinha obrigação de fazer muito mais.

Quando acha que a Petrobrás pode voltar a crescer?

A Petrobrás hoje é uma empresa quebrada e precisa ser refundada. Se não for, dificulta a recuperação brasileira; o Brasil e a empresa perdem grau de investimento. Ela pode voltar a crescer, mas isso é um trabalho demorado. Para voltarmos a ter boas notícias dela, é preciso atacar três pontos. O primeiro é restaurar a governança, estabelecendo um Conselho de Administração com membros independentes, que entendam de petróleo e finanças, e uma diretoria de credibilidade, que o mercado vê pelo mérito e não pela indicação. O segundo ponto é um planejamento estratégico realista. Basicamente, ter uma política de preço de combustíveis transparente, de acordo com a situação da empresa, e um plano de desinvestimentos que diferencia o core business do resto. O que não for, pode vender tranquilamente. Se for, pode estar vendendo ativos valiosos, e nesse caso perde também a geração de caixa. Com certos ativos é preciso cuidado, porque pode estar se entregando um monopólio estatal para o monopólio privado. O terceiro ponto, por fim, é ter uma disciplina na estrutura de capital da Petrobrás, porque ela hoje é indisciplinada. Isso envolve corte de custos e promover capitalização no mercado, inclusive diluindo o acionista majoritário, que é o governo.

A gestão de Bendine ficou marcada pelos desinvestimentos, e o Pedro Parente afirmou que dará continuidade à política. Como avalia essa postura do novo presidente?

A política marcou apenas o anúncio do Bendine, porque o que ele vendeu? Vendeu 49% das distribuidoras de gás, em um modelo completamente equivocado, porque não faz sentido a Petrobrás ser majoritária no mercado de concessão de gás, que tem mercado regulado e margens baixas. O que ele vendeu mais? A Petrobrás Argentina, que agora está até sendo questionada na Justiça. Sou a favor do plano de desinvestimentos, a empresa precisa vender. Primeiro porque precisa do dinheiro, e segundo porque a venda de ativos levará a uma modernidade da Petrobrás, que é a empresa que desejamos para os próximos cinco, seis, dez anos. É uma Petrobrás que invista principalmente em Exploração e Produção (E&P). Tem que ter plano estratégico, e depois disso começa a vender, porque não pode vender ativo de forma desvalorizada. Para ativos como BR Distribuidora e Transpetro, é preciso olhar a regulamentação antes de vender, porque isso vai valorizar os ativos e não vai criar uma baderna no mercado. Acho que no próprio negócio principal da Petrobrás, que é E&P, pode-se vender algumas coisas.

Uma fatia de participação em Libra e campos onshore, por exemplo, podem ser negociados. Acho também que poderia ter uma saída mais criativa para a cessão onerosa. Acredito que a lei deveria ser modificada para poder fazer farm-out tanto na cessão onerosa quanto na extensão dela.

Quanto de participação em Libra o senhor considera que deveria ser vendida?

Eu acho que 10% de participação. Acho também que mais que a fatia, o mais importante seria alterar a lei da Cessão Onerosa e da extensão da Cessão. A Liquigás, poderia ser vendida. Empresas e unidades relacionadas a etanol, biodiesel, fertilizantes e petroquímica deveriam ser vendidas. Eu, caso participasse do plano da Petrobrás, projetaria uma empresa para daqui a dez anos ser 80% voltada à E&P.

O que esperar da gestão de Pedro Parente?

Eu acho que o governo fez uma excelente escolha. O Pedro Parente é uma pessoa que já mostrou competência na gestão privada e pública. Ele fez um belo trabalho no governo FHC como ministro e, principalmente, como gestor do comitê de crise do racionamento. O governo foi muito feliz nessa escolha. Vamos torcer para que ele consiga resolver os problemas da Petrobrás – que não são poucos. Eu estou otimista.

O senhor acha que Parente irá dar um novo direcionamento à venda de ativos?

Uma coisa é dar continuidade, outra é continuar a forma como está sendo feito. Eu sou a favor dos desinvestimentos, mas sou contra a forma como eles estavam sendo desenvolvidos na gestão de Bendine. O Parente disse que tem a preocupação em não vender de forma desvalorizada. Ele disse também que tem que olhar o endividamento, sem perder o foco da geração de caixa. Estas declarações indicam que ele vai fazer os desinvestimentos de outra forma.

Quais as principais resistências que o novo presidente da Petrobrás enfrentará?

Eu acho que o Parente vai enfrentar muitos problemas e dificuldades. A Petrobrás nunca esteve numa situação tão frágil. Internamente, existe um grande desafio do desaparelhamento da empresa, que não será fácil. Ele também terá de convencer o governo de não usar a Petrobrás para fazer política econômica e tarifária. Embora eu considere que este governo esteja convencido disso, veremos isso mais adiante. O presidente terá que convencer que precisa de mais autonomia para conduzir a empresa.

O aparelhamento seria em algum setor específico da Petrobrás?

Pelo que percebo, este aparelhamento se encontra nos diferentes setores da empresa. Não existe um segmento específico. Devem ter alguns mais aparelhados do que outros.

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Manuel AudazJorgeRubens Recent comment authors
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Rubens
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Na minha opinião, este nome, CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA, é muito pretensioso para o que na verdade é uma empresa de consultoria.

Jorge
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Jorge

Completely agree with CBI, my perception as foreign supplier is very similar to that extensively explained by Adriano Pires.

It is very hard to face reality, but persons and corporations need a super crisis to grow smarter and healthy.

Petrobras with Pedro Parente at the wheel will surf to a good level of operation.

Manuel Audaz
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Manuel Audaz

Desestruturar e desarmar os piratas que ainda lá estão, pode ajudar na recuperação da Petrobras