REPERCUSSÕES DE NOVO ESCÂNDALO PODEM GERAR CONSEQUÊNCIAS GRAVES PARA A PETROBRÁS

As revelações feitas pela revista Veja sobre a farsa dos depoimentos na CPI da Petrobrás no Congresso Nacional jogam um barril de petróleo bem contaminado sobre a reputação de todos os envolvidos em mais este escândalo relacionado à Petrobrás, a maior empresa brasileira e uma das maiores petrolíferas do mundo. É de envergonhar. Será que se salva alguém envolvido neste episódio? São informações muito claras, contundentes, indefensáveis, que deverão gerar graves consequências a partir desta segunda-feira (4). Seria o caso de repensar toda liderança da companhia? Por outro lado, o comprometimento de alguns parlamentares envolvidos em mais este momento negro do congresso brasileiro só confirma a péssima imagem que a sociedade nacional tem de seus representantes. Uma investigação séria buscaria não repetir, à exaustão, perguntas inócuas e, ao que se soube, combinadas previamente. Mas seria definitiva se os envolvidos respondessem a uma só indagação: “se a empresa fosse sua e ou de sua família, se o negócio comprometesse os seus bens, teria comprado a refinaria de Pasadena pelo valor pago?”

Segundo a reportagem publicada na edição da revista, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, e ex-dirigentes da estatal, ouvidos na CPI do Senado que investiga a empresa, tiveram acesso prévio a perguntas – e respostas – que seriam feitas por parlamentares governistas durante as sessões.

A revista informa que teve acesso a um vídeo, gravado em 21 de maio, mostrando uma reunião em que o chefe do escritório da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, e um advogado da empresa, Bruno Ferreira, teriam tratado do assunto. Segundo a revista, servidores da estatal redigiram respostas às perguntas que seriam feitas e repassaram o material a Foster, ao ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor da Área Internacional Nestor Cerveró.

De acordo com a reportagem, Barrocas aparece no vídeo dizendo que as perguntas recebidas antecipadamente teriam sido formuladas pelo assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República Paulo Argenta; pelo assessor Marcos Rogério de Souza, da liderança do governo no Senado; e Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na Casa. A reportagem relata que a operação para preparar os depoimentos teria tido a participação do senador Delcídio Amaral, que é próximo a Cerveró e teria entrado em contato com o ex-diretor. A revista cita também o relator da CPI da Petrobrás no Senado, senador José Pimentel, que teria recorrido ao ex-presidente da Petrobrás José Eduardo Dutra e a Foster para fazer chegar às mãos de Gabrielli as perguntas e respostas do depoimento dado pelo ex-presidente da estatal em 20 de maio deste ano.

A única resposta até agora da estatal é que “a Petrobrás está avaliando as informações publicadas para posicionar-se posteriormente”

O presidente da CPI da Petrobrás no Senado, e da CPMI, Vital do Rêgo, disse que vai determinar a investigação da denúncia veiculada pela revista Veja sobre o envio antecipado de perguntas à presidente da estatal, Graça Foster, e ex-dirigentes da empresa, feitas por parlamentares governistas. Enquanto os relatores José Pimentel (PT-CE), do Senado, e Marco Maia (PT-RS), da CPMI, permanecem em silêncio, o peemedebista divulgou nota anunciando as providências que tomará para apurar responsabilidades e garantir o funcionamento das duas CPIs, agora sob suspeita. O parlamentar se disse surpreendido pelas informações da reportagem, destacou a importância do papel da CPI de investigar fatos e admitiu que qualquer favorecimento que possa reduzir o poder de investigação deste instrumento do Legislativo prejudica os trabalhos.

No sábado, em nota assinada pelo deputado Carlos Sampaio, coordenador jurídico da coligação de partidos que apoia a candidatura Aécio Neves, o PSDB avisou que recorrerá à Procuradoria Geral da República e aos órgãos de controle dos supostos envolvidos na articulação de envio de perguntas e respostas aos que falaram na CPI.

A liderança do PT no Senado e os dois assessores citados como os que teriam feito as perguntas previamente e encaminhado aos depoentes da CPI — Marcos Rogério e Carlos Hetzel — também não quiseram falar. Em nota, a Secretaria de Relações Institucionais negou ter elaborado perguntas, e o assessor especial do órgão Paulo Argenta garantiu que jamais preparou as questões.