PETROBRÁS BUSCA ATRAIR NOVAS EMPRESAS PARA O BRASIL DURANTE A OTC

Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) –

Paulo Alonso OTCO conteúdo local está sendo cada vez mais debatido no Brasil, mas agora a crise que afeta a indústria e a Petrobrás está começando a aumentar a pressão sobre a política, com as operadoras buscando mais flexibilização no processo. Enquanto vemos diversas empresas indo à falência e trabalhadores sendo demitidos, o modelo importado do Mar do Norte, que foi a principal alavanca da economia brasileira dos últimos anos, passou a ser alvo de críticas de vários lados. Com acertos e falhas, a política já foi reconhecida pela ANP e pelas empresas fornecedoras como um marco decisivo no desenvolvimento nacional. A agência e a cadeia de bens e serviços continuam reiterando a importância do conteúdo local para a indústria brasileira, mas a Petrobrás acredita que seja necessária uma remodelagem na forma de implementar os índices e as cobranças. Preocupado com a questão, o coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) e assessor da presidência da Petrobrás, Paulo Sérgio Rodrigues Alonso, vai aproveitar o momento da Offshore Technology Conference (OTC), em Houston, para buscar novas parcerias que possam fortalecer a competitividade brasileira, incentivando empresas de caráter tecnológico a virem para o Brasil e se unirem a empresas nacionais ou montarem fábricas no País.

Alonso reconhece a importância da política de conteúdo local para o desenvolvimento da indústria brasileira, mas reclama do detalhamento excessivo das planilhas estabelecidas para o cumprimento dos índices exigidos, afirmando que assustam os investidores estrangeiros; conta que em alguns casos a estatal optou por descumprir os percentuais, mesmo correndo o risco de pagar multas, quando considerava que cumpri-los poderia atrasar muito a produção; e critica a exigência de alguns itens que não são produzidos no Brasil. Ele cita como exemplo a exigência de sondas de exploração ainda em contratos da 2ª rodada, ressaltando que não havia – e ainda não há – sondas nacionais para atender à demanda das áreas exploratórias. Além disso, busca uma maior flexibilização do que pode ser considerado como conteúdo local quando se trata de investimento estrangeiro. Essa maior relação de empresas brasileiras com estrangeiras será o tema principal de sua apresentação durante o seminário técnico organizado pela estatal em paralelo à conferência,  no dia 4 de maio, em Houston, nos Estados Unidos. A partir das 14h50, no Crowne Plaza, o executivo ministrará o painel “Marine Demands for 2020-2030: Local Content and opportunities in a new enviroment” (Demandas marítimas para 2020-2030: Conteúdo local e oportunidades em um novo ambiente de negócios, em tradução livre). Nele, a Petrobrás tentará atrair empresas estrangeiras para o Brasil, para aumentar a competitividade nacional e produzir equipamentos que nossa indústria não fabrica ou não atende totalmente a demanda.

Quais são os maiores desafios hoje para o avanço do conteúdo local?

A nossa indústria tem respondido adequadamente às demandas de conteúdo nacional, conforme determinado pela ANP, mas nossa política, que é uma das mais maduras do mundo, está muito propícia para aprimoramentos. É preciso que a indústria nacional dê um salto de inovação, competitividade e produtividade. Outro ponto a ser desenvolvido, em longo prazo, é a proximidade com a academia, trazendo mais para perto as universidades. No curto prazo, é preciso se associar a empresas estrangeiras de reconhecida competência. Para atrair estas empresas, a política de conteúdo nacional tem que ser mais flexível.

De que maneira?

Um exemplo de flexibilização seria o reconhecimento de investimentos de empresas estrangeiras feitos no Brasil como conteúdo local. Outra questão que precisa de aprimoramento são as nossas planilhas de conteúdo local, atualmente muito complexas, assustando o investidor estrangeiro. Há um detalhamento excessivo de itens e subitens que devem ter níveis de conteúdo local muitas vezes inexequíveis. Por fim, acho que a questão do perdão pelo não atingimento do conteúdo local deve ser melhor estudada e tem que haver uma regulamentação clara dos casos em que este perdão pode ser aplicado.

A Petrobrás faz questão absoluta de cumprir completamente seu conteúdo local, mas muitas vezes não é possível, já que a indústria nacional não está desenvolvida o suficiente para atender as demandas que surgem. Os índices exigidos tornam o produto nacional muito caro, sem métrica com as empresas internacionais.

Nosso desafio é aprimorar uma política muito boa, que deu resultados ótimos, mas que deve passar por algumas mudanças. O conteúdo local deve ser um instrumento para alavancar a economia brasileira, sem significar ser uma política protecionista da nossa indústria.

O que é preciso fazer para melhorar a produtividade dos estaleiros nacionais e fazê-los competir, em termos de custos e de prazos, com a indústria internacional de construção naval?

Cinco fatores são fundamentais. Primeiro, o planejamento e gestão. Devem investir profundamente em planejamento e gestão nas suas obras. Ainda se percebe que estão muito distantes dos estrangeiros neste quesito. Segundo, capacitação do pessoal técnico e de supervisores. Temos que continuar investindo no preparo do pessoal, caldeireiros, mecânicos, soldadores, instrumentistas, eletricistas etc. A formação dos trabalhadores de cargos técnicos na indústria de petróleo e gás brasileira é baixa. Em média, estas pessoas não têm mais de seis a oito anos de instrução. Em outros países, como Chile e Argentina, a média é de 11 a 13 anos de instrução. Isso porque não vou citar os níveis alcançados em centros de referência, como EUA e Alemanha. Um terceiro ponto é a integração da cadeia de suprimento. Isso significa que um estaleiro para construir megablocos se supre de uma série de pequenas peças que, normalmente, nos grandes estaleiros do mundo todo, vêm de outros pequenos que ficam no entorno. No Brasil, quando perdemos nossa condição da década de 60, época em que fomos o 4º parque de construção naval do mundo, perdemos a possibilidade de ser uma indústria de excelência.

O que é necessário para retomar este post0 na sua visão?

Para alcançarmos esta condição, é preciso integrar uma cadeia que está dispersa. Voltando aos cinco pontos; em quarto lugar, temos a recuperação da engenharia industrial. A engenharia no Brasil sofreu muito e ainda está em processo de falência, tanto em termos de projeto básico, como de detalhamento e de fábrica, na qual se faz construção e montagem. Esta engenharia de chão de fábrica tem que passar por um processo de melhoria, como desenhos otimizados que podem poupar tempo, fazendo as obras saírem mais rápido e melhores. Um último aspecto é a automação da construção e montagem. Técnicas que ainda deixam a desejar em comparação com a de estaleiros japoneses e coreanos. A construção ainda é muito manual no Brasil. É preciso implantar um sistema de construção e montagem robotizada, bem como qualificar uma equipe de retaguarda que dê suporte à operação dos robôs, porque quando há algum tipo de problema ele tem de ser rapidamente substituído e consertado para manter sua eficiência.

Como tem sido o desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais (APL) no relacionamento da Petrobrás com as pequenas empresas?

Nós temos cinco APLs: Suape (PE), Maragogipe (BA), Vale do Aço (MG), no Rio de Janeiro (na região do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e na Refinaria Duque de Caxias) e, por fim, no Rio Grande (RS). Todos eles estão indo muito bem, com especial destaque para os APLs gaúcho, mineiro e pernambucano. Este projeto é desenvolvido junto com BNDES e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e segue um conceito adotado exaustivamente no boom eletrônico da Coréia e da Malásia. Nele, há uma concentração das micro, pequenas e médias empresas, e o estado que sedia o APL oferece estrutura – terreno, energia, água, e, muitas vezes, toda infraestrutura viária e logística. O APL fomenta o surgimento de diversas empresas em uma região, criando um polo, com equipes técnicas que precisam se alimentar, vestir, dormir etc.

O senhor cita o APL do Rio Grande como bem sucedido, mas vemos uma série de demissões e atrasos nos projetos lá desenvolvidos…

Há uma redefinição dos projetos de 28 sondas, por conta da questão da Sete Brasil. Tem que se deixar claro que a indústria do petróleo é muito dinâmica. Em oito meses, o barril do petróleo despencou de US$ 120 para menos de US$ 50 em alguns momentos. Todas as empresas do setor estão revisando seu portfólio, e com a Petrobrás não é diferente. Esperamos que as pessoas do APL do Rio Grande que perderam seus empregos sejam realocadas, já que foram qualificadas para trabalhar nesta indústria e que outros projetos abracem esses trabalhadores.

Qual o objetivo da Petrobrás com o seminário que o senhor irá ministrar na OTC 2015?

A Petrobrás sistematicamente tem um projeto de atração de empresas estrangeiras para atuar no Brasil, para aumentar a competitividade nacional. A OTC é uma oportunidade importante neste sentido, com mais de 3.000 empresas no mesmo evento. A Petrobrás irá apresentar, no dia 04 de maio, suas demandas navais envolvendo plataformas de produção e barcos de apoio para o mercado no período 2020-2030. Uma demanda por produtos que não são produzidos no Brasil atualmente. Nossa intenção é que as empresas estrangeiras interessadas venham para o Brasil produzir aqui, em conjunto com empresas nacionais ou não, mas aqui, gerando emprego e renda no País. Para isso, estamos levando o Consulado Americano, para que ele possa dizer como apoiar empresas americanas a se estabelecerem no Brasil. A ONIP vai para explicar como podem ser feitas parcerias com empresas nacionais.

Quais empresas já confirmaram presença no evento?

O nome dessas empresas eu não tenho comigo, mas posso afirmar que mais de 120 inscrições já foram confirmadas, mostrando o sucesso da nossa proposta.

Quais tecnologias a Petrobrás tem a intenção de incentivar a vinda para o Brasil com o evento?

Todo tipo de equipamentos importados que hoje não são feitos no Brasil. Por exemplo, sistemas de navegação, posicionamento dinâmico, bombas submersas de carga, sistemas de reabastecimento automático de helicópteros, módulos de acomodação, sistemas de controle automático de válvulas – que nós temos no Brasil, mas a demanda é tanta que precisamos de mais empresas desenvolvendo -, sistemas de compressão de CO2, entre outros.

Recentemente, o IBP se posicionou como favorável quanto à retirada do conteúdo local como quesito de oferta nos leilões. Como a Petrobrás avalia esta proposta?

O conteúdo local só foi utilizado como critério de pontuação nas rodadas de concessão. Na partilha e cessão onerosa, não. A Petrobrás vê como favorável que não seja colocado como critério de oferta. Se for, a operadora dá o seu lance ofertando o máximo para vencer, mas, depois, quando começa a operar o bloco, verifica que não é possível atingir o que prometeu, ficando aquém e tendo que pagar multa. Já se entra no jogo sem ter certeza se aquilo é possível ou não. Quando vai verificar, já está pronto para tomar multa.

A Petrobrás está cumprindo todos os índices em seus projetos?

Até agora podemos dizer que temos cumprido praticamente todos os índices de nossos projetos. Os únicos itens que não têm sido cumpridos estão na fase exploratória, no item de afretamento de sonda. A ANP tem exigido, na fase exploratória, mesmo os da 2ª rodada, conteúdo local de sondas de 27% ou 29%, não me recordo ao certo, mas não existem sondas nacionais para serem contratadas com estes níveis. As primeiras sondas nacionais seriam as 28 da Sete Brasil, mas estão atrasadas. Nem a Petrobrás, nem nenhuma outra operadora consegue cumprir este nível de conteúdo local.

A retirada de projetos do Brasil para finalização em países como a Índia e China foi especulada no último ano. Como essa saída de projetos pode afetar a indústria brasileira, que já estava se preparando para atuar nestes projetos aqui?

O que está saindo para Índia e China são partes de projetos que saíram em comum acordo entre Petrobrás e EPCistas, para que fosse possível cumprir o prazo do primeiro óleo. Uma coisa precisa ficar bem clara para a sociedade. Quando a parte de uma obra que estava sendo desenvolvida no Brasil é desviada, só há um motivo: a data de cumprimento do primeiro óleo. Naturalmente que há um sacrifício do conteúdo local, mas é feita uma ponderação de quantos dias ou meses seria atrasado o primeiro óleo, e, então, é julgado se vale a pena atrasar ou perder um índice de conteúdo nacional com a fabricação sendo acelerada lá fora.

É possível mensurar as perdas da indústria naval e de construção e montagem nacional por conta do atual momento econômico e político com a Operação Lava-Jato?

Essas perdas estão sendo apuradas e os números oficiais que a Petrobrás usará estão sendo fechados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), portanto, ainda não é possível mensurar. Esta questão foge da alçada da companhia, sendo de total responsabilidade do TCU.

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