AREVA INVESTE EM QUALIFICAÇÃO DE PROFISSIONAIS NO BRASIL E LEVA ESTUDANTES A INSTALAÇÕES NUCLEARES NA FRANÇA

Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –

andré salgadoConstruída a passos lentos, mas firmes, a indústria nuclear mantém suas atenções no longo prazo. O setor busca hoje criar os pilares para o crescimento futuro, e é com esse foco que a Areva investe no desenvolvimento das bases do mercado brasileiro. No início deste mês, a empresa promoveu no Rio de Janeiro a final do concurso EDF-AREVA Public Acceptance Competition, que incentivou alunos da UFRJ a desenvolverem projetos de estímulo à aceitação pública da energia nuclear no Brasil. Agora, começam os preparativos para levar os vencedores do concurso às instalações da empresa na França, onde irão visitar, na semana de 25 de junho, usinas nucleares, uma planta de reciclagem de combustível e o World Nuclear Exhibition (WNE), principal evento mundial do setor, que irá reunir 700 empresas e representantes de diversas áreas da cadeia global para debater novos negócios em Paris.

De acordo com o diretor da Areva na América do Sul, André Salgado, o momento é de promover a formação de profissionais brasileiros nessa área e ampliar as bases do mercado nuclear no país. Com foco na retomada de investimentos nos próximos anos, a empresa busca hoje reestimular a indústria nacional de fornecedores e debater novos modelos que viabilizem as metas traçadas pelo governo quanto à construção de novas usinas. “Hoje há um consenso de que os investimentos necessários ao futuro do programa nuclear precisam da iniciativa privada. A forma como isso vai acontecer está em estudo”, afirma o executivo.

A visita será feita pelas alunas Fernanda Werner e Paula Rodrigues, vencedoras do concurso, e Monise Boaro, ganhadora do prêmio Jr. Poster Session da International Nuclear Atlantic Conference (INAC).

Como será a visita dos estudantes às instalações da Areva?

Eles vão a Paris e lá temos um guia para os escritórios da Areva, que fará a apresentação dos projetos e o planejamento para a semana. Em seguida eles vão para uma cidade no norte da França, onde visitarão a planta La Hague, que faz tratamento de combustível usado, como uma reciclagem. Ela faz o tratamento, separa o urânio que pode ser reutilizado, separa o plutônio e isso pode ser recolocado na fabricação. Próximo a esse local, está o reator Flamanville II, um EPR de nova geração que a Areva está oferecendo no mundo e que eles poderão visitar. É uma boa oportunidade de conhecer um projeto em construção.

Depois disso, vão viajar e fazer uma visita à planta de componentes pesados Le Creusot, que conta com reatores e geradores a vapor. Próximo a essa fábrica há um centro de treinamento para manutenção das plantas de geração nuclear, o CETIC, que também é uma visita interessante.

Terminada essa visita na quarta-feira, eles voltam para Paris e na quinta-feira visitarão a World Nuclear Exhibition (WNE), principal evento do setor no mundo, que irá reunir mais de 700 empresas. Além disso, na sexta-feira farão visita à usina de Gravelines, que está em funcionamento e é uma das maiores plantas da Europa.

O trabalho de aceitação pública desenvolvido pelos alunos será aplicado pela Areva?

A ideia é que não seja nossa prioridade, não é a Areva que vai desenvolver. São projetos de aplicação, muitas vezes, por parte do próprio governo. O tema dizia que era necessário, para a construção de uma planta, convencer uma população e fazer com que ela entenda os benefícios da energia nuclear. As respostas foram as mais diversas e são ideias que vamos fomentar para que sejam utilizadas, mas não diretamente pela Areva. A Eletronuclear achou os projetos muito interessantes e disse que poderiam usar no futuro.

O senhor enxerga um desafio maior no Brasil para a aceitação da energia nuclear?

Eu não acho que seja pior que em outros lugares, mas acho que existe pouco conhecimento em relação a isso. O que precisamos fazer é transmitir isso para a população, e temos trabalhado nisso com a Abdan. Precisamos trabalhar as instituições para que elas desenvolvam isso, abordando temas como as áreas que podem ser utilizadas para novas usinas, quais os sites no Brasil e onde é possível pelas condições.

A Areva acompanha esse estudo de novas áreas no Brasil?

Estamos acompanhando. A Areva está presente no Brasil há muitos anos, desde Angra 2, e temos um diálogo bem aberto com a Eletronuclear. Nós temos contribuído dentro do que é possível com esses estudos. Em 2014, lançaram o processo de solicitação de informações a diversos players do mercado, com dados sobre cada tipo de reator, para que possam fazer as avaliações necessárias. Nós recebemos esse processo juntamente com a EDF, e isso está agora nas mãos da Eletronuclear, que vem estudando como levar adiante.

Como está sendo feito esse processo?

Estão fazendo estudos para ver onde podem ser implantados reatores para geração nuclear, e perguntaram para os fabricantes as características técnicas de seus reatores. Nós respondemos por dois: EPR e Atmea. É uma análise técnica.

Qual modelo de investimentos o senhor considera viável para a entrada de investidores privados no setor brasileiro de energia nuclear?

Essa é uma discussão grande. Na verdade, hoje há um consenso entre diversos atores com quem conversamos de que os investimentos necessários ao futuro do programa nuclear precisam da iniciativa privada. A forma como isso vai acontecer está em estudo durante a gestação desse plano. Nós estamos participando, dentro da Abdan, de discussões com membros do setor para avaliar diversos modelos e determinar os prós e contras de cada um. Não existe modelo definido ou preferido. O que fazemos é dar nossa contribuição em função da nossa experiência em outros países.

Existe hoje um diálogo da Areva com a Eletronuclear nesse sentido?

A Eletronuclear faz parte da Abdan, então ela tem participado da discussão. Não tão diretamente, mas sim. No meu entendimento, em função de todas as mudanças no contexto da infraestrutura no Brasil, isso não está na pauta do Ministério hoje. Mas para o futuro, sim, será levado a nível de Ministério, e é esse o objetivo da Abdan.

Quais são hoje os principais projetos desenvolvidos pela Areva no Brasil?

Nós temos trabalhado fortemente na preparação para o futuro programa nuclear brasileiro. Começamos, no ano passado, promovendo o Supplier Day, que é um jeito de informar ao mercado as demandas de uma planta nuclear do nosso tipo, com objetivo de cadastrar e qualificar fornecedores para, no futuro, contratá-los. Um dos pilares desse projeto é a localização. Nós entendemos que é extremamente importante a fabricação de partes do reator no Brasil. Temos participado de seminários, palestras e eventos divulgando nossa tecnologia, e no bojo disso tudo há o foco no desenvolvimento de pessoas.

Foi também com esse foco que fizemos nossa parceria com a COPPETEC da UFRJ, que tem como objetivo trazer informação. Nós já realizamos alguns workshops e trouxemos profissionais de fora que fizeram palestras sobre a tecnologia Areva-Atmea. Temos a intenção de promover, com isso, a formação de profissionais brasileiros na França. Hoje temos dois brasileiros que estão dentro da Areva, na França, em programa de intercâmbio de universidades brasileiras.

Como avalia o atual quadro de fornecedores do setor nuclear no país?

O programa nuclear brasileiro sofreu uma interrupção, mas nós tínhamos uma cadeia robusta, alguns anos atrás, com Angra 1 e 2. Uma parte disso deixou de existir porque não havia novas plantas sendo construídas. O esforço agora é requalificá-los. Os fornecedores não estão acostumados ao setor nuclear, e precisam ser qualificados para atender às certificações necessárias.

Qual é o planejamento da Areva para os próximos anos no Brasil?

Na indústria nuclear, trabalhamos com prazos mais longos e sabemos que temos que fazer o trabalho hoje. Queremos continuar trabalhando na divulgação de tecnologias e na promoção das bases profissionais para o futuro. A energia nuclear vai ser um player importante no crescimento da matriz energética brasileira, até para garantir a possibilidade de crescimento das energias renováveis, que hoje estão atrativas. Precisamos de segurança, de energia de base, e a energia nuclear tem papel importante em atender a essa demanda.

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