STATOIL REFORÇA PESQUISAS NO BRASIL E PLANEJA APLICAR NOVAS TECNOLOGIAS EM PEREGRINO

Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) –

_20150901_043143Fundado em 2011, o Research Center Rio da Statoil foge do ideal imaginado quando pensamos em um centro de pesquisas. No conceito desenvolvido pela companhia norueguesa não há um laboratório com cientistas trabalhando, mas há fomento a esta atividade em empresas e universidades brasileiras. Valendo-se da cláusula que obriga concessionárias a investirem 1% da receita bruta de campos de petróleo em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P, D&I), a Statoil viu uma oportunidade no Brasil para desenvolver pesquisas de interesse local – entender melhor o pré-sal e aumentar a recuperação de óleo nos campos – e global – ser referência mundial em gerenciamento de CO2 -, gastando mais de R$ 100 milhões em pesquisa desde a abertura do centro, de acordo com o responsável pelo RCR, Fabiano Lobato. Hoje, um dos projetos mais ambiciosos no Research Center Rio é a criação de uma unidade experimental, em Peregrino, para a aplicação offshore de todo o conhecimento e tecnologias desenvolvidas pelo RCR em injeção de polímeros, para aumento da recuperação de óleo. Outra área destacada pelo pesquisador dentro do conceito do RCR da Statoil é o intercâmbio intelectual promovido, através da vinda de pesquisadores noruegueses para workshops no Brasil e envio de estudantes brasileiros para estudo e estágio na Noruega.

Como é a relação da Statoil com pesquisas?

A Statoil é uma empresa referência em desenvolvimento de tecnologia para o mercado de óleo e gás, desde a sua fundação, já que teve de superar diversos desafios no Mar do Norte. Portanto, pesquisa está na história da Statoil, principalmente na busca por tecnologias e soluções para garantir eficiência de produção e recuperação avançada de petróleo. Nosso maior centro de pesquisas fica na Noruega, mas temos outros de grande porte na China e no Canadá, além de centros de pesquisa menores em Austin (EUA) e no Rio de Janeiro. Ao todo, a companhia emprega cerca de 700 pessoas na sua área de pesquisa, sendo onze no Brasil. Ainda com um valor do barril de petróleo a aproximadamente US$ 100, a Statoil destinava anualmente cerca de US$ 500 milhões por ano a pesquisas.

Como e quando surgiu o Research Center Rio (RCR) da Statoil?

No Brasil, o projeto de um centro de pesquisas surgiu em 2009, quando começaram algumas iniciativas dentro da companhia para desenvolver tecnologias para o campo de Peregrino, no qual a Statoil é operadora com 60% dos ativos (os outros 40% pertencem à Sinochem). No local, o petróleo é muito pesado, com 14º API, além de uma viscosidade muito grande, o que requer que o óleo seja aquecido, passe por um processo de separação complicado, entre outras questões. Este é o maior campo da Statoil fora da Noruega, então é muito importante para a companhia que ele tenha bons resultados e pudemos recentemente comemorar a marca de 100 milhões de barris de óleo produzidos em Peregrino. O campo pode ser encarado como o pontapé inicial das pesquisas da Statoil no Brasil, por conta da obrigação nos contratos da Agência Nacional do Petróleo (ANP) com os concessionários para que 1% da receita bruta seja destinado para PD&I. A companhia enxergou mais que uma obrigação nessa cláusula, mas viu também uma possibilidade de expandir a visão de pesquisa como um todo.

Quais são as áreas de pesquisa desenvolvidas pela Statoil no Brasil?

Nós contamos com cinco áreas: Caracterização de Reservatórios Carbonáticos, Recuperação Avançada de Reservatórios, Engenharia Submarina, Gerenciamento de CO2 e Projetos Especiais. A primeira delas pretende entender melhor a exploração, caracterização de reservatório e a produção em reservatórios carbonáticos depositados no pré-sal e no pós-sal. A questão do gerenciamento de CO2 já é algo que a Statoil é referência mundial e temos desenvolvido uma tecnologia que separa o CO2 do gás natural e depois reinjetamos o dióxido de carbono em um outro resevatório. Em uma recente visita ao Brasil, um executivo da holding afirmou que deseja fazer da companhia a empresa energética mais eficiente em CO2 do mundo. A linha de pesquisa de recuperação avançada tem um projeto que aponta uma possibilidade enorme de injeção de polímeros em poços, o que pode aumentar bastante os níveis de recuperação de óleo, especialmente o pesado como o de Peregrino. Nós temos um desejo de desenvolver uma unidade experimental em Peregrino para a aplicação offshore de todo o conhecimento e tecnologias do RCR, mas isso ainda depende da aprovação da área de Operações, além de autorização por parte da ANP. Esse empreendimento poderia abrir espaço para um grande número de empresas se capacitarem na área, já que no Brasil não temos quem produza polímeros ou bombas injetoras, por exemplo. A Engenharia submarina é voltada para os desafios em águas profundas e no pré-sal. A área é muito importante por conta dos seis blocos que a Statoil garantiu na 11ª Rodada, em lâmina d’água de 1.800 metros a 2 mil metros. Outros projetos desenvolvidos são de linhas flexíveis com materiais compostos, como a fibra de carbono, e o tratamento de água marinha para injeção em poços. Por fim, os Projetos Especiais se referem mais ao lado acadêmico da Statoil, que oferece bolsas de estudo para alunos de graduação, mestrado e doutorado, em parceria com a Capes/CNPq, além do curso gratuito de Interpretação Sismoestratigráfica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Qual o principal objetivo da área de Projetos Especiais?

É uma área voltada para a qualificação de novos quadros do setor. No último ano, 200 alunos de graduação, mestrado e doutorado foram para a Noruega, 100 deles com suas bolsas pagas pela Statoil. Desses, 40 foram escolhidos para estágios de verão, no qual puderam passar um mês trabalhando no escritório-sede da Statoil. Além das bolsas, há também o curso em Interpretação Sismoestratigráfica na Uerj. Nele, já formamos 60 alunos e no final de setembro abriremos a nossa terceira turma.

Há alguma área prioritária? Quantas pesquisas estão sendo desenvolvidas?

Acredito que todas as áreas tem sua relevância para a Statoil dentro do seu contexto. A questão do CO2, por exemplo, é algo apontado mundialmente pela companhia e a parte de exploração é mais voltada para uma questão brasileira, o pré-sal. Ao todo, são 20 projetos que estão sendo desenvolvidos, divididos da melhor maneira entre as áreas.

Em 2014, a Statoil foi finalista do Prêmio ANP de Inovação Tecnológica. Pode contar um pouco sobre o projeto?

Nós desenvolvemos uma tela premium junto ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), da Unicamp, e à Adest. No laboratório da universidade, foi desenvolvida uma tecnologia para soldar dois materiais diferentes, formando uma tela de proteção contra areia. Nós vimos potencial na tela e decidimos fomentá-la, que já passou por algumas fases de qualificação, mas outras ainda são necessárias. Essas fases subsequentes são necessárias para que a tecnologia esteja operacional e no mercado, mas a Statoil não tem mais participação nesse processo.

Quais tecnologias desenvolvidas no RCR já estão sendo utilizadas pela Statoil?

O centro de pesquisa ainda é muito recente, mas damos muita importância para a parte de exploração, ajudando na definição de área de reservatório, colaborando para o entendimento da descoberta de Macaé, que está abaixo de Peregrino, e como isso pode potencializar ainda mais o reservatório. Dois projetos estão sendo desenvolvidos na Unicamp quanto a polímeros para modelagem de reservatórios e apostamos bastante neles. A área subsea é ainda mais recente, aberta no início de 2014, e o portfólio ainda está sendo montado, mas posso destacar um projeto de compressor submarino que vem sendo desenvolvido com a Aker Solutions e tem tido bons resultados, aumentando o volume de separação. O RCR já tem entregue bons resultados para a Statoil, como no entender do que é o pré-sal. Isso é muito importante para que a companhia esteja pronta para se envolver em projetos do pré-sal, se assim achar interessante. Cabe à área de pesquisa deixar a companhia sempre pronta para todos os tipos de desafios.

Com quais universidades e empresas o RCR tem parceria?

São muitas as universidades e empresas, mas, citando por alto, podemos falar da Uerj, Unicamp, Ufrj, Usp, Ufsc, Ufba, Puc-Rio, além das empresas DNV-GL, Petrobrás, Adest, Sinochem e estamos iniciando conversas com a BG. Cada uma das universidades tem uma linha de pesquisa específica da Statoil sendo desenvolvida.

Como funciona um centro de pesquisa com 20 projetos e apenas 11 empregados?

Quando a Noruega iniciou a exploração de petróleo, o governo chamou empresas estrangeiras para o país, levando com eles tecnologias e desenvolvendo empresas locais para o mercado de óleo e gás. A mesma lógica está sendo replicada pela Statoil no Brasil, trazendo funcionários da Noruega para workshops no Brasil, espalhando o conhecimento pelo país em diversas universidades. Na Unicamp, por exemplo, a cada dois meses nós trazemos pesquisadores noruegueses, como em julho, quando quatro vieram para o Brasil discutir os projetos que estão sendo desenvolvidos com os estudantes brasileiros. O investimento é alto no RCR, com mais de R$ 100 milhões investidos desde 2011 até hoje, um valor acima do 1% obrigado em contrato. Os projetos são fomentados pela Statoil em empresas brasileiras e universidades brasileiras, gerando mão de obra qualificada e melhorando o conteúdo local.

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