REGULARIDADE NA OFERTA DE ÁREAS EXPLORATÓRIAS PODE IMPULSIONAR CRIAÇÃO DE PETROLEIRAS NO BRASIL

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Renato Bertani, CEO da Barra EnergiaEm poucos anos, calcada em nomes de peso e numa estratégia focada na disciplina, a Barra Energia conquistou seu espaço no mercado de petróleo brasileiro. Com compromissos de aportes de investidores – entre eles os fundos Riverstone e First Reserve – da ordem de US$ 1,2 bilhão, até agora gastou cerca de metade do montante, mas conta em seu portfólio com áreas de grande destaque. No bloco BM-S-8, onde possui 10% de participação, as expectativas são grandes, já que em 2013 foi identificada uma coluna de 471 metros de óleo leve no poço de Carcará. Agora o planejamento deve incluir um poço para delimitação da descoberta em 2015, a depender do cronograma da Petrobrás, operadora do bloco. Ainda no BM-S-8, há outro prospecto, denominado Guanxuma, que também desperta ansiedade, já que apresenta uma geologia parecida com Carcará, mas a previsão de seu primeiro poço exploratório, previsto para 2015, também depende da estatal brasileira. Em Atlanta e Oliva, no bloco BS-4, o trabalho já está mais adiantado, e a produção deve começar no fim de 2015 ou no início de 2016, a depender da entrada em operação do FPSO que será contratado. Atualmente a unidade está em fase de licitação e as propostas devem ser entregues até o início de setembro, mas os estudos dos dois poços de Atlanta avaliaram um produção da ordem de 12 mil barris por dia em cada um. O CEO da Barra Energia, Renato Bertani, conta que o planejamento da empresa é ter um “crescimento seletivo” nos próximos anos, com foco nas áreas do pré-sal, e diz ter liquidez para adquirir participações em novos blocos. Além disso, ressalta a importância da previsibilidade dos leilões de áreas para a indústria de petróleo brasileira se desenvolver. Na visão de Bertani, essa regularidade poderia dar espaço para a criação de muitas novas petroleiras no país, com modelos de negócios similares ao da Barra Energia: “Se tivermos uma sequência de rodadas de forma continuada, o Brasil vai atrair cada vez mais investimentos, porque o potencial seguramente existe”.

Como está o cronograma da Barra Energia para este ano e o próximo?

Continuamos com o plano de investimentos nos dois blocos, com a descoberta em Carcará, e os campos de Atlanta e Oliva. Como a Queiroz e a Petrobrás (sócias no bloco BM-S-8) têm ações em bolsa, não posso dar muitas informações, mas basicamente o que pretendemos é iniciar a perfuração de um poço para delimitar a descoberta de Carará, provavelmente no próximo ano. No BS-4, concluímos o teste de dois poços de produção, e estamos agora conduzindo a licitação para contratar o FPSO, para começar a produção do Atlanta no final do ano que vem ou no início de 2016.

Como está o processo de licitação do FPSO? Será o mesmo para Oliva?

Estamos bem avançados nesse processo. Esperamos ter as propostas comerciais até o final do mês ou no início de setembro. Da maneira como vemos, Oliva deverá ser um satélite, com inicio da produção um pouco depois de Atlanta, porque talvez Oliva não comporte um FPSO independente.

Quando serão as próximas perfurações?

Vão ser planejadas dentro de um cronograma que faça sentido em função do FPSO que venha a ser contratado. No plano de desenvolvimento temos até 12 poços, sendo que dois já foram perfurados. O cronograma vai ser estabelecido em função do FPSO. Não queremos furar nem muito antes, nem depois.

Tem exigências de conteúdo local para o FPSO?

Esse é um bloco da rodada zero, então não tem conteúdo local definido.

Qual deve ser a produção inicial com a entrada em operação do FPSO?

Os dois testes que fizemos nos dois poços avaliaram um indicativo de que podemos ter produtividade do limite superior da estimativa de 6 a 12 mil barris por poço. Os testes indicaram que essa capacidade está próxima do limite superior, eventualmente até podendo passar um pouco.

No início do ano, especulou-se que a ConocoPhillips estaria negociando uma associação à Barra Energia. Houve alguma negociação neste sentido?

É pura especulação.

Há perspectivas de novas parcerias com outras empresas?

A Barra continua executando seu plano de investimentos. Agora, conversas com companhias para discutir farm-in e farm-out, compra e venda, são coisas rotineiras. Tanto há empresas que nos procuram para potenciais parcerias, como nós também conversamos com outras. É uma coisa rotineira. Mas não temos nenhum processo de venda de ativos. E temos um potencial de reservas de valor que pretendemos capturar com as próximas atividades. Com os investimentos que vamos fazer, de forma a confirmar o potencial da descoberta de Carcará e os prospectos vizinhos de Carcará.

Quais prospectos?

Temos um prospecto chamado Guanxuma, que é geologicamente semelhante a Carcará, então é uma das possiblidades que existem. Mas ainda não foi perfurado. Possivelmente para o próximo ano será. Temos uma intenção, mas não temos uma data firme. Depende muito do cronograma da Petrobrás, que é a operadora do bloco.

Estão buscando novas áreas para o portfólio da Barra Energia?

A Barra continua olhando outras oportunidades, de participar em outras áreas, mas procuramos fazer isso de forma extremamente focada e seletiva. Temos uma área foco, que é principalmente o pré-sal, e temos muita disciplina de capital na hora de decidir por novos projetos. Procuramos novas oportunidades e continuaremos assim, mas sempre com muito foco e seletividade.

Se os leilões voltarem no próximo ano, a Barra pretende participar? Precisaria de novos aportes para isso?

Vamos analisar, certamente, mas fazer ofertas ou não, vai depender do que concluirmos sobre as áreas. Nós temos uma situação muito confortável de liquidez. Temos um compromisso dos nossos investidores de aproximadamente de US$ 1,2 bilhão. Até agora investimos aproximadamente metade disso, então a nossa situação dá tranquilidade para os investimentos dos nossos blocos e ainda temos espaço para incorporar novos projetos, se acharmos projetos adequados, com as taxas de retorno adequadas. É muito importante as empresas terem essa disciplina de capital. É saudável para todos. Disciplina é a melhor técnica possível na hora de tomar decisões em uma área tão complexa como a de exploração e produção.

Em relação a isso, a OGX – agora Óleo e Gás Participações – foi um exemplo que acabou tendo problemas sérios no mercado. Eles continuam sócios de vocês no bloco BS-4, mas no início do ano houve especulações de que a Barra e a QGEP iriam adquirir a participação deles no bloco ou então buscariam interessados em substituí-los. Existe algum plano neste sentido?

Não me cabe comentar sobre eles. O que posso dizer é que no bloco BS-4 estão totalmente adimplentes, estão pagando as contas. A parceria está progredindo, então não temos hoje uma razão específica para aumentar a nossa participação. Temos uma boa participação. E também é um belíssimo projeto, mas precisamos ter um certo nível de diversificação. Concentrar demais em um projeto não é uma boa estratégia. Estamos muito felizes com nossa situação no BS-4. Nosso plano hoje é manter a atual participação, mas não posso falar por eles.

Mas existe algum plano de buscar interessados em comprar a parte deles?

Nem nos caberia fazer isso. Se eles quiserem, quem tem que fazer isso são eles.

Como a Barra vê seu crescimento nos próximos anos?

Vemos um crescimento seletivo. Continuamos olhando muito seletivamente. Uma coisa importante de se dizer é que existe espaço no Brasil para diversas companhias do tipo da Barra. As bacias brasileiras têm potencial e acho que há um interesse significativo da indústria internacional pelo Brasil. Então, no momento em que voltarmos a ter uma série de leilões continuados, de forma previsível, é bem factível que muito mais companhias, tanto grandes, quanto médias, possam se interessar em investir aqui. Se tivermos uma sequência de rodadas de forma continuada, o Brasil vai atrair cada vez mais investimentos, porque o potencial seguramente existe.

Quais são os pontos mais importantes para a atração destes investimentos?

Seria importante que os leilões incluíssem áreas de diversas naturezas, de risco alto, médio e baixo, e de demandas de capital também desde relativamente baixas, em terra, até mais altas, como em águas profundas. Poderia atrair e criar oportunidades para uma grande lista de companhias, desde as pequenas até as majors. Seria saudável para a indústria de petróleo no Brasil.

Qual seria o melhor formato para um cronograma de leilões no Brasil?

Depende. Se fosse um leilão com áreas distribuídas, variando da pequena exposição até a alta, um leilão por ano poderia ser suficiente, desde que tivesse uma quantidade de áreas maior. Ou então um para cada. É difícil estabelecer. O ideal é que haja essa variação. Um leilão anual, com oferta abrangente de áreas, já é um bom começo.

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Ricardo MaçolBreno Medeiros Recent comment authors
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Breno Medeiros
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Breno Medeiros

Poderiam ter perguntado qual o impacto da periodicidade dos leilões a política de desenvolvimento de fornecedores da cadeia produtiva no Brasil.

Ricardo Maçol
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Ricardo Maçol

Gente séria que trabalha sério só pode mesmo colher resultados como os apresentados. Parabéns e sucesso aos amigos que lá estão.