RETOMADA DE ANGRA 3 TERÁ NOVO PASSO NA SEMANA QUE VEM E ELETRONUCLEAR ESTUDA AMPLIAR OS CICLOS DE SUAS USINAS

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

wnu1O projeto de Angra 3 terá um novo avanço no início da próxima semana. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fará os pedidos de proposta para contratação de estudos técnicos que definirão diversos aspectos sobre a obra – incluindo o valor de custo de finalização da usina. Enquanto isso, a Eletronuclear está avaliando mudanças no ciclo de recargas de combustíveis das usinas já em operação (Angra 1 e Angra 2), aumentando um pouco o período entre as recargas das plantas. Os anúncios foram feitos durante a abertura do seminário internacional World Nuclear University (WNU), organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) e a Associação Mundial Nuclear (WNA, na sigla em inglês).

O diretor de novos empreendimentos da Eletronuclear, Marcelo Gomes, afirmou durante o encontro que deve começar já no início da próxima semana o processo de contratação desses estudos (due diligence técnico e operacional) por parte do BNDES. A realização desses trabalhos está prevista para o início do próximo ano. Os futuros investidores e o empreiteiro EPCista precisam ter uma visão clara e independente sobre o status da construção. Então, isso [o due diligence] deve acontecer no início do próximo ano. E esperamos ter a implementação da modelagem da retomada do empreendimento até o final de 2021”, acrescentou Gomes.

Este novo passo estava sendo aguardado desde junho, quando o Conselho de Parcerias de Investimentos (CPPI) aprovou o relatório do comitê interministerial responsável por sugerir um modelo jurídico e operacional para a continuidade da construção da usina. Enquanto isso, a Eletronuclear trabalha também na aceleração da linha crítica das obras de Angra 3. A ideia é adiantar uma parte dos trabalhos para garantir a entrada em operação da planta em 2026. Segundo Gomes, a meta é assinar os primeiros contratos de atividades civis e eletromecânicas no primeiro semestre de 2021. O início destas atividades deve acontecer a partir do segundo semestre.

Central Nuclear de Angra dos Reis (RJ), responsável por 60% da energia consumida pelo Rio de Janeiro

Central Nuclear de Angra dos Reis

A retomada de Angra 3 é a prioridade, mas não é o único ponto de atenção da Eletronuclear. A empresa mantém também novos planos para as suas duas usinas já em operação – Angra 1 e Angra 2. O diretor de operação e comercialização, João Carlos Bastos, que também participou do evento da ABDAN/WNA, revelou os estudos sobre uma possível prorrogação nos ciclos de troca de combustíveis das duas plantas. Segundo o executivo, a medida pode ser necessária olhando para o horizonte dos próximos anos, com o início da atividade de Angra 3.

“Com Angra 3 entrando em operação, teremos que estender a duração desses ciclos de operação, para não acumularmos paradas de uma unidade junto com a outra. A intenção é que quando tivermos as três unidades operando no site, tenhamos uma ou – no máximo – duas paradas por ano”, explicou Bastos. No caso de Angra 1, a usina teria uma parada para troca de combustível em cada 18 meses ao invés dos atuais 12 meses. “A experiência americana, que é o fabricante da nossa unidade 1, já tem esse conhecimento adquirido. Então, as especificações técnicas e todos os testes requeridos pelo ASME são próprios e estão perfeitamente conhecidos para que aumentemos o ciclo de 12 para 18 meses”.

Já para Angra 2, Bastos explicou que a tecnologia alemã usada na usina não se baseia em ciclos muito longos. No máximo, as unidades com projetos germânicos operam com trocas a cada 14 meses. “O nosso ciclo de Angra 2 já está indo para 13 meses e meio. E existe um estudo para avançarmos para 14 meses”, acrescentou.

O PAPEL DA ENERGIA NUCLEAR NA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO

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Celso Cunha

As discussões do evento de abertura do WNU 2020 foram além das usinas nucleares brasileiras. Os palestrantes convidados para abrir o seminário também abordaram o futuro da energia nuclear e seu papel na economia de baixo carbono. O diretor-geral da National Institute for Nuclear Research of Mexico, Javier Palacios, afirmou que se o mundo quer cumprir com as atuais metas climáticas, será preciso investir em novas usinas de geração nuclear ao redor do globo. “O compromisso mundial para reduzir o aquecimento global em 2°C não vai ser alcançado facilmente se a energia nuclear não desempenhar um papel importante no portfólio de geração de eletricidade”, disse.

Para o Chair da World Nuclear Association Economics Working Group, Milton Caplan, outro fator importante para a escolha da geração nuclear é o alto desempenho dos reatores, mesmo dos mais antigos. Podemos ver a melhoria contínua do desempenho dos reatores em operação. Diante da necessidade de energia limpa para o futuro, podemos ver que as usinas nucleares funcionam muito bem. Mesmo as plantas com cinquenta anos funcionam de forma fantástica”, declarou. A abertura da WNU também teve a apresentação do executivo Javier Palacios, que apresentou um panorama das atuais e futuras tecnologias de reatores para geração de energia nuclear. O debate foi moderado por Orpet Peixoto, vice-presidente do Conselho Curador da ABDAN.

O segundo e último dia de palestras do WNU acontecerá amanhã (19). O evento já é considerado um sucesso pelos organizadores e recebeu 580 inscrições. O presidente da ABDAN, Celso Cunha, relembrou a parceria duradoura entre a associação e a WNA e enalteceu os resultados obtidos durante o período. “Muito obrigado a WNU por estar conosco mais uma vez. Gostaria de agradecer também aos amigos da WNA por ter realizado a WNU nos últimos 10 anos aqui no Brasil. Esta edição de 2020 está reunindo os maiores especialistas em diversas áreas”, afirmou.

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